terça-feira, 31 de dezembro de 2013

20110627 Tempos

Tempos


Diferentes tempos esses nossos de PósModernidade. Um grão de areia poe o casal em antagonismo, debate, batalha e a separação afinal.


Um tempo sem paciência e de obrigatória resiliência, pois o novo sempre vem, sempre está aí, sempre invadindo nossas vidas. A favor ou contra a nossa vontade.


Os fatos e as relações são sempre efemérides; porém sempre efêmeras. Insuportavelmente rápidas em desvanecer no ar.


Nada tem consistência. É tudo qual areia fina, a nos escorrer pelos dedos por mais tentemos segurá-la nos dias de vento forte. Nos restam apenas alguns grãos na palma da mão.


Das relações matrimoniais restam as fotos amareladas pelo descaso e pelo tempo.


Mas será tudo assim?


Tenho dito já, algumas vezes que filósofos e artistas trazem em si a semente do mundo que todos sonhamos. Olham a vida como que projetados fora do corpo, capazes de ver a estrada muito adiante. Vislumbrando um futuro sequer pensado por nós outros.


Penso, aqui e agora em Reinhard Mey, poeta e músico alemão, e sua sensibilidade no que diz respeito à família principalmente e seu engajamento em lutas sociais. Alguém que aponta a esperança.


Frases musicais dedilhadas ao violão e palavras doces denotando o primor do poeta. "Sempre mais" feita para sua esposa é tocante. Por vezes penso que ele, no seu poetar aponta possibilidade de relações mais estáveis, mais seguras, mais ricas em afetividade, respeito mútuo. Onde o viver em companhia de já seja em si um poema, já seja um prêmio para ambos.


Um conviver onde cada parte seja para a outra, a grande paisagem nova, a se desdobrar cada manhã janela afora.


Paulo Cesar Fernandes

27  06  2011

sábado, 21 de dezembro de 2013

20131221 Temporalidade do Ser

Temporalidade do Ser


É no escorrer do tempo que nossa existência transcorre.

Nesse percurso aprendemos, criamos, e nos ampliamos até o ponto de alçarmos grandes voos.

E vendo do alto a Vida fica sempre mais bela.

A beleza do tempo, da História e de nossa práxis na construção de uma outra História.

Mas entre Marx e Hegel eu fico com a concepção de Hegel acerca do envolvimento do indivíduo no processo histórico.

Que me perdoe Karel Kosic. Marxista ortodoxo.

Prefiro o Idealismo Alemão.


Paulo Cesar Fernandes

21  12  2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

20131217 Paul Virílio (Velocidade e progresso

Paul Virílio   (Velocidade e progresso


O carro, o avião, o transatlântico noa trazem, com sua velocidade a sensação de progresso.


Vivemos um tempo acidental, um tempo que não é o futuro e nem o passado, sendo fundamentalmente inabitável.


A Guerra do Golfo não exixtiu.


Da Guerra do Golfo nada se viu. O progresso até o presente acelerou a história.


A política e a geopolítica é uma cronopolítica pois o transcurso Espaço-Tempo é geopolítico e cronopolítico.


Temos a instantaneidade, a ubiguidade e a imediatez chegando ao limite de nosso próprio poder. A ponto de delegarmos nosso
poder às máquinas que aumentam a velocidade ainda mais.


As guerras se tornam cada vez mais velozes.


A infantaria, a armada e a aeronáutica perdem para um vírus que desestabiliza um Estado.


Em poucas horas podemos gerar um acidente integral ao planeta.
 O acidente pode se converter em uma arma, uma arma absoluta

chamada bomba informática. Que explode no conhecimento. Um fenômeno sem igual, único e sobretudo um fenômeno que age na
velocidade da luz.


Essa velocidade global tem efeitos sobre as coisas, sobre a paz civil e a paz internacional, e é claro, sobre a economia.



Se pode haver poesia tecnológica capaz de ilustrar a melhor parte da natureza humana, ela não pode acultar a parte obscena das
redes, sua capacidade de produzir a escravidão. Assim, "Um mundo feliz" (Admirável mundo novo) de Aldous Huxley não é
impossível.



Há duas partes do conhecimento: ele em si e sua distribuição. Uma difusão capaz de criar uma massa crítica das ideias formuladas
por esse conhecimento. Nesse ponto estamos salvos.


Se tivermos uma cultura capaz de suprimir a crítica por melhor intencionada e inteligente essa centralização de controle pode
produzir erros. Uma sociedade do conhecimento distribuido nos traz segurança.


Uma das coisas mais absurdas foi o "Muro de Berlim", cuja voz mais forte foi a de Pierre Desgraupes que desconhecia em agosto
de 1961 que separaria o mundo ocidental em duas partes ao longo de 20 anos de Guerra Fria.


Caiu o Muro e a Sociedade Mundial está melhor distribuida, mas as ameaças totalitárias não desapareceram.

===


São duras as verdades trazidas por Paul Virilio intelectual frances.


Mas a vida não é feita mesmo de ilusões. Embora a ilusão tome a
consciência de grande parte da população mundial: desde o sonho de uma casamento perfeito até a compra do mais recente
modelito tecnológico, para ficar na frente de seu colega de trabalho.


Trabalhei num lugar onde as meninas da limpeza competiam para ter o celular mais moderno. Era muito engraçada a conversa delas.
Pude dar boas risadas na sala de café.


O mundo não pode ser feito de ilusões. Seja o mundo interior do Ser, seja o mundo em escala global. Há de nascer em cada espírito
e em cada Estado a capacidade de saber se posicionar críticamente diante de cada fato.


Sem isso teremos velocidade, mas uma velocidade capaz de nos fazer chegar ao desastre, como o Capitão América do filme "Easy
Rider" protagonizado por Peter Fonda na década de 60.



Paulo Cesar Fernandes

17 12 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

20131211 Alain Renaut_O indivíduo

Fichamento

Todo fichamento é uma visão particular e objetiva de uma obra. A mesma pessoa, visando dois trabalhos diferentes faria fichamentos distintos para cada uma das vertentes de pensamento a trabalhar.

Assim, esta é a minha leitura desta obra. Mas espero que seja útil a mais pessoas.

Paulo



Alain Renaut

O indivíduo: Reflexão acerca da filosofia do sujeito






Pags.: 14-17

3. Autonomia e subjetividade

Foi esse o caminho seguido por Heidegger, mediante sua desconstrução da filosofia moderna enquanto constituinte, de Descartes a Nietzsche, da “metafísica da subjetividade”. Sabe-se como essa soberania do sujeito desenvolveu-se supostamente em quatro grandes etapas e como foi atribuído papel decisivo à que, com Kant, encontrou sua tematização mais completa.


3.1.  Com Descartes emergiria a ideia de que a natureza não é permeada por forças invisíveis, sendo mera matéria-prima e
podendo, assim, ser perfeitamente dominada pela razão (tudo é suscetível de ser conhecido) e pela vontade (a totalidade do real é
utilizável pelo homem que visa a realização de seus fins): é uma concepção antropocêntrica do mundo, em que Heidegger situa
precisamente a própria essência do humanismo e para a qual se torna meio para a realização do homem.

3.2.  Com o advento do Iluminismo, parece consumar-se uma ruptura com a razão cartesiana: a ciência newtoniana refuta a
ideia de uma física a priori e parece impor à racionalidade científica o reconhecimento de seus limites. Contudo, a ciência continua a
apresentar-se como instrumento neutro, posto a serviço de fins que a ultrapassam e a partir dos quais ela encontra seu valor; quer se
trate de emancipação, quer de felicidade da humanidade.

3.3.  Admite-se que Kant, mais do que Heidegger, deu inicio a uma virada decisiva, sem deixar de reconhecer a importância e
as virtualidades do momento criticista, inscrito na lógica unidimensional da modernidade. É de fato com Kant que surge realmente a ideia de autonomia, mediante a crítica da moral da felicidade. Definida coo autonomia, a vontade moral, que é ao mesmo tempo agente e princípio (o valor supremo) da moralidade, nada quer além de si mesma enquanto liberdade que dita a lei à qual se submete. Pela primeira vez, aparece uma representação da vontade que se toma como objeto.

3.4.  A teoria nietzscheana da “vontade de poder” apenas radicalizaria o que surgira com Kant: o querer humano  cessa
inteiramente de se dirigir a um fim para se voltar para si mesmo e se tornar o que Heidegger denomina “vontade da vontade”, abrindo
caminho para a busca do poder pelo poder ou do poder enquanto tal. A universalização dessa derradeira representação do
humanismo moderno, com a qual se encerra o destino da ideia de autonomia, seria, assim, a técnica ou, se preferirmos, essa razão
puramente instrumental que já não questiona os fins e faz da vontade (ou do poder) um fim em si.


O sentido de tal desconstrução é claro: a razão de Descartes e do Iluminismo teria apenas conduzido de forma lógica, por meio de
um movimento de simples radicalização, a essa vontade de vontade, na qual a afirmação moderna do homem enquanto sujeito
(fundamento) encontraria sua realização mais perfeita; nesse sentido, a explicação kantiana do princípio de autonomia viria
simplesmente inscrever-se no seio de um percurso único e fatal, que termina com o triunfal desenvolvimento de uma tecnociência
preocupada exclusivamente com o aumento contínuo de seu poder, independentemente do preço a ser pago. Seria, então, necessário
convir que a própria essência do moderno, tal como expressa pela vocação do sujeito à autonomia, estaria em jogo até nas formas
mais aberrantes da tecnicização do mundo: longe de se poder lançar, nessas condições, uma representação da modernidade contra
outra, tudo conduziria  ao sacrifício global da modernidade e de seus valores, a começar por esse valor de autonomia, que melhor
lhe exprime a essência.


Será realmente necessário frisar que as consequências políticas de tal sacrifício parecem ameaçadoras, especialmente em função dos
estreitos laços entre autodeterminação e democracia? Segundo a lógica dessa homogeneização da modernidade, a Introdução à
metafísica, fruto de um curso ministrado por Heidegger em 1935, enfatiza a “decadência espiritual da Terra”, tal qual se manifesta
por meio do império planetário da técnica. Ao evocar os conflitos entre Oriente e Ocidente, Heidegger descreve nestes termos o
dilema em que a Europa se encontra: “A Rússia e a América são ambas, do ponto de vista metafísico, a mesma coisa; apresentam o
mesmo sinistro frenesi de técnica desenfreada e de organização inconsequente do homem normatizado.”

I. Irrupção do indivíduo


A dinâmica da sociedade democrática


Pag. 26

Sabe-se que, segundo Tocqueville, são duas as características principais desse individualismo moderno, cuja forma de expressão
política mais marcante ele parece ter encontrado na Revolução Francesa. O individualismo traduz-se em primeiro lugar pela revolta dos indivíduos contra a hierarquia em nome da igualdade.


2. Liberdade versus tradição


Pag. 28

Em seu trabalho de antropologia comparada, Louis Dumont insistiu com rigor nesse ponto: as sociedades tradicionais,
independentemente de se tratar de sociedades primitivas ou da sociedade medieval, são caracterizadas pela heteronomia. É
necessário compreender que, nessas sociedades, a tradição se impõe ao indivíduo sem ter sido por ele escolhida e nem,
consequentemente, ter sido fundada em sua própria vontade. É-lhe imposta de fora, sob forma de transcendência radical à qual os
homens obedecem como obedecem às leis da natureza. Isso faz com que a existência das pessoas esteja constantemente situada sob
a dependência dessa tradição.



Pag. 29

Pode-se esboçar aqui uma observação paralela ao raciocínio precedente: da mesma maneira como a Revolução não aboliu a
hierarquia, e mesmo engendrou outros tipos de (os da “sociedade burguesa”), a abolição desse universo tradicional que era o Ancien
Régime não deveria conduzir à abolição imediata, instantânea, de toda e qualquer forma de tradição. Ao contrário, a decomposição
das tradições deve ser entendida em correspondência a uma lógica progressiva (que a imagem da “erosão” sugere) das sociedades
democráticas. A análise dos movimentos sociais em termos de individualismo (compreendido, nesse segundo aspecto, enquanto
erradicação emancipatória das tradições) poderá, assim, continuar legitimamente até as sociedades contemporâneas, nas quais os
diversos movimentos de vanguarda, tanto no plano político como no da estética, se filiarão a essa tendência de criticar qualquer
conteúdo preconcebido e herdado em nome da liberdade dos indivíduos, em nome de sua criatividade ou de seu pleno
desenvolvimento. É mister acrescentar, ainda, que é precisamente esse segundo componente do individualismo que fornece às
sociedades modernas um de seus traços mais específicos, que consiste na contínua dissolução das referências oriundas do passado
e “transmitidas” de geração em geração; estas referências, cuja transmissão constitui a tradição, são, por definição, indefinidamente corroídas em função direta do projeto que anima o indivíduo moderno a apropriar-se das normas em vez de recebê-las. Dissolução contínua dos referenciais herdados que significa, por outro lado, a permanente revolução dessas referências.


Seguramente, é possível considerar com tranquilidade esses temas (igualdade versus hierarquia, liberdade versus tradição) como
aceitável caracterização da “era democrática” e, mais especificamente, do nosso mundo atual em sua dimensão de modernidade. O indivíduo nele se afirma simultaneamente como valor e princípio:


• enquanto valor, na medida em que, na lógica da igualdade, um homem vale outro, fazendo com que a universalização do
direito de voto seja a tradução política mais completa de tal valor;

• enquanto princípio, na medida em que, na lógica da liberdade, apenas o homem pode ser por si mesmo a fonte de suas
normas e leis, fazendo com que, contra a heteronomia da tradição, a normatividade ética, jurídica e política dos modernos se filie ao
regime de autonomia.


1. A cultura do indivíduo: Gilles Lipovetsky


Pags.: 45-46

Na medida em que a relação com a moda parece ser excessivamente arbitrária para permitir decisão, ela mesma suscita a tentação, para poder compreendê-la, de supor que, para além da liberdade aparente das escolhas, tudo obedece a mecanismos pré-reflexivos nos quais se expressariam as lógicas dissimuladas aos atores. Isso faz com que em geral os fenômenos da moda tenham sido analisados de acordo com esquemas que se referiam a condicionamentos inconscientes ou a uma orquestração subterrânea por parte dos imperativos do consumo, ao poder supostamente diabólico da publicidade e às leis da rivalidade social entre grupos
concorrentes, que buscam “se distinguir” uns aos outros. Todas essas variações giram em torno de um tema bem conhecido, que é
o da dominação do indivíduo pela sociedade: variações mais ou menos sutis, mas cuja tonalidade global é explicada, no fundo, por
essa natureza específica dos fenômenos de moda, fazendo com que a inteligibilidade do processo (inteligibilidade essa que deve ser
postulada por quem tente teorizá-lo) pareça só poder se encontrada na forma da hipótese segundo a qual haveria uma lógica imanente dos fenômenos socioculturais, lógica velada aos atores, sendo estes últimos movidos apenas pelas pressões inconscientes a que estariam submetidos pelo “mercado”, pela “sociedade de consumo”, pelos “Imperativos da produção”, etc. Enfim, é
compreensível que a moda tenha sido mais frequentemente explorada em termos de teorias da alienação – até mesmo na sociologia de Pierre Bourdieu, na qual a dinâmica da moda se configura nas lutas de concorrência entre parcelas da classe dominante desejosas de distinguirem-se umas das outras.


Pag.: 47

Lipovetsky empreendeu a completa reconstrução do que tem sido, desde o surgimento da modernidade, a trajetória do dispositivo: a
dinâmica da moda, inicialmente reservada aos meios aristocráticos, estendeu-se ao conjunto da sociedade por volta de 1880, com o
nascimento simultâneo da “alta costura” e da “confecção”, que lhe reproduz os modelos em grande escala; então, esse sistema se
decompôs, em torno de 1960, para dar lugar ao que conhecemos hoje, em que se trata mais de “parecer jovem” do que “mostrar
classe”,, de cultivar as “pequenas diferenças” concebidas menos como afirmação de um distanciamento social e mais como a
expressão de uma singularidade ou individualidade.


3. A barbárie individualista: Alain Finkielkraut

Pags.: 52-53

Toda uma corrente filosófico-literária, na qual encontramos A. Finkielkraut, E. de Fontenay ou romancistas como M. Kundera ou D. Sallenave, reagrupados em torno da revista Le Messager européen, estimou que a posição neotocquevileana é testemunha de um pensamento “colaborador”, que não quer ou não sabe perceber que as sociedades democráticas possuem taras próprias e que seu
individualismo produz novas formas de desumanidade e, mesmo de “barbárie”, tanto mais temíveis porque insidiosas e mascaradas
sob forma de um processo de emancipação da individualidade.


Pags.: 53-54

Foi, sobretudo A. Finkielkraut quem, seguindo o impulso de La Défaite de La pensée, encarnou na mídia essa condenação da
apologia neotocquevileana do individualismo.



5. Uma ética do indivíduo?


Pag.: 67

Até o Iluminismo, teria prevalecido a sujeição da moral à religião, centrada numa prática de virtude cujo motivo principal não era o
respeito ao homem, mas a submissão à vontade de Deus.
De 1700 a 1950, aproximadamente, surgiria a primeira onda da moderna ética laica que, a despeito de emancipar a moral de qualquer fundamento teológico, conservaria a noção de “dever absoluto” da fase religiosa: trata-se da era transitória da ética, que seria simbolizada por Kant e seu apelo ao sacrifício de todas as exigências individuais.


Por fim, essa segunda fase, heroica (porque fundada nos valores do sacrifício) e austera, valorizando a abnegação de si e o puro
desinteresse, teria sido concluída sob nossos olhos, mediante a reconciliação dos valores com o prazer e o self-interest. Em vez da
obrigação, interviria, a partir daí, o encantamento da felicidade: em suma, trata-se de uma ética sem mutilação do ser, apelando
menos ao espírito de sacrifício e mais ao sentido de responsabilidade, repousando, sobretudo, no reconhecimento recíproco dos direitos individuais.



Pags.: 70-72

Assim, quando Lipovetsky evoca a ultrapassagem da era do dever (e do sacrifício da individualidade) em direção a uma nova era,
que reconcilie ética e interesse, moral e indivíduo, seu diagnóstico me parece duvidoso – no fundo, por três motivos que bem
ilustram as insuficiências da perspectiva neotocquevileana:


• Longe de ser heterônoma, a moral do dever, que é intrinsecamente moderna, é de fato aquela que melhor expressa o princípio de auto-nomia de uma vontade que se submete, enquanto individualidade, à lei que ela mesma se atribuiu, por meio dessa parcela de humanidade comumpresente em cada um: a imprecisão conceitual possui aqui seu justo preço.
• Em relação a essa ética da autonomia, que é a do dever, pode-se perguntar seriamente se a ética do interesse no qual Lipovetsky enxerga o futuro da consciência moral, não representaria, ao contrário, seu passado: creio que, nesse aspecto (que evidentemente é decisivo), seja mister contestar radicalmente a periodização proposta. Lipovetsky resume a ética do interesse (ou do indivíduo) com seguinte princípio: “Liberdades privadas, ordem pública” (é perseguindo seu interesse que, na lógica pertencente à ética dos negócios, a firma Perrier contribui ao bem comum ao impor a seu produto critérios de pureza superior). Ora, esse princípio não é retomado com alusão a Mandeville (de acordo com a fórmula da Fable dês abeilles  [Fábula das abelhas]: “vícios privados, virtudes públicas”) por efeito de puro e feliz (ou infeliz) acaso, já que o modelo apresentado por Lipovetsky evoca evidentemente os precursores do liberalismo que, no século 18 e antes do pleno surgimento da moral do dever tematizada por Kant, haviam acreditado poder transformar o interesse de cada um no único impulsionador do bem de todos. Em suma, é a ética do dever
que veio retificar a ética da independência, e não ao contrário. Portanto, a periodização é falsa – fato que constituiria apenas uma
imprecisão histórica, como qualquer outra, caso o erro não denotasse, mais uma vez, confusão entre autonomia e independência.

• O que dizer, por fim, sobre a espantosa e persistente confusão entre autonomia e cuidado de si, já entrevista em benefício
das duas objeções precedentes, que serve de base a esse discurso para a pseudomoral do interesse? Não basta que a consideração
do interesse particular faça prova de inteligência para que se abra, aos Modernos, a esfera da autonomia e, portanto, da moralidade.
Entre a lógica do interesse bem compreendido e o desinteresse persiste um abismo, que separa toda forma de individualismo (ainda que inteligente) do verdadeiro humanismo: temo que suprimir essa distância ou não a perceber seja, na realidade, indicador de um fechamento singular e definitivo ao mais profundo enigma da moral, como ao da modernidade.


III. O fundamento filosófico do individualismo

A época das monadologias

1. O modelo monadológico


Pags.: 77-78

A principal tese de Leibniz é conhecida: não existem senão “mônadas”, realidades individuais ou individuadas independentes umas das outras, que “não possuem janelas por onde alguma coisa possa nelas entrar ou delas sair”. A proclamação desse fechamento em si, inerente à unidade monádica, obedece a uma lógica interna da filosofia de Leibniz. Em compensação, me parece indispensável
observar a maneira como daí resulta decisiva consequência para o destino da ideia de subjetividade.


A ideia de subjetividade não possui outro sentido além dessa convicção, solidária aos valores do humanismo moderno, de acordo
com a qual a humanidade do homem é definida pelo poder de ser ele mesmo o fundamento de seus atos e de suas representações.
Foi o reconhecimento desse poder propriamente humano de autofundação (e a valorização correlata da autonomia) que convidou a modernidade filosófica a pensar na fundação humana da verdade, da lei ou da história.



Pags.: 79-80

Essa leitura, que foi a de Heidegger, é, porém, profundamente inexata. Para se convencer de tal fato, basta examinar o estatuto da
ordem que rege as relações intermonádicas. Tal ordem do real (que, em Liebniz, as exigências tanto da fé como da razão impõem
postular) não pode ser auto-instituida por quaisquer sujeitos fundando em comum os limites que eles impõem reciprocamente, na medida em que a própria ideia de causalidade horizontal entre mônadas desprovidas de “janelas” é logo excluída pelo modelo
monadológico. Em outros termos, a independência ontológica que reina entre as mônadas criadas proíbe conceber que a menor
ordem seja introduzida no real por imposição humana de regras limitando a espontaneidade dos indivíduos (por exemplo, sob a
forma de direito). Consequentemente, o verdadeiro fundamento da ordem do real não pode ser encontrado senão na única causalidade vertical de Deus, que preestabelece harmonia entre as espontaneidades das mônadas: as individualidades monádicas são,
assim e no máximo, substratos de uma ordem nelas inscrita, para toda eternidade, por meio das fórmulas que as programam.


Pag.: 81

Definição de liberdade como independência, valorização da auto-suficiência, decomposição da comunicação intersubjetiva em
benefício da afirmação das individualidades como constituindo “mundos à parte”: a monadologia leibniziana, ao mesmo tempo em
que realiza uma verdadeira dissolução do sujeito tal como Descartes erigira (autofundação, autodeterminação), marca o nascimento filosófico do individualismo. O que surge a partir desse momento inaugural continuará a se desenvolver, a ponto de carregar todas as suas consequências. Mas, desde então, foi com Leibniz que nasceu o próprio princípio que legitima o individualismo no sentido ético: é por meio do fechamento em si e do fato de se ocupar apenas de si mesmo, pela cultura de sua independência e a submissão à lei de sua natureza que cada indivíduo contribui para manifestar a harmonia do universo.


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Só posso concluir que a construção de nossa Liberdade crescente nos levará a uma melhor compreensão das Leis da Natureza. Natureza ecológica e Natureza do Ser, indivíduo ou espírito.

Paulo Cesar Fernandes

11 12  2013

sábado, 30 de novembro de 2013

20131128 Abdico

Abdico
 

Somos todos humanos com medo dos humanos.


Quem teme assombração hoje em dia?


Quem sequer pensa em almas penadas ou espíritos?


Nada disso. tememos é os humanos. Nossos inimigos mais ferinos e mais ferozes são os chamados humanos.


Abra os jornais. Assista aos noticiários. Eu te pergunto:

_ Onde anda a velha humanidade?


Se pensares bem, no mesmo lugar e na mesma forma de sempre.


Mudaram as paixões?


Se desfizeram no ar as tramas amorosas, os ciúmes e os crimes?


Num relance histórico veremos a continuidade da essência complexa e competitiva do humano: traições; mortes; paixões arrebatadoras; ligações interpessoais baseadas em interesses; falsidade; luta pelo poder com uso da violência física e psicológica; etc.


Se isso é o humano eu abdico.


Abdico de bom grado de minha condição de humano.


Me basta a condição de animal.


Animal pensante, mas animal.


Quem sabe se, recuperando nossa condição de animalidade, possamos nos despojar da primitividade característica dos chamados humanos.



Paulo Cesar Fernandes

28/11/2013

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

20131114 Ela e a cidade

Ela e a cidade


Santos, uma cidade.
A minha cidade.




Igual a tantas outras, mas tão diferente ao meu olhar.
Tão singular no seu modo de ser, na sua maneira de se transpor diferente a cada fim de semana.
Cada feriado prolongado.




Abre seus braços serena, a acolher a todos, como se seus filhos fossem. Não faz distinções.
É um regaço materno a filhos e turistas, sem distinções oferta suas belezas e seus recantos tantos ao prazer e ao amor.




Terra minha, meu pedaço de paz.
Santos és muito mais.




Mas há um problema.
Santos não cobre o espaço vazio das noites de inverno, a ausência da maciez feminina em seu natural perfume.




Mas assim é e assim deve ser. Construção pessoal e decisão.
Cada pensamento e cada ato acordado com o mais profundo de mim: a capacidade de decidir.




E decidi pela mais plena e total Liberdade.



Paulo Cesar Fernandes

14  11  2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

20131106 Teatro da vida

Teatro da vida



Um homem vive sua utopia para seu povo. Seu povo nem o percebe, nem o reconhece, dele nada sabe. Mas a vida de um homem é voltada para seu povo.


Sem cargo. Sem evidência. Holofotes ou destaque.


Este vive e se alimenta na e da utopia. É movido por essa utopia.


E por ser utopia esta é viável, passível de realização.


Tu, eu, ou qualquer outro, somos a utopia transposta para a carne; utopias perambulantes e vivas, capazes de dizer o sonho e saltar dele à realidade, e dentro da realidade construir novos sonhos transformadores.


Há uma dialética na vida.


E a dialética da vida é esse jogo entre o sonho utópico e a realidade sempre sonhada.


Antevista e realizada na práxis revolucionária de uma outra postura cotidiana.


Tendo apenas a própria individualidade como parâmetro.


Um transitar diferenciado no palco da existência.


Deixando marcas pelos caminhos, pensando sempre nas gerações vindouras.


Paulo Cesar Fernandes

06  11  2013

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Nota:

Texto dedicado a Flávio Rangel, diretor e revolucionário da linguagem teatral do Brasil. Junto com Gianfrancesco Guarnieri foram capazes de abandonar a antiga forma européia de fazer teatro e, na temática e na forma de a expor criar um Teatro do Brasil.


A Cultura Brasileira se ressente da ausência e da efervescência desses dois operários da arte.

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Fonte: Wikipedia

Flávio Nogueira Rangel

(Tabapuã, 6 de agosto de 1934 – São Paulo, 25 de outubro de 1988) foi um diretor teatral, cenógrafo, jornalista e tradutor brasileiro.


Biografia

Sua trajetória no teatro brasileiro começou sob influência de Nelson Rodrigues quando um amigo o levou para assistir o espetáculo "A Falecida". A partir desse dia, Rangel chegou à conclusão que sua vocação estava mesmo no teatro.


Sua grande oportunidade chegou em 1958 no Teatro Cultura Artística, quando dirigiu "Juventude sem dono" com um grande elenco encabeçado por Milton Moraes. O passo seguinte foi dirigir "Gimba", espetáculo escrito por Gianfrancesco Guarnieri, em 1959 e que chegou a representar o Brasil em festivais no exterior. Flávio perdeu o prêmio de melhor diretor para Bertolt Brecht (in memoriam) por 18 votos a 17.


De volta ao Brasil, foi contratado por Franco Zampari para dirigir o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), a mais prestigiosa das companhias de teatro brasileiras.

Até então, o TBC fora dirigido apenas por estrangeiros, como Ruggero Jacobi, Flaminio Bollini Cerri, Adolfo Celi e Maurice Vaneau. Flavio foi o primeiro brasileiro a comandá-lo.

Na seqüência de "Gimba", e em sintonia com sua geração, que buscava construir uma dramaturgia brasileira, sua primeira montagem no TBC foi "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes.

Foi para o Rio de Janeiro no início da década de 1960 e começou uma carreira vitoriosa como diretor independente.

Dedicou 30 anos ao teatro brasileiro e assinou ainda montagens importantíssimas como "Liberdade, Liberdade", "A Escada", "A Revolução dos Beatos", "Édipo Rei", "A Capital Federal", "Esperando Godot" e "Piaf".

Outras peças que dirigiu:
Édipo Rei, de Sófocles, com Paulo Autran
A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, uma vez com Dionisio Azevedo, outra com Paulo Autran
Amadeus, de Peter Shaffer, com Raul Cortez
Vargas, de Dias Gomes e Ferreira Gullar, com Paulo Gracindo
O Que o Mordomo Viu, de Joe Orton, com Sérgio Viotti
Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, com Antonio Fagundes


No total, dirigiu mais de 80 espetáculos entre peças de teatro, shows musicais (incluindo "Faz Escuro mas Eu Canto", com Thiago de Mello e Sérgio Ricardo; "Raíces de America", com o grupo de mesmo nome; e recitais das cantoras Simone e Nara Leão), desfiles de carnaval (Vila Isabel, em 1976 e 1977) e até desfiles de moda.

Casado com a atriz Ariclê Perez, e pai de um filho, Ricardo, do primeiro casamento, com Maria Dulce Pedreira, Flavio Rangel morreu aos 54 anos vítima de câncer no pulmão.

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Meu respeito a quem tanto fez pelo Brasil.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

20131104 Dario Sztajnszrajber Contracapa

Dario Sztajnszrajber
 
"Para que serve a filosofia?  
Pequeno tratado sobre a demolição"
 
 
 


Compartilho a contracapa (postada pelo autor no FB) do livro "Para que serve a filosofia?" de Dario Sztajnszrajber.

A pergunta que dá título ao livro é a primeira que se abre ao longo de suas páginas.

Quem disse que deveria servir para alguma coisa?

Se buscamos uma primeira resposta na definição da palavra filosofia como amor ao saber, antes devemos também escolher entre duas alternativas:


Trata-se de buscar o saber e se alegrar quando acreditamos o haver encontrado? ou

Aceitar que não vamos encontrar o que vimos buscando?


A história da filosofia ocidental está baseada num pensamento calcado em oposições: o bem e o mal; o verdadeiro e o falso; o ser e o nada; o útil e o inútil.


Segundo esta lógica a filosofia seria algo inútil, para nada serviria.


Porém, e se, como propuseram os filósofos contemporâneos, fosse possível sair dessa dicotomia?


É nessa brecha que se encontra Darío Sztajnszrajber para demonstrar que a filosofia não é senão uma maneira de pensar.


Dos pré-socráticos a Derrida, e de Platão a Heidegger, o autor segue o caminho de nossa crise ao perceber que talvez as coisas não sejam da forma que acreditávamos.


Contra o método e qualquer tipo de sistema, e no afã de devolver à filosofia seu sentido original, "Para que serve a filosofia?   Pequeno tratado sobre a demolição", o primeiro livro de Dario Sztajnszrajber caminha através da história da filosofia demolindo ideias, hotéis e nossa própria vida, na busca de uma resposta que talvez nem exista.



Nota: Este livro está sendo lançado na Argentina. Seu autor é um filósofo, professor da UBA (Universidade de Buenos Aires), cuja série por ele coordenada "Mentira la verdad" teve grande sucesso mundial. Sendo cotada para premiação na Inglaterra. Sua emissão se deu através da TV estatal argentina  "Canal Encuentro" (www.encuentro.gov.ar).

Tendo por temas:

Mentira la verdad   (Temporada 1

01 La filosofía
02 El orden
03 Dios
04 Lo humano
05 Modernidad
06 Lo real
07 La amistad
08 La belleza
09 La identidad
10 La felicidad
11 La Historia
12 El amor
13 La muerte

***
Mentira la verdad   (Temporada 2

01 La filosofia
02 La verdad
03 La comunidad
04 El Poder   (1 de 2
05 El Poder   (2 de 2
06 El Perdon
07 El Conocimiento   (1 de 2
08 El Conocimiento   (2 de 2
09 El Lenguaje   (Sicario Infernal
10 El Alma   (1 de 2
11 El Alma   (2 de 2
12 El Tiempo
13 El Bien



Minha sugestão é que busquem ver todos os episódios.


Paulo Cesar Fernandes

04 11 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

20131102 Peripatético

20131102 Peripatético


Tema: Casamento/Relação.


Parabéns pelo programa, 30 minutos é pouco. Talvez pouco.


PC: Viver em casas separadas é tudo. Tem vínculo e sem rotina. Juntou danou. Mulher quer organizar tudo, mandar em tudo. Danou.
Uma, nem chegou a firmar relação. Passou uma tarde comigo e no mesmo dia, de Sampa já queria ordenar minha vida.


"Todo mundo que mandar/regrar o mundo." (Patti Smith
Mas a mulher é Master Degree nisto.



Traição?

Acontece. Fora do projeto mas acontece. Quando menos se espera, não dá mais, a situação está dads.Só tem um caminho: desfrutar com todo carinho e respeito. Desse jeito é meio raro, mas existe.


Casamento e felicidade.

Tem nada a ver. Colocar Felicidade em algo fora de si é parada indigesta. Chega nunca nela. Olha o mundo de sonhadores e infelizes. Nesse caso a felicidade é a cenoura lá na frente do cavalo e ele sempre atrás dela.


Solidão é ruim pacas, mas não é culpada da infelicidade de ninguém. Solidão é o medo de amar, depois de umas pancadas da vida.

Aristóteles: "Estamos na vida para aprender a viver." e isso passa por relativizar tudo. Descartar puerilidades.


Não sou culto, por isso acho legal uma mulher que venha me ampliar horizontes. Por em cheque minhas velhas ideias. Vem bem apesar dos meus 62 anos,. Tem que chegar para partilhar coisas, descobertas, os dois voltarem a ser meninos, e arregalar os olhos a cada novidade. Mesmo que seja o mesmo sorvete de maracujá de sempre. A Praça da Independência tá diferente. As pessoas, o
vento, tudo pode mudar...


Na vida como no teatro, cada dia é um dia, e uma apresentação diferente. A mudança
define nosso tempo.


Depóis de carta idade temos o direito de não "ter que" mais nada. Finito.


Pondé: Só quem é simples pode amar.

Sim. Se simpicidade for um despojar-se de tudo, e viver uma vida autêntiva nas trilhas de Heidegger. Não precisa a casa na Floresta Negra, mas um recanto qualquer de acolhimento, meditação, estar em paz. Sem religião, essa chaga, mas com um voltar-se para algo. Sair de si. Voltar-se para a parelha mas sem se escravizar. Respirar sempre.


Esse negócio do "Só vou se voce for" é legal na música, e basta. Tá. Primeira semana tudo bem. Depois....


Falando dos "Tempos Líquidos":

"As ligações são tênues na modernidade líquida." (Bauman) Precisamos estar abertos para tudo que é novo. E o genial de Bauman em "Amor líquido" (e demais obras) é que não estabelece juízo de valor. Se limita a fotografar o seu/nosso tempo. O leitor que se vire para tirar suas conclusões.


O que separa o casal?

1. Diferenças de valores;

2. Distância cultural muito grande. Provoca a humilhação de um dos componentes. Isso é insuportável;

3. Grana não é determinante, mas projeto de vida, cumplicidade é vital.


Uma mulher, viúva a dois anos, tendo estado casada por 50 anos com o mesmo companheiro diz: "Casamento é a somatória das concessões diárias de ambas as partes.". Sabedoria.


Lição de vida difícil de seguir em tempos de intransigência e quando tudo nos foge das mãos.


Penso que vivemos hoje numa praia de muito vento, na frustrante tentativa de manter os finos grãos de areia nas nossas mãos. Impossível. Mas a praia segue sendo bonita...


Paulo Cesar - Vila Belmiro - Santos - SP.

02 11 2013


P.S.; Anotações soltas ao longo do programa. Ideias, links, reflexões, nunca tomem por verdades. Não as tenho.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

20131031 Presidiários

Presidiários



Fotografava ao fim da tarde o meu bairro, para ilustrar o conto "Admiração" a ser vendido pela Amazon, e uma triste evidência se abriu a meus olhos: os moradores da Rua Adolfo Porchat de Assis, na Vila Belmiro em Santos são presidiários.


Mesma sensação tive eu, num horário de almoço na zona sul de São Paulo. As casas todas gradeadas faziam da rua um verdadeiro presídio, onde os homens de bem ficam aprisionados no lado de dentro, e os bandidos se deslocam livremente por toda a cidade.


Tempo houve em Santos que, se em alguma casa algo fosse roubada do quintal, o fato era motivo de comentário por dias e semanas.


Hoje, se tornou banal os estudantes das diversas universidades da Baixada Santista serem assaltados. Quer na UNESP de São Vivente; na UNIFESP; ou nas diversas particulares espalhadas pela cidade.


Uma bicicleta ou uma moto surge do nada, e lá se vai um celular, uma bolsa, e algumas vezes uma vida.


O foco já não são os mais elegantes. Todos somos alvo. E ponto final.


Nada a fazer. Assim é, e com isto devemos conviver.


Somos presidiários em nossos lares.


Paulo Cesar Fernandes

31 10 2013

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

20131029 Silêncio e perdão

Silêncio e perdão


A não-palavra é o silêncio do olhar no perdão mais sincero. O aperto de mãos partindo do coração e se consolidando num abraço.


Braços menos abertos que o coração, quando a sinceridade é o comando da vida.


A não-palavra é o não-verbo; não-expressividade; não-agressividade.


A não-palavra diz.


Diz o silêncio dizente das horas dos dissabores, da lágrima quieta e salgada descendo o rosto da mulher amada num momento de separação.


Há momentos enfim, que só o silêncio, só a não-palavra se faz presente para comunicar.


Paulo Cesar Fernandes

29 10 2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

20131028 O meu tempo

O meu tempo


Não sei viver como jovem.


Negando a minha idade.


Custou muito para chegar a ela.


Aos 60 anos, batendo nos 62, o homem deve vestir uma roupa segundo o padrão estético próprio à sua individualidade. E, acima de tudo, ser fiel ao tempo de vida acumulado no entalhe de seu corpo.


O tempo passa e nos marca.


Mas o buril do escultor é suave, até mesmo doce se olharmos para a estrada percorrida com o olhar de amor que nossa vida merece.



Sou grato a cada momento alegre e a cada momento de dor. Não seria eu, este aqui presente sem cada um desses momentos. Não os nego e nem os renego. Todos foram entalhes valiosos na "peça" que hoje sou.



Paulo Cesar Fernandes

28 10 2013



Nota: Texto dedicado à Arminda, cujo aniversário é hoje.
Pela manhã, no tempo de um abraço, algumas palavras sobre a vida foram trocadas, sendo elas fonte inspiradora
deste texto.

domingo, 27 de outubro de 2013

20131027 Poema para Josefina

Poema para Josefina


Dura é a vida dos que estão obrigados a viver fora de seus recantos natais.

Muito mais dolorido aos poetas, cuja sensibilidade lhes toca mais forte, na distância de seu povo.

Um companheiro que vive na Califórnia fez um poema dedicado a uma combatente que ficou pelo caminho, nas lutas libertadoras de El Salvador.


LA COMPA “IRENE”


Josefina Cartagena,
se llamaba aquella flor.
Que luchó junto a su pueblo,
por una vida mejor.



Con el fusil en la mano,
aquella gran guerrillera.
La vida se la jugaba,
por los montes y trincheras.



Y fue en varias ocasiones,
que de anciana se vistió.
Para entrar a los cuarteles,
y sacar la información.



Y al grito de batalla,
al tirano combatía.
Y cuando salían corriendo,
ella solo se reía.



Los cobardes militares,
querían agarrarla viva.
Y por mucho que intentaban,
de las manos se les iba.



Pero se llegó el momento,
cuando ella fue capturada.
La tropa no le importó,
que estuviera embarazada.



Fueron guardias nacionales,
que a traición la capturaron.
Y cuando se la llevaron,
en un camión la montaron.



Pero ella bien lo sabía,
lo que le iba a pasar.
Por eso aquella rebelde,
decidió por su final.



Cuando iban por un barranco,
no sabían su intención.
Y al grito de venceremos,
se les tiró del camión.



Los guardias muy enojados,
cuando al barranco bajaron.
No estaba la guerrillera,
solo un cadáver encontraron.



Compañera campesina,
tu ejemplo de heroína.
Quedará en nuestra historia,
con honor y mucha gloria.



Aquí termino contando,
la historia de ésta valiente.
Que por los pobres murió,
y no le temió a la muerte.



Escrito por: Elio Martínez


***


Felizes os nossos tempos, quando podemos trocar as armas de metal pelas armas dos neurônios e da sensibilidade.


Quando são possíveis os vínculos de afeto entre todos os companheiros cujo pensar e sentir estão voltados para a Justiça, a Paz e o Amor entre todos os povos de nossa América Latina e Caribe.


Momento em que artistas de diferentes países se unem num processo de alavancar as sociedades todas para uma nova era, uma era onde o ódio seja coisa do passado, mas sem nunca esquecer esse passado: suas lutas; suas dores; suas ausências e todos os corpos que não mais podemos abraçar; todas as vozes que não mais podemos ouvir.


Não vou dar nomes. Mas todos sabemos que do México até a Patagônia temos a música unindo corações através de múltiplos ritmos.


Possamos todos amar nossos companheiros de todos os povos, da mesma forma que cada um desses músicos, através de sua arte, ama a cada um de nós. Cada nova canção é um presente que nos revigora a vida, e traz força, em nossa luta por Justiça e Paz.


Paulo Cesar Fernandes

27 10 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

25102013 Peripatético

Tema: Melancolia


Uma questão filosófica para o médico, uma questão médica para o filósofo.

"Todos nós somos melancólicos."


Pondé: " A melancolia é um valor de nossa existência."

PC: "Quando eu percebi que não é necessário ser feliz... a vida ganhou um outro significado. Somos obrigados a ser feliz? Essa questão me fez saltar fora desse circuito."


"É impressionante como as pessoas tristes se encontram no metro."


PC.: "Sempre achei um saco o metro como0 elevadores. E não tenho claustrofobia nem nada. Até encontrar a diversão de saber o que estão lendo as pessoas. Foi um achado."


Pondé: "Parece que lucidez e angústia andam de mãos dadas."


PC: "Encarar a dor e a melancolia como elementos componentes da vida. Sem medo do preconceito e sem medo de viver com isso."


Pondé: "Como medicar a condição humana?"

PC: "Ou em "1984" ou "Admirável mundo novo" George Orwell fala da "Pílula da Felicidade". Vivemos hoje a Era da Felicidade pelas pastilhas?
Não seria melhor compreender a melancolia como parte da naturalidade da vida. Aceitar a vida tal qual é. Com dor e tudo num pacote amplo?"


Pondé: "Felicidade é o fetiche de nossa época.


Kierkegarde 1- Cético = curtir; 2- Ético; 3- Religioso 3.a) Igreja 3.b Salto na fé."


PC: "Fé cega é faca amolada. A Fé nega a Razão. A Razão é mórbida e trouxe  toda a exploração que temos hoje no mundo.
Talvez uma Razão Sensível possa ajudar a mudar essa ótica, na medida em
que traga o respeito entre as criaturas e a solidariedade seja uma norma natural e não forjada por nenhuma autoridade. Uma Razão Sensível que traga a Produtividade proposta por Erich Fromm, e a simplicidade como práxis diária."


Pondé: "Mito de Sísifo"

PC: "Carregar a pedra sempre, e toda vez mais e mais, para o cimo da montanha até o final da vida. Viver seria esse castigo? Não creio. A dor, a melancolia não suprimem a vida, são partes inerentes a ela. E nessa vida se insere mais e mais a filosofia. O Ser é dialético e pensante. Me refiro ao Ser de Heidegger que todo tempo se confronta com os Entes. Ora agradavelmente, ora conflituosamente. Mas assim o é"


Paulo Cesar Fernandes

25  10  2013