quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Bazar

Na Ditadura Militar o cantor e compositor Cesar Costa Filho não foi tão festejado, como Chico Buarque de Holanda; Edu Lobo; e alguns outros. Talvez por não ter pai importante, não vir de origem burguesa, ou talvez venha, eu não sei. Sei é que apesar de seus versos candentes a "intelectualia brasiliensis" o ignorou. Fez que não o via; olhos moucos à sua arte. Arte maior como a dos demais. Esta é apenas uma entre outras peças de sua ira e de sua sensibilidade humana.

Bazar
Cesar Costa Filho
Momento o próprio tempo desfaz
O sempre é parente do nunca mais
|: E o que são os minutos
Senão diminutos frutos das horas:| Bis
Dia que se diz especial
É igual a qualquer um
Pois todo dia qualquer
No dia seguinte é nenhum
Metade é o começo do fim
Saudade demais doença rium
|: O corpo é o inútil bazar do charque
E o choque faz parte do estoque:| Bis
A alma não dá pra vender
Ninguém quer comprar nem Satã
Cansado que está de saber
Que vai ter de graça amanhã

Metade é o começo do fim
Saudade demais doença rium
|: O corpo é o inútil bazar do charque
E o choque faz parte do estoque:| Bis
A alma não dá pra vender
Ninguém quer comprar nem Satã
Cansado que está de saber
Que vai ter de graça amanhã

Corpos no Pau de Arara. Perguntas. Água gelada no corpo com sede. Choque elétrico nas partes íntimas. E, como diz o poeta o choque faz parte do estoque.
É bom lembrar disto tudo para ter a certeza profunda que nada foi em vão, nada foi em vão, nossa luta, nossa vida não, não foi em vão. Os covardes se calaram, não leram, não falaram, ainda são sombras na defesa do que aí está. Mas o que temos hoje é bem diferente daquele negro momento. Apesar dos mornos, que sempre defenderam o status quo.
O mundo que sonhamos virá. Virá sim. Mas de muitos e muitos Cesares Costa Filho, Chicos Buarque do Brasil, Zecas Afonso de Portugal, Bertolds Brecht da Alemanha. E isto assim será pois a arte empurra a vida ao caminho certo: o caminho da justiça.
Isto porque sempre os sambas viverão. Em qualquer língua, em qualquer país, muitos e muito diferentes sambas hão de viver.
O artista de verdade não vende sua alma.
Fernandes, Paulo Cesar (Keine Grenze

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