domingo, 29 de outubro de 2017

20171029 Cidades

Cidades

1)
Meio de tarde. Centro da Cidade de São Paulo. Eu com tarefa finda. Cansado. Jovem de todo. 
Faz tanto tempo... era moda uma "Mala 007", quadrada, companheira fiel. E se é moda é moda.
O corpo pedindo para sentar em algum lugar. 
Por "obra e graça do divino" aparece um bar com algumas mesas na calçada.
Um chopp. E me dei ao luxo de observar as pessoas. 
Os passantes um a um. Eu, a calma em pessoa.

Hoje eu digo: São Paulo é um mundo, composto de milhões de mundos inteiramente diversos.
Naquela tarde descobri isso. 
Cada pessoa ao passar tinha seu itinerário mental diferente.
Em geral o semblante era sério. Cerrado. Alguns falando sós pela rua. 
E nem se pensava em celular naqueles idos anos.
Foram algumas horas de admiração de um povo. 
Tempo suficiente para amar esse povo e essa Cidade de tantas vertentes, tantas possibilidades.
Como consegue essa multidão de desconhecidos viver em tamanha harmonia?
É uma cidade verdadeiramente intrigante.
Desse dia em diante a Cidade de São Paulo passou a ser a Minha Amante.
E não há amante, se não for verdadeiramente amada. 
Te amo Sampa!


2)
Fim de tarde na Casa Suíça.
O ponto mais alto de Cuiabá.
Minha companheira e eu em harmonia. 
Um momento de silêncio.
O horizonte vermelho da cidade. 
A cidade aberta em leque se dando ao nosso olhar.

Aconteceu algo: eu me emocionei.

Distante da minha Terra Natal. 
Mas tão carinhosamente acolhido pelos cuiabanos.
Uma casa comprada num bairro simples.
Um jardim feito por minhas mãos. 
Uma horta perfeita, feita por mim com ajuda de um amigo/irmão técnico agrícola.
Uma cadela, Laika; a mais simpática de toda Cuiabá.
Uma rede para ler os Jornais da Prelazia.
Prelazia de São Felix do Araguaia, de Pedro.
Tudo isso varreu minha cabeça, entre um assunto e outro, da fala da companheira.
A beleza da cidade sob meu olhar, me trouxe um sentimento de gratidão.
Benditos sejam os momentos como esse: quando olhamos para o alto louvando a Vida.


3)
Eu só via o forro branco, e as portas pintadas de claro azul.
Casa de Saúde Alglo Americana.
Cidade de Santos. Gonzaga. Esquina do Canal 3 com a Tolentino Filgueiras.
Um hospital todo branco.
Um hiato de esquecimento.
Uma padaria na Vila Bela em Sampa; eu sentado no chão brincando com tampinhas de garrafas.
Uma mão pequena e meio gorda com os dedos pela fresta do estrado da padaria na tentativa de pegar outras tampinhas.
Alguém me ergue, vejo o mundo do alto. 
A casa cheia.
Outro hiato. 
Eu numa mercearia na esquina da Alexandre Herculano com a Assis Correa.
Sentado no degrau da mercearia e tendo a familia na parte de cima e dentro do balcão.
Lembro do nome do rapaz das entregas: Edmundo.
Uma noite de dor de ouvido; minha mãe ao meu lado e o som do trem passando.
Dona Conceição me olhava e nada podia fazer diante de minha dor. Sofríamos juntos.
O cheiro da Dama da Noite quando a familia se deslocava para ver televisão na casa dos primos.

Outra casa na Manoel Vitorino, casa de tres andares. No andar do meio eu aprendi a ver as horas, ali ficava o rádio, a minha maior sensação.
Uma pitangueira no quintal, algumas hortaliças e as pedras do fogo para fazer sabão.
Um gramado para branquear as roupas.

Uma nova casa na Pasteur 68. 
O dono, Seu Aires, era uma pessoa boníssima, dono de um hotel na orla da praia de Santos.
Lembro de ir junto para pagar o aluguel.

Um primo constrói bem em frente, no número 67 duas casas sobrepostas.
Construiu para as tias da esposa estar mais perto dela.
E lá fui eu para a Pasteur 67 onde vivi por 25 anos.
Anos de crescimento em todos os aspectos da vida.
Anos de convivência.
De amizades perenes.
Anos de músicas e de muito Rock.
Taco. Futebol. Pião. Fubeca (bolinha de gude).
E histórias, muitas histórias.

Estagiário nas Organizações RUF, de capital alemão.
Hotel Paris no Centro de São Paulo, perto do Mappin.

Era 20 de dezembro. 
Gente alegre, em tempo de compras, e eu ali. Só.

Amei Santos como nunca em minha vida. A mãe, a família.
Nossa, como tudo isso é importante.

Dia seguinte fui pro trabalho com a mala. 
Acabou o jogo de ficar longe.
No sábado. O reencontro com a Praça da Independência.
Com o meu Café Floresta. Com o meu espaço.
Dividi essa alegria com meu irmão, com quem sempre estava junto aos sábados.
Disse a ele ser como se tivesse nascido de novo.
Santos. Minha pequena pérola entre o mar e os morros, uma vez mais te digo: Eu te amo.

De lá para cá muitas coisas importantes ocorreram.


Mas o mais importante é ter claro: São 3 as cidades do meu coração.
Cada uma delas tendo seu valor e seu calor.
Cada uma me presenteando de alguma forma.

Só posso agradecer a todos aqueles componentes de minha jornada.
Todos os Seres de ambos os lados da Vida Maior.

Paulo Cesar Fernandes.

29/10/2017.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

19810123 Sitio do Mato

Sitio do Mato


Pela manhã, parada na cidade, para barco fazer troca de chatas de carga.

E isso tomou bom tempo.


===


Barranca de rio
Pobreza em pencas
Alegria de jovens
Contato com Natureza
Visão ampla em céu azul
Horizonte verde de água e paz


É o Rio São Francisco
Em correr tranquilo
Em varrer barrancas
O Rio nosso amigo


Rio manso Rio
Remanso já se foi
Talvez outros foram junto
Ao fazer da Represa
Benefício a todo mundo?


Barranca do Velho Chico
Largo Rio sem ponte quase
Mulherio lava roupa
E meninas se iniciam "Na Arte"
Nessa Arte tão antiga
Na vida de tantas mulheres
Com mais ou menos maestria
Integrada a seu dia a dia.





Paulo Cesar Fernandes.

23/01/1981.

19810116 Ouro Preto

Ouro Preto


Incrustada entre montanhas em ladeiras
Encontramos anseio libertário
Cada pedaço de chão ou uma pedra
Dizendo uma nova libertação


Ação conjunta nas tabernas escuras
Resultou Independência
Quem sabe o tempo
Nossa vontade
O fim do medo
Nos remeta a Nova Conjuração


Que não se prenda 
Nem se limite
Se agigante a cada instante
Na fúria louca dos sedentos
De Justiça tão distantes


Em tempos idos como hoje
Necessidade não saciada
LIBERDADE a tão sonhada
Tantas vezes ultrajada


Olho o mundo vejo conquistas
Quem sabe agora
O Brasil Acorda
Tendendo ao futuro
Uma Nova Vista!


Paulo Cesar Fernandes.

16/01/1981

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Luz e Lar.

LAR. É este lugar onde, ao redor de nós, uma cúpula de energia se faz sentir mais forte, nos vemos mais confiantes diante deste mundo em transição.


É no LAR onde a Vida ganha sentido maior.


Na rua ganhamos o pão de cada dia. E é fundamental que isso aconteça.


Mas é no retorno ao LAR quando nós, almas viajantes no tempo e no espaço, abrimos nossas possibilidades afetivas e, no aconchego do seio familiar, nos sentimos verdadeiramente felizes.



Pobre de quem dá as costas ao Santuário do LAR!
Perde. Perde muito de si mesmo.


Mas é Livre para isso.

E, mesmo os juízes togados são incapazes de julgar as contingências de cada qual, nas escolhas de sua jornada.


Nos deixemos invadir por luzes superiores em todos os momentos de nossa vida.

Os NOSSOS serão mais felizes sem dúvida.
E cada um deles é um pedaço de nós a trilhar um caminho próprio.


Paulo Cesar Fernandes.

20/10/2017.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

20171012 Manuel Scorza América, no puedo escribir tu nombre sin morirme...



América, no puedo escribir tu nombre sin morirme...
.....................................(Manuel Scorza


América,
no puedo escribir tu nombre sin morirme.
Aunque aprendí de niño,
no me salen derechos los renglones;
a cada sílaba tropiezo con cadáveres,
detrás de cada letra encuentro un hombre ardiendo,
y no puedo ni cerrar la a
porque alguien grita como si se quedara dentro.



Vengo del Odio,
vengo del salto mortal de los balazos;
está mi corazón sudando pumas:
sólo oigo el zumbido de la pena.



Yo atravesé negras gargantas,
crucé calles de pobreza,
América, te conozco,
yo mismo tendí la cama
donde expiró mi vida vacía.



Yo tenía dieciocho años
yo vivía
en un pueblo pequeño,
oyendo el diálogo de musgo de las tardes,
pero pasó mi patria cojeando,
los ahogados empezaron a pedir más agua,
salían de mi boca escarabajos.
Sordo, oscuro, batracio, desterrado,
¡era yo quien humeaba en las cocinas!



¡Amargas tierras,
patrias de ceniza,
no me entra el corazón en traje de paloma!
¡Cuando veo la cara de este pueblo
hasta la vida me queda grande!



¡Pobre América!
En vano los poetas
deshojan ruiseñores.
No verán tu rostro mientras no se atrevan
a llamarte por tu nombre, ¡América mendiga,
América de los encarcelados,
América de los perseguidos,
América de los parientes pobres!
¡Nadie te verá si no deshacen
este nudo que tengo en la garganta!


                              (De Las imprecaciones, 1955

20171010 Luz no dia

Luz no dia


O vento bateu no meu dia de hoje. De alguma forma transformado em poesia.


E nada de grandioso se fez presente. 


A mesma simples vida, desfeita de todas as ilusões.


Mesmo café, almoço, andar pela Carvalho, pelo Gonzaga. Tudo normal, até mesmo banal.


O mesmo, mas tão diverso. Havia a cada momento uma dose de gratidão e produtividade.


Repito. Nada de grandioso, digno dos jornais; fogos ou outras bobagens.


É nesse fluir da vida diária onde a Felicidade se apresenta.


Esse incógnito viver, mesmo quando escrevo e publico, são publicações incógnitas. Sou sem nome. Sou sem luz. Sem um único saco puxado por toda uma vida, visando benesses. Sincero no elogio e na desvalia.


Angario mais inimigos que admiradores. Mas prefiro inimigos sinceros a um só adulador.


Este dia corrido suave. Produtivo na sua singeleza, na sua santidade por certo se religioso fosse eu.


Doce dia que finda.


Com as Taças de Cristal da Literatura Universal.


Dias como este: pequenos hiatos de luz na longa caminhada. São mágicos.


Gracias a la Vida!


Salve Violeta Parra!


Paulo Cesar Fernandes.

10/10/2017.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

20171004 Diretriz

Diretriz.


Dizem os homens que pensam: o Ser Humano é composto de um conjunto incomensurável de paixões.


E eu tendo a concordar com os pensadores. Somos sim, compostos de paixões de todos os tipos.


Porém, ao lado desse painel grandioso de paixões, temos a Razão; e junto dela a Liberdade de Escolha, ou Livre Arbítrio (para usar um termo muito a gosto dos espíritas).


A posse dessas duas ferramentas, por si só, nos permitem definir a nossa trajetória sobre a face da terra.


Mas antes, muito antes de partir para o uso de tais ferramentas, devemos ter feito uma escolha. Difícil escolha interior, a saber: Vou viver pautado por princípios éticos e racionalmente impor limites aos reclamos das pulsões; dos desejos e de toda espécie de facilidades capazes de me trazer materiais vantagens? Ou, vou abafar os reclamos da consciência, e me permitir cair na gandaia em tudo, sem a menor preocupação com nada além do meu prazer e das minhas pessoais vantagens?



E parece incrível, mas em toda a nossa vida, desde os bancos escolares vamos nos defrontar com momentos em que essas questões estarão fortemente em pauta.


Uma prova de matemática, a terceira questão pede para demonstrar uma das qualidades do triângulo retângulo. Exatamente a aula em que não pudemos estar presente pois o trânsito na cidade estava insuportável naquela manhã.



Eu sei, meu colega da frente me ajudaria, se eu pedisse, se postando na cadeira de forma mais "amigável" digamos. Peço ou não?


Quando eu, por livre decisão interior, escolher deixar em branco o espaço da questão, Não por causa do medo da professora, não por causa de nada exterior a mim. Mas escolher não responder à questão, por achar isso indigno da minha escolha de vida. Neste momento eu estarei sendo coerente com a minha escolha maior da vida: a Ética.


Muitas oportunidades serão perdidas por ter feito essa escolha. Oportunidades de emprego. 
Oportunidades de ganhos incomensuráveis. 

Oportunidade de transar com aquela mulher sensacional do Departamento de Compras que, no elevador, estando apenas os dois, disse estar se separando do marido e precisando conversar com alguém. Você ouve. Compreende perfeitamente o sentido da coisa, e lembra dos seus filhos em casa. E decide:



_ Puxa! Para momentos difíceis como esse, eu tenho uma solução genial. A minha terapeuta trabalha com terapia breve, e poderá lhe atender perfeitamente. Estou seguro. Ambas terão prazer em conhecer uma a outra.


Venceram os princípios; os valores; a escolha; muitas vezes feita em tenra idade.



_ Não. Nessa eu não vou junto com vocês meus caros amigos. Não é, não, não é mesmo a minha praia. Numa outra atividade estaremos juntos como sempre, e seguimos amigos da mesma forma, assim espero.



Os amigos vão, fazer seja lá o que seja, e você passa a noite de sexta-feira só. Mas com uma sensação de Vitória incapaz de ser aqui descrita.


Você já percebeu, né?
A Vida com "V" em caixa alta é assim.
Sendo fiel às escolhas, sendo fiel a si mesmo.
Isso é ser verdadeiramente autêntico!



Paz nos corações!


Paulo Cesar Fernandes
04/10/2017.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

20171001 Desafio

20171001 Desafio


_ Sou pequeno. Diminuto na verdade. Um verdadeiro nada.

_ ...

_ Por cima de mim passa a água; passam pés descalços; passam pés calçados.

_ ...

_ Sou o nada que a água maltrata, fazendo de mim gato e sapato.

_ ...

_ Até o dia em que me vejo finalmente seco. Mas outro tormento tem início nesse preciso momento. É o vento agora o algoz. Algoz atroz. Pois se vale de meu diminuto tamanho e falta de força para me impor sua soberana vontade. E lá vou eu empurrado para o vão da calçada; numa outra lufada me faz mudar de lugar; assim vai, brincando comigo e minha pequenez. Mudando meu lugar de forma tirana.

_ ...

_ Sou mesmo um nada!

_ ...

_ Ninguém me nota; ninguém me valoriza; vivo de déu em déu. Ninguém deposita sua atenção em mim, nem busca saber do meu modo de servir. Nem tu. Sim, tu na leitura deste texto. Pusestes algum dia teu olhar e toda tua atenção no ínfimo grão de areia desta tua Cidade de Santos?

_ ...

_ Eu bem sabia! Vês? Não existo enquanto unidade ou individualidade. Estou fadado a ser um nada, componente de um todo maior: castelo de areia; monte de areia ou dunas; parte da praia; um nada dissolto na coletividade.

_ Mas... Que queres te diga eu? - lhe disse.

_ Não me faças rir. Pensa tu. Que és? São muito maiores os vetores a comandar tua vida. Muito maiores, mais fortes e inumeráveis. O que és afinal? Pensa. 

Um silêncio dolorido me tomou. E o grão prosseguiu:

_ Por acaso te achas diferente de mim? És um iludido!


Paulo Cesar Fernandes.

01/10/2017.