sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Ou me arremessa a Portugal?

A Cidade
(José Carlos Ary dos Santos/José Afonso)
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
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Zeca Afonso é o autor do Hino da Revolução dos Cravos ocorrida em 25 de abril de 1974 no Portugal meu ancestral.
Da obra que deste busco encontro a cidade urbana. Não Coimbra, não Sorocaba. A cidade onde impera a dor. Como tanta dor em todo canto. E o canto desse Afonso tem lá ele um certo encanto. Ai quem me dera um pedaço dessa sua poesia. Pintava um lenço de seda. Enlaçava alguma Maria. O poema chama o poema, num enlaçar continuo, num desbravar de encantos, em que toda palavra encontra. Sentidos e mais sentidos.
Paulo Cesar Fernandes
05/11/2010

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