terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cotó - Um Pássaro Sábio

Cotó - Um Pássaro Sábio
Do livro "Crônicas do Tempo do Quanta"
Você sabe que sou um canário belga. Vivia nessa gaiola onde me davas comida e atenção. Eu cantava, e você sabe que eu cantava.
Um dia, um pardal de fala calma, desses que vocês dizem nada valer, grudou  em minha gaiola e falou sobre amizade; me explicou o que seria essa tal amizade.
Pensei, pensei, ...
Outro dia, outro pardal, fez a mesma coisa, grudado do lado de fora da gaiola me dizendo de uma coisa chamada afeto. Falou bastante e bonito.
Outra vez parei para pensar.
Outro pássaro diferente, chegou numa tarde de sol me dizendo de árvores, florestas, de coisas bonitas de saber e conhecer. Ele chamava isso de exploração do mundo, e resumiu numa palavra : conhecimento.
Pensei, pensei mais ainda....
Passa algum tempo, e nova ave me fala de solidariedade. De como isto era importante, principalmente entre seres de uma mesma espécie.
Quando este foi embora, pensei cá comigo : "Até entre seres de espécies diferentes". Sei que eu já não era o mesmo. Já não mais sabia o que pensar.
Era um dia de sol. Tu me puseras para apanhar sol e foras para teus afazeres. Em cima da gaiola para um de jeito agitado. Penas em pé, ouriçadas. Olhos também agitados. Me falou certo tempo de liberdade, da beleza da liberdade...
Enquanto este falava, foram chegando um a um, o que falara de amizade; o que me mostrara a existência do afeto; aquele que disse que o mundo era feito de coisas que eu precisava conhecer, e por último o que me contara sobre a solidariedade.
Quando este último chegou deu um pio tão forte que estremeci.
Nessa hora, todos grudaram o bico naquele lugar que você mexia para me por a comida, e puxaram, puxaram para traz, para trás, para trás, até que pude sair e ficar junto deles do lado de fora.
Sabe! Eles me chamavam de nobre. Mas enquanto voávamos por sobre as casas vendo os telhados, fiquei pensando que a nobreza está nos sonhos que acreditamos, e mais ainda, nas atitudes que estes sonhos nos fazem ter.
No vôo alto, quando todos voávamos e piávamos com alegria e prazer; eu, lembrando do que cada um tinha me contado, e o que todos tinham feito, inventei uma palavra que precisava te contar : ideal.
Essa é a palavra que vou sair contando e ensinando a todos. A todos aqueles que ainda estão presos.
Lembra de mim com saudade, mas guarda uma certeza. Com ideal eu sou mais feliz.
Cotó
Fábula escrita em 23/04/2000.

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