domingo, 29 de março de 2015

20150315 Para ficar

Para ficar

Tudo deve se pautar numa visão multifacetada e ampla.

Ver apenas um aspecto do assunto restringe nossas perspectivas.

Como os antolhos postos aos pobres cavalos para lhes dar unicamente a visão dianteira, ocultando visões laterais.


Somos formados para possibilidades grandiosas e quase sempre tememos enveredar pelos caminhos capazes de nos ajudar a desenvolve-las. O medo e a preguiça travam as possibilidades do espírito.


Nós fomos criados para muito mais.

"Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior." diz a inspirada canção de O Teatro Mágico.


Os poetas tem, verdadeiramente, um olhar de ver o futuro.

E o futuro será de benéficos desdobramentos, para todos os batalhadores da Justiça e da Vida Maior. Os demais? Possivelmente não estarão mais por aqui.


Paulo Cesar Fernandes


15/03/2015

20150325 Após a morte

Após a morte

Se um sonho ou uma premonição não me importa.
Apenas um diálogo possível.


EU_ Eu não quero voltar para a Terra.

P_ Mas você já está aqui a tempos, surge uma oportunidade e se nega?

EU_ Me arruma outro planeta, a Terra não!

P_ Seu lugar é lá mesmo, não tem outro planeta.

EU_ Então eu não vou. Eu fico!

P_ Mas tive um trabalho imenso contigo, lembra? Após a juventude vieram os embates da vida, e as
deceppções fizeram um farrapo daquele em quem eu depositava tantas esperanças.

EU_ Lembra quais foram as fontes das minhas decepções. Por favor me lembra. - com intencionalidade clara.

P_ Para que isso agora?

EU_ Apenas relaciona dois ou três itens. Te alta coragem? Vamos!

P_ Pois bem: o partido político; relações afetivas e o movimento espírita.

EU_ Em todos os itens apostei todas as minhas fichas e minha sinceridade. Desculpe, mas eu quebrei a cara. Revendo item a item: Partido, o PT. Deixou de lado o socialismo e a ética no mesmo momento. Passou a priorizar os submissos, os desqualificados, os sem coluna vertebral. O espaço se abriu por completo para os oportunistas e os puxa sacos de todas as vertentes. Os idealistas foram apagados, e não falo de mim, foram muitos os companheiros sem voz dentro do partido. "Vence na vida quem diz SIM." Assim preconizou Chico Buarque. Com toda veracidade. Muitos foram apagados.

P_ Mas não mataram ninguém. Sua volta não se deu por meio da ação deles.

EU_ Não se mata apenas com tiros como ocorreu a Celso Daniel. Podemos matar retirando todo o espaço de expressão de ideias, tal como ocorreu comigo no Centro Espírita. Me mataram. Doce morte capaz a me levar a outras formulações teóricas. Afinal somos todos sujeitos a mortes e renascimentos. Vamos adiante?

P_ Sim, as questões afetivas.

EU_ Em todas elas a minha irracionalidade, irrascibilidade diante dos defeitos. Minha culpa, minha máxima culpa em todas elas. Meu romantismo prejudicou em muito, nunca via a racionalidade concreta das femeas, todas com demandas contretas e materiais claras. E eu nas nuvens, sempre nas nuvens Culpa toda minha.

P_ Então admite ter errado?

EU_ Nessa área? Muito, e totalmente. Era algo surdo. Me jogava de cabeça e nem sempre tinha água na piscina do amor. (Rindo muito)

P_ Bom saber admitir os erros.

EU_ É que a cada perda amorosa era muito facil superar, uma nova paixão cobria o espaço e tudo
voltava a ter sentido. Barba feita, um belo banho e tudo se inicia novamente. Nada como uma nova ilusão para apagar a anterior. (Risos)

P_ Eu lembro de cada noite de dor e dúvida. Afinal estive sempre ao teu lado.

EU_ E eu sempre desatento. Pode completar...

P_ Desatento mas nem sempre fora do meu acesso. Só nas fases...

EU_ De total desequilíbrio. Eu sei. Mas mãos se ofertaram e não perdi a oportunidade. Mãos amigas da UNESP onde trabalhava. Gratidão. Mesmo aqui, fora da vida corpórea.

P_ Intuídas foram por alguns dos nossos. Necessitávamos de você de volta.


EU_ Me queriam para que?

P_ Palestras, cursos, essas coisas.

EU_ Eu tentei, mas o Centro Espírita fechou as portas para mim. Preconceituosos. Ou temerosos das minhas palavras e ideais. E quanto mais fechavam oportunidades mais grosseiro eu fui. Errei ainda aqui.

P_ Eu vi tua dor.

EU_ Mais revolta que dor. Pura tolice minha. Falta de visão de longa distância. E foi muito difícil me libertar da dependência afetiva ao grupo. Mas o tempo, o sábio tempo.

P_ Revolta longa?

EU_ Uns seis anos tentando voltar. Apresentando projetos e nem resposta... É, foi, passou...

P_ E lembra como saiu disso?

EU_ Através de um novo caminho. Cortando laços como velho movimento espírita e criando um jeito pessoal de atuar no espiritismo. Um novo momento espírita.

P_ Foi o tempo do nosso reencontro. Eu e outros mais nos unimos a esse seu novo momento.

EU_ Cada tarde um novo abraço, bem o sei. Mas voltando ao meu retorno à Terra. Não seria temerário diante de minha fraqueza?

P_ Voces são todos muito engraçados. Todos mesmo. Quando em vida temem a morte. Ao chegar no lado de cá, todos fazem empenho em ficar por aqui mais tempo.

EU_ Então somos todos conservadores, reacionários?

P_ Conservadores é melhor. Pois odeiam mudanças.

EU_ Eu? Conservador? Bah! Não cabe! Sou ainda um revolucionário.

P_ Até certo ponto apenas Paulo, até certo ponto. Repense e reveja seus conceitos.

EU_ OK! Mas voltar para a Terra está fora de cogitações. Nem pensar!

Meu interlocutor sorriu, deu de ombros e foi embora. Pelo menos por ora.

Paulo Cesar Fernandes

25/02/2015

sábado, 21 de março de 2015

20150321 Eles

Tinham os arranjos muito simplórios, se bem analisarmos.
Quatro moleques unidos pela música.
Cada qual com suas dores e suas alegrias.
O acaso os uniu.
Seus instrumentos na sua época eram de péssima qualidade.
Mas sua vontade de dizer era grande.




A Maior Banda de Todos os Tempos.

Sem a menor dúvida meus amigos.
A maior!



Antes deles havia Carl Perkins; Chubby Checker e outros.
Todos bons, muito bons mesmo.



Mas o mundo do Rock and Roll se divide em...
A.B. e D.B.



Antes dos Beatles e Depois dos Beatles. 


Não tem por onde ser de outra maneira.
Com toda a simplicidade de suas letras.
Fizeram uma Revolução.
Revolução dos Costumes.
Das formas arcaicas do viver.


Já traziam ali a Revolução dos Neurônios que venho falando.
Eles deram o primeiro passo para a possibilidade atual de uma Revolução.
Eles eram a própria Revolução, tendo junto a si a figura de Bob Dylan.
Um pensador, um moleque intrigante. Inquieto e por vezes grosseiro e vulgar.
Mas sempre genial.






Rubber Soul foi uma quebra de paradigma com "Norwegian Wood" em que trata da relação com uma prostituta. A madeira da Noruega era designativa talvez dos quartos pobres da zona de prostituição da cidade portuária de Liverpool.
Quem vive numa cidade de porto sabe como é a Zona da beira do cais.
 



Mais um pouco e "Revolver" chega com a melhor capa de todos os LP's e CD's que já vi.
Essa capa adorna meu escritório, junto a algumas outras.




Adiante para dar uma pancada de mais rebuscamento chegam com "Sgt Pepper's lonely hearts club band". Numa capa referencial a varias figuras do mundo pop e não pop.



São os meninos de Liverpool que para a alegria de muitos pudemos acompanhar seu nascimento, desenvolvimento e ainda os ouvimos como um raro tesouro de sensibilidade e beleza.


O mundo não teria a Liberdade que hoje desfrutamos sem a presença desses quatro meninos.


Aos quatro, onde quer se encontrem neste momento, o meu abraço, e a minha mais profunda gratidão por todos os momentos de felicidade passados no embalo das suas canções.



Paulo Cesar Fernandes

21/03/2015

sexta-feira, 20 de março de 2015

20150320 Duas variantes

Duas variantes



1 - As cores na vida


Num chão de tintas multicolores fui fazendo meus caminhos. As marcas de meus pés pequenos hoje são as mesmas da infância e juventude.


Nunca dei grandes passos, nunca deixei grandes pés no chão do tempo.


Pequenos avanços a cada etapa. Em cada etapa um tema distinto dominando minha alma. Assim segui na vida.


Eivado de emoções e por elas me deixando levar. "Ouve teu
coração." me disse Udi numa manhã.
Assim o fiz, optando pela mais pura solidão. Se não a renego é por acolhe-la. Me cabe a solidão.
E o espaço próprio ao meu viver. Dividir o espaço não cabe nos planos racionais.


Mas como Razão e Emoção são lados opostos de uma única moeda, nada pode ser a tal ponto peremptório.


Das cores das tintas no chão vejo eu a vida em multicoloridos aspectos. Pois nada é fatal e final. Tudo depende de um fato conexo. Da situação. Do substrato mais sutil da emoção.


Viver é emocionar-se.


Fartar-se de sonhos e matar a ilusão. Pois de concreto apenas a morte. Morre o corpo e não eu. Muito chão hei de pisar novamente com pés pequenos, pés infantis. E nisso aposto tudo. Tenho
certeza. E não crença sem lastro no real. A real presença do corpo, aos meus pés, para observação. Meu corpo e eu, e eu fora dele. Mais leve me achava.


A ambulância me disse: "Volta!". E aqui estou na escrita, em nova fase da vida, plena de espiritualidade.



Solidão?
Não doi nem fere. Junto a mim uma legião: atores; atrizes; músicos e pensadores. Não pode estar só quem se nutre de tanta gente.




Minhas cores de hoje são as palavras. Busco-as mais doces.
Se a vida é dura lá fora, dentro de minhas obras a quero leve, e com caminhos de mansidão.


Se o ódio e a guerra imperam na terra. Um texto meu, pode ter o poder de levar ao mundo uma outra cor; mais azul, mais suave, mais sutil, mais sensual.


O pecado da libido não é. Não existe. Somos todos sensoriais. Sensíveis e vivos estamos. Assim, hoje carrego as cores nas minhas mãos; traduzindo sempre, os anseios do coração.


Paulo Cesar Fernandes

18/03/2015



 
2 - Só!  Só isso.


Um homem. Uma casa.
Um homem e uma casa.
De fora visto parece estranho.
Um tanto solitário.
Ganha novo contexto entretanto
Se a casa é a minha casa
E o homem sou eu idoso
Idoso e capaz ainda.




Independente até certo ponto.
Na casa me resguardo.
E dela faço um LAR.
Muito mais dum conglomerado de tijolos.
LAR é algo sensível e calmo. Aconchego.




Só? Não é possível.
Companheiros tantos.
Vivos ou mortos na língua banal.
Corpóreos ou incorpóreos prefiro os chamar
Dada sua real situação.




Um homem e uma casa compondo um LAR.
Um LAR de tijolos, uma cadela e um ser pensante.
Corpóreo e alimentado por outros tantos incorpóreos.
De diversas eras, diferentes instantes culturais da humanidade.




Quem é só afinal?
Eu ou os escravos dos aparelhinhos.
Sempre ansiosos por novidades, pela resposta que não chega.
Onde a solidão se estabeleceu afinal?



Eu sou o aparelho, o aparat de todas as coisas.
Das ideias e das dúvidas. Dos passos firmes e dos dias incertos.
Que certeza há na vida atual?
Uma vez mais é a morte e seu reencontro com todas as coisas, lutas e gentes de todos os passados
momentos. Presentes na mente ou encobertos pelo Rio Lates, o rio do esquecimento segundo a
filosofia de Platão.



Tudo é um complexo composto de vitalidade neste intervalo berço e tumulo.
Restrita vitalidade nas restrições impostas pelo corpo.
Sem ele, talvez cheguemos a mais profundo acesso ao inconsciente, sempre mais ativo em todos os
momentos da existência: corporal ou incorpórea. A psicologia trata da alma ou espírito, em todas as suas situações; no equilíbrio e na perda deste.



Estar num LAR é, sem dúvidas, um caminho para o bem estar.


Assim, um homem, um LAR e uma cadela são apenas facetas  temporais para o acúmulo de experiências novas; novos saberes; novas formas de sentir e novas maneiras de enfrentar as possíveis agruras e as amplas benesses de uma certa maturidade.



Feliz idoso desfrutando de um LAR.

Se digo ser a vida plena de dádivas, entre elas é de demarcar com clareza o papel da família, como um dos ingredientes mais saborosos.


Paulo Cesar Fernandes

18/03/2015

domingo, 15 de março de 2015

20150315 FILOSOFEMA

FILOSOFEMA


Proposição filosófica ou filosofia em poema?

Certeza.
Certa leveza na dúvida.
Estandarte.
Estar a D'Arte
A Arte para si.


A cada dia um poema.
Um novo fonema ou filosofema.
Fenomênico. Forte e anêmico.
Real e hipotético.
Semitonal e banal.
Como amor de esquina de mina.
Pago em barato metal, barato motel.
Ruas marginais e periféricas.
Para meninas feéricas.
Histéricas com grana nas meias.


Das meias verdades todas, ilusão
É a única coisa certa.
No amor pago a granel.
Escuros recantos.
Cortes longitudinais das cidades.
Onde a morte por ali anda.
Para e olha.
Seleciona e escolhe.
E levemente leva.
No esvair da Vida gota a gota.
Em dia a dia vazio.

Um dia a mais é lucro.
Um lucro a mais é dia certo o amanhã.
Dia de vida, devida.


Ao sincero amor.
Limpido, sereno, alento ao coração.
Num lento revivescer.
À Vida volver.



Paulo Cesar Fernandes

15/03/2015

20150315 Oprimidos sim, e ainda

Oprimidos sim, e ainda.


Paulo Freire nos falava da "Pedagogia do Oprimido".


Augusto Boal nos falava do "Teatro do Oprimido".


E a palavra oprimido, opressão desapareceu dos discursos. Mesmo dos discursos de sindicalistas, políticos, atores sociais, etc. Como num passe de mágica.


Mas que aconteceu? Já demos conta de por um fim à opressão? Vencemos?


Infelizmente não. Longe, muito longe disso estamos; e, creio eu, cada vez mais distante, na medida em que desapareceu do discurso das pessoas a questão da opressão.


Mas, nas conduções do Brasil, as mulheres ainda sofrem constrangimento. Afinal, é um tipo de opressão ou não, esse tipo de atitude masculina?


"A mulher é o negro do mundo." disse John Lennon faz muitos anos; e, ainda hoje, segue sendo o principal foco de opressão da atualidade: nos lares; nos locais de trabalho; nas ruas; onde quer
venha a transitar.


Acabou a opressão? Não.


Como se dá esta nos tempos correntes? Esses nossos Tempos Líquidos (Bauman) de tanta fluidez e tanto mascaramento das realidades.


Exatamente no mascaramento. Um manto de normalidade recobre a sociedade, dando a todos os fatos uma tonalidade mais azul, fazendo com que "aquele pequeno ato" não seja visto como opressivo, mas como uma atitude isolada de uma pessoa em desequilíbrio.


A doença de toda uma sociedade. Doença grave e histórica é trazida ao âmbito da individualidade (Renaut). Com isso temos a impressão do desaparecimento dos eventos vergonhosos.


Mas, nas fábricas, o valor da hora trabalhada segue sendo tão injusta como antes. E a greve, embora seja feita, tem no senso comum um aroma de secular atividade. Coisa do passado. Indigna do nosso tempo.


É possível que a Polícia Militar com sua Cavalaria não adentre mais as fábricas em caso de uma greve. Mas segue sendo usada em casos de reintegração de posse, e fazendo barbaridades. Ou isto
não é uma opressão? Uma forma brutal de lidar com as populações nos diversos paises da América Latina e do mundo.


O mascaramento acima dito trabalha exatamente a linguagem. Estabelece novos termos. Oculta definitivamente alguns. E assim se forma na sociedade um pensar diferente. Sutil. Onde todo
ordenamento parece correto. A ordem burguesa se estabelece como a realidade, a única realidade possível desses nossos tempos.


É a primazia da linguagem nos iludindo a todos. A todos. Mesmo os portadores de uma visão popular da vida acabam se deixando levar por essa onda trazida pela PósModernidade. Nada mudou
concretamente na "Sociedade de Consumidores" (Bauman) e passamos a ter vergonha de usar os termos corretamente, para cada uma das várias situações.


A porra da Luta de Classes não acabou. As discrepâncias regionais não acabaram no Brasil e nem no mundo.


Não tem essa de Fim da História inventada por um tal de Fukuyama muito bem pago pelo Governo dos EEUU para dizer imbecilidades. Caiu o Muro de Berlim apenas, e isso não foi o Fim da História. A Alemanha Oriental sofre nas mãos da Alemanha Ocidental. É oprimida, apesar dos esforços pela reconstrução e equalização de toda a Alemanha unificada.


Salvo Slavoj Zizek, todos os teóricos da PósModernidade tem um discurso cuja linguagem suaviza o mundo atual e suas mazelas, como se não houvesse outra possibilidade além daquela a nós apresentada.


Zygmunt Bauman, mesmo sendo quem melhor descreve a atualidade, não deixa de dar um certo tom de normalidade a tudo o que hoje se apresenta. Repito, como se não houvesse outra alternativa.


Retomando Freire e Boal devo dizer: a opressão não acabou. Vivemos sob o manto do ocultamento através da linguagem. E precisamos criar novas formas de dizer, e bem dizer dessa opressão, e outras tantas mazelas herdadas dos Tempos Sólidos, ocultadas pelo novo linguajar, mas socialmente presentes infelicitando milhares de homens e mulheres ao longo de todo o mundo.


Paulo Cesar Fernandes

15/03/2015


quarta-feira, 11 de março de 2015

Gil na USP - 40 anos de um show histórico

Gil na USP - 40 anos de um show histórico
Por Daniel Brazil - 07/06/2013




Em 1973 a ditadura brasileira se especializava em ações criminosas como sequestro, tortura e assassinato de quem ousasse se opor. Foi o que aconteceu com o Minhoca, jovem estudante de Geologia da USP, que desapareceu no dia 17 de março. Foi visto por outros presos nas dependências do Dops pela última vez, destruído pelos golpes e choques elétricos. Ainda teve tempo de gritar “meu nome é Alexandre Vanucchi Leme, estudo na USP, e só disse o meu nome”.

Seus colegas (um deles, Adriano Diogo, é hoje deputado estadual) se mobilizaram de forma inédita. Algo precisava ser feito, não era mais possível suportar tanta violência. Depois que foi anunciado o “suicídio” de Minhoca pelos órgãos oficiais, uma missa foi organizada na Catedral da Sé, com a participação do cardeal Paulo Evaristo Arns. Caravanas de estudantes se dirigiram para lá na noite de 30 de março (véspera do aniversário do golpe militar), mas a repressão policial também. Com a praça cercada, mais de 50 estudantes foram detidos. Durante a missa, o compositor Sérgio Ricardo cantou, de forma emocionada, a canção Calabouço, cuja letra se refere ao assassinato do secundarista Edson Luís, no Rio de Janeiro, em 1968.

Apesar de todo o simbolismo do ato, uma missa não era suficiente. Era preciso reorganizar o movimento estudantil e criar ações motivadoras dentro do campus, como forma de resistência. E surgiu a ideia de convidar Gilberto Gil para um show quase clandestino.
    
Por que Gil? Chegado a pouco do exílio londrino, Gil fazia shows pelo Brasil, e havia lançado no ano anterior o disco Expresso 2222. Naquela semana estava em São Paulo. Entre 11 e 13 de maio a gravadora Phonogram havia promovido uma espécie de mostra de seus artistas no Anhembi, e Gil havia sido vítima de mais uma violência do regime militar. Os censores presentes ao espetáculo cortaram o áudio dos microfones no momento em que ia apresentar uma canção feita em parceria com Chico Buarque: Cálice.  Uma comissão de estudantes foi conversar com o artista na casa de Tuti Moreno, onde estava hospedado. Entre eles, a jovem Laís Abramo, que havia sido vizinha de Gil na Bahia, nos anos 60. Para surpresa de muitos, ele topou.

26 de maio, sábado, 17:30 h. Num auditório da Poli (o famoso Biênio), com acústica precária e apinhada de estudantes, Gil chegou e avisou que só poderia ficar 30 minutos, pois tinha show agendado à noite. Pegou o violão, dedilhou um pouco, esperou a turma sentar e cantou Oriente. Ficou por mais de 3 horas. Tocou, cantou, falou muito, conversou com o público, discutiu com ele mesmo, apresentou velhas e novas canções. Até crença em disco voador surgiu no meio do papo.

Instado a cantar Cálice, se desculpou dizendo que não sabia de cor a letra, em boa parte escrita pelo Chico. Logo surgiram várias cópias (havia sido publicada num jornalzinho acadêmico), e um estudante segurou a folha de papel enquanto ele cantava. A canção foi bisada no final do extenso concerto, que teve de Domingo no Parque até Só Quero Um Xodó, passando por Back in Bahia. Gil ainda explicou porque achava canções como Procissão e Roda ultrapassadas, com uma visão errada de mundo.

Tudo isso foi gravado pelo Guido, estudante de Engenharia Elétrica e integrante do GTP, Grupo de Teatro da Poli. Um velho e bom gravador de rolo deu conta do recado. As fitas se transformaram num tesouro que ficou escondido pro alguns anos. Na década seguinte, cópias em cassete circularam por várias mãos, e eram ouvidas como se fossem sinais premonitórios do fim da ditadura.
Com a chegada da era digital, as fitas foram masterizadas e digitalizadas por Paulo Tatit. Nunca chegaram a ser negociadas, pois os direitos pertencem à Universal, dona do acervo da Phonogram. Ary Perez, da comissão organizadora do show, conta que Gil recebeu uma cópia e gostou, mas deixou claro que para ele o maior significado do evento era político, por todo o contexto envolvido.

Boa parte dessa história está contada com detalhes no livro Cale-se (Editora Girafa, 2003), escrito pelo jornalista Caio Tulio Costa. Outra parte está aqui pela primeira vez, por conta do depoimento de Ary Perez, um dos responsáveis pela distribuição do CD. O show pode ser encontrado no Youtube.

Fonte: Revista Musica Brasileira.

terça-feira, 3 de março de 2015

20150223 Esperança

Esperança


Quais esperanças alimentaram a Humanidade no transcurso dos tempos?


E não vou tão longe. Salto Antiguidade e Idade Média, paro nas Grandes Navegações.


Quais aspirações impeliam adiante aqueles homens embrutecidos?

Ouro, prata, poder, e todas as coisas permitidas pela posse dessas riquezas, a saber: luxúria; desregramento irresponsável;
desconsideração pelos sentimentos e pela dor dos semelhantes.

Eram feras dominadas pelos instintos mais brutais e abjetos.


Não sou moralista, longe disso. Apenas sei qualificar os fatos do passado.


Apesar da evolução dos tempos, tivemos algo muito diverso na Revolução Francesa?

Nas intrigas dentro das cortes de França e Inglaterra?


Mesmo o Iluminismo. Trouxe requinte aos sentimentos, na mesma medida em que sutilizou a Fera Razão?


A Revolução Russa de Outubro de 1917, teve ilibada trajetória no sentido do estabelecimento do Reino da Justiça sobre a face da
Terra?

Ou foi tão somente a tomada do poder, por uma turba cujo único projeto era o Poder pelo Poder; e o desfrute das benesses dele
provenientes?


Neste mesmo raciocínio tu encontrarás centenas de milhares de outros exemplos. Basta a busca sensata e sensível para tanto.


A questão restante na minha mão é: Que fazer da Esperança?


Essa mesma, companheira desde os mais tenros anos, onde o pensar já se pronunciava como um diferencial, sem com isso perder o contato e o convívio com os demais moleques.


Como manter a maldita Esperança, diante das mortes avassaladoras das mais distintas populações; das mais diversas línguas e culturas?



A Humanidade ainda não nasceu! Por favor entenda o que pretendo dizer com isso.



Todos os discursos até hoje proferidos não passam de palavras vazias de real significação.

São tão somente cenas de péssimo gosto, de uma peça teatral da mais baixa categoria, neste destroçado palco da vida.


Não me peçam para ter esperança!

Hoje, ela não passa de uma palavra. Cuja significação se esvai pouco a pouco, no transcurso do tempo.



Tudo é morto! Preste atenção!

A Terra é uma somatória de repetitivos escombros. Sabe por que?


A Humanidade ainda não nasceu!


Paulo Cesar Fernandes

23/02/2015

domingo, 1 de março de 2015

20150222 Obra de arte

Obra de arte




Escrever é um Rio Coxipó, quando este rio bravio e caldaloso está.




O tempo passa pelas palavras empurrando o célere relógio.




Há magia nisso, bem o sei. Vai além da minha percepção.




A estória se monta segundo sua vontade e fluxo, tal qual o rio. Indomável, se diz per si sem interferência qualquer.




Ela se diz. Ela se basta.




A trama é soberana. Não a comanda o autor ou qualquer dos personagens. Ela se faz comandar por si mesma.




O autor? É mera peça de execução, sem importância maior.




Quando a trama se diz e se faz obra, o trabalho se complete.




O autor apenas lhe põe seu nome.




Paulo Cesar Fernandes


22/02/2015


P.S.: Vermelho. Sempre vermelho, como deve ser quem mira o futuro.