terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Relembrando a ditadura

Hoje, 23/06/2009, ouvia as musicas constantes do LP Outro verão do Cesar Costa Filho e uma série de aspectos do triste momento foram sendo rememorados:
1) o terror dentro das familias que algum dos seus membros estivesse envolvido em partidos políticos, nas organizações de esquerda então nem se fala;
2) desavenças entre vizinhos convertidas en delações políticas. Na verdade a delação como um mecanismo "natural" de "expurgo" da sociedade sã. Pobres tempos;
3) a desconfiança pairando no ar. Ninguém era confiável;
4) a posse de um livro era motivo de estigma, na dúvida esses livros mais interessantes eram encapados;
5) o livro do pensador argentino Humberto Mariotti "Espiritismo e Materialismo Dialético" recebe o frouxo título "O homem e a sociedade numa nova civilização" para poder passar despercebido dos órgãos de controle do Estado;
6) "Só doi quando eu penso" era uma frase de uso frequente entre pessoas que tinham consciência crítica.
7) Lutar por uma Anistia, ampla, geral e irrestrita a todos os nossos presos políticos. E não faltavam presos políticos. Os que não eram presos políticos, eram exilados. Haviam sido mais rápidos que os órgãos de repressão do Estado se deslocando para o Chile ou para a Europa. Não sei em qual das duas situações a navalha corta mais profundamente a psique do ser humano: se como preso ou exilado.
Outras tantas aberrações:
Em 1976 fazia eu curso pré-vestibular de Linguagem Arquitetônica tendo como professores dois primos de grande sensibilidade social. Primeira vez que encontrei o Zé para pegar informações sobre Arquitetura, curso de LA, e tal lá se foram 4 horas de conversa ininterrupta. Lá no Curso Decisão na Av. Bernardino de Campos, o Canal 2 de Santos. Isto em 1976. Zé e Zico, hão de ser ainda hoje duas figuras importantes e interessantes onde quer que estejam. Naquela ocasião, para referirmos ao nosso modo de pensar usavamos o jargão "gente que pensa como a gente". Isto por longo tempo até que numa tarde de sábado Zico vira prá mim e diz:
_Porra nós somos é socialistas mesmo.
Isto estava claro para todos, mas era difícil de ser verbalizado. Estavamos de tal forma oprimidos pela propaganda oficial, pela família, pelas diversas instituições que, nem essa condição natural de pensar nos era permitida. Paulo Freire diz que o oprimido traz o opressor dentro de si. Era isso que ocorria. Lutamos muito. Lutamos muitos. Pura ideologia. Os oportunistas só chegaram mais tarde. Fomos vencendo o medo, a tirania de dentro de nós, a tirania das instituições, o torpor de muitos anos...
Obras como esta que se segue foram vitais em todo esse processo de descoberta dos próprios valores, e para definição das metas daquele momento histórico:
Anestesia Geral
Cesar Costa Filho
(LP Outro verão de 1979)
Tem 5 anos
Que você quase não fala
Que não conversa e não procura mais assunto
É o som de hoje que te embala e que te cala
Somos distantes estando sempre juntos
É mas tudo muda o que não é nenhum segredo
Sei que os dias felizes voltarão
Os enredados terão um novo enredo
E os refreados levarão esse refrão

|: Salve a mãe
   Salve a Mãe Joana Universal
   Mansão colonial assaz bonita
   Onde se aplica anestesia geral
   Ampla e irrestrita :| Bis

Tem 5 anos
Que você quase não fala
Que não conversa e não procura mais assunto
É o som de hoje que te embala e que te cala
Somos distantes estando sempre juntos
É mas tudo muda o que não é nenhum segredo
Sei que os dias felizes voltarão
Os enredados terão um novo enredo
E os refreados levarão esse refrão

|: Salve a mãe
   Salve a Mãe Joana Universal
   Mansão colonial assaz bonita
   Onde se aplica anestesia geral
   Ampla e irrestrita :| Bis

Agora, estamos chegando à democracia. Muitos passos já foram dados. Muitos ainda pela frente.
Próximo passo: Voto facultativo.
Isto consolidado, novas exigências, novas conquistas, pois viver é avançar progredir, ocupar espaços. Assim como houve um passado de obscuridade, poderemos construir um futuro mais limpo, ético, humano.
Para isso, precisamos detonar com todas, absolutamente todas as formas de autoritarismo. Para construir um futuro verdadeiramente libertário.
Fernandes, Paulo Cesar (Keine Grenze

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