terça-feira, 30 de dezembro de 2014

20141229 Contrastes e ilusões

Contrastes e ilusões



Não sei das coisas que sei.


Como as sei?
Carrego ideias como nuvens.
De informes não virtuais.



Concretamente somos.
O que fizeram de nós.
Instituições e circunstâncias.
Até o corte visceral.



E não mais somos da corte.
Os vassalos.



Enrijecemos a coluna.
E pomos terno o coração.



Nada somos além.
De dúvidas deslocantes.
Perquirições instigantes.
Todo o tempo
A cada instante.





Ai!
Pobre daquele.
Sabedor de todas as coisas.
Dono de toda certeza.



Sem dúvidas ou rompantes
De ira ou dissabor.



Quem são?
Não se questionam.
E vivem.
Como se nada houvesse.



Migalhas lhes bastam.
Do saber escolástico.
Enganos e engodos.
São todo o seu pensar.




Portal Fernandes

29/12/2014



20141228 Noite

Noite


É o silêncio da noite
As palavreas ditas e ouvidas dormem num imenso cesto de vime.
Como roupas usadas na espera de sua lavagem.
Para lavar palavras basta lhes conferir novos usos.
Se renovam no uso mesmo.



E assim se faz o verso.
O artigo de jornal.
O conceito filosófico.
A descarga emocional.



É o silêncio da noite.
A cidade fala seus sons motorizados.
Velocidades imprudentes
Nhambiquaras, Maracatins, Carvalho de Mendonça
E penetrações insurgentes.




Na noite tudo vale
a pena
a correr no papel.




Resgatando palavras para resignificá-las.
Atribuindo sensos nada consensuais.
Irados, iracundos, revoltosos.
No silêncio da noite a ira é mais feroz
A palavra sempre ecoa a altos brados.



Palavras e palavróes em meio a carícias
E tudo metrificado no motel pago a hora.
Por dentro e por fora do casamento.
Mas que importa?
Vale a respiração ofegante.
Valem os corpos soltos de tanto prazer.



Enfim.
É o silêncio da noite.



Paulo Cesar Fernandes

28/12/2014

domingo, 28 de dezembro de 2014

20141228 Concretude textual

Quero quebrar as palavras, as prateleiras, destruir a Sala de Jantar.
Trocar todos os móveis e imóveis de lugar.

Da palavra tosca descobrir novos sentidos e construir castelos de vinho por vinhedos que jamais verei.

Me embrenhar nos sonhos e fazer cair todas as máscaras de todos os caminhos.

Alles luge! nos diz Rio Reiser.
É tudo mentira mesmo.


Se a poética não tiver espaço no canto do pássaro, e na mão que afaga.
Se a tua dor não me tocar e o teu riso não me fizer mais feliz.


A vida é breve, sacanamente breve.
Quando será a minha vez?


Por isso é urgente pisotear as palavras e faze-las plenas de tanto viver.
Estufadas de Vida a não mais poder.


O futuro eu trago nas minhas mãos.
Este segundo é tudo.
O passado morreu.


E aqui vou eu.
Nas asas do incerto, rumo ao desconhecido.
Para trás ficaram escombros.
Nada retornará.


No compasso de cada hora
Eu posso renascer.



Paulo Cesar Fernandes

28/12/2014

20141222 Cavalo Baio

Cavalo Baio


O dia vem chegando
Vai ser mais longo
Pois é verão



Chuva no final da tarde
Abafa o mundo


Mas rega o chão


Quero seguir cantando
Fazer amigos


Com emoção, e daí?


Se somos todos estradeiros
Com meu Baio vou
Sempre em boa direção

Do caminho sabe ele
E da alma humana
Mais sabe que eu



Muito deixo me oriente
Seu trote firme
Sinaliza cada dia
Sua alegria
Em comigo caminhar



E assim vamos
No sol ou na chuva
Mas sem pressa de chegar



Se o medo em mim ata
Ele traz coragem
Em cada uma das patas



É o meu cavalo Baio
Sempre ao meu lado
É minha guarda
Nos embates da vida
Me consola e me encoraja.



Portal Fernandes

22/12/2014

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

20141227 Remotos fatos

Remotos fatos


Que tenho eu na mão agora?
Um verso? Um poema? Um artigo?
Uma mancha de limão ao sol.
De uma caipirinha, dez anos atrás.
Atrás dela vejo em minha boca.
O gelado do gelo, o sabor do limão, os grãos do açúcar.



Salivo como o cão de Pavlov.
Sensações não marcam os sentidos.
Se engana quem nisso crê.
Sensações marcarcam o profundo do Ser.



Esquecemos o nome.
Mas nunca as sensações.
Seu corpo nu.
Nu e provocante diante do espelho.
No meio da noite a clamar por mais.



Meu corpo exausto.
O Ser em êxtase.
Também pede mais.
Não claudicar, não.
Brincar com o tempo.
Um poema salva.
Recuperação vital.



E mais. E mais.
O nome não lembro.
Seu corpo moreno.
Seu odor de fêmea.
O sabor de mar.
Meu rosto salgado.



A poética da vida.
Tomou meu coração.
Bate célere.
Do chão da sala vejo.
Sua tesoura aberta.
Sobre meu corpo estirado.
E a lata de cerveja.
A caminho dos lábios meus.



O Ser é.
Acima de tudo.
Repositório.
Das mais suaves sensações.
E o tempo?
Não tem força capaz.
De apagar nenhum sonho.




Paulo Cesar Fernandes
27/12/2014


P.S.: Aos 63 anos. Cabe a vida e cabem lembranças.