sábado, 30 de maio de 2015

20150530 Discurso

Discurso


Quanto tempo faz a aquisição da fala pelo homem?


Eu não sei, se perde nas linhas do tempo. Eu realmente desconheço. Mas sei ser uma aquisição capaz de ter trazido grande evolução a todos os processos de comunicação e mesmo cognitivos.


Para uma conversa necessariamente precisamos de duas pessoas; a menos que tenhamos alguém capaz de conversar com seus botões, o que não tenho por anormal. 


Que é o pensar, o refletir senão este processo individual na qual dialogamos sozinhos?


Mas o discurso foi conquistado pelo homem; e dessa conquista se iniciou todo um processo de novas conquistas. No diálogo 
construímos novos métodos de fazer uma série de utensílios. 


Surge uma necessidade. Unem-se pessoas. Dialogam, e se houver bom senso a solução consensual se faz presente.


No Lar. Um problema se apresenta. Sentam os componentes ao redor de uma mesa, ou no aconchego de uma sala e dialogam. Isto em um Lar bem estruturado. Deste diálogo, aberto, limpo, onde corações se despem por inteiro só podem brotar soluções.


Aos animais não foi dado ainda o processo de diálogo. Não tem uma linguagem. Embora algumas espécies apresentem formas de comunicação. Quem tem um cão em casa sabe que este  comunica suas vontades; seus desejos e necessidades. Um estudo oriundo da França, feito por Emile Benveniste, defende a tese que as abelhas tem uma forma de comunicação, esta lhes permite dizer às demais da colmeia onde está a fonte de alimento por ela encontrada. É uma forma de comunicação, mas não ainda uma linguagem.


A linguagem é poderosa por permitir a transmissão ao outro de um conteúdo completo de ideias. Um pacote completo de ideias digamos assim. Um todo se transfere ao final do discurso. E o mais 
bonito; o receptor pode reelaborar o recebido, nele interferir, gerando algo ainda mais complexo; podendo criar algo poético de um conteúdo das ciências exatas, por exemplo.


Enfim. Quando os seres humanos unem suas potencialidades criativas, e de interação positiva chegamos a novos patamares de progresso.


Tempo virá onde estas serão a norma das comunicações humanas. Vivemos hoje, ainda, o tempo das contendas; das discussões sem objetivo, ocas de conteúdo positivo.


Mas já foi pior. Os embates entre dois homens já se deram pela espada. Através do duelo, para lavar a honra ultrajada. Um assassinato somado a um suicídio; afinal um dos dois seria o assassino e o outro o suicida.


Sim. Ainda temos guerras. Temos grupos buscando fazer preponderar seu discurso, através da mentira como os sofistas da antiguidade; ou mesmo, infelizmente por meio de agressões de toda ordem.


Podemos ter a ilusão de estarmos dentro de uma barbárie da qual nunca saímos. Discordo do Professor Leandro Karnal quando diz ser a violência inerente ao homem. No montante da sociedade os 
violentos são minoria; admito que uma minoria amedrontadora de todos nós, pois nos tira a vida por um nada. Um objeto qualquer, um olhar mal compreendido e estamos sem vida.


Mas não é assim a maioria dos homens e mulheres habitantes deste nosso planeta. O Bem supera o Mal. Embora o discurso do Mal reverbere muito mais intensamente.


Vejo nosso tempo como um Rito de Passagem da humanidade. Deixamos a falsidade vigente até a década de 50; tivemos a revolução total dos costumes nas décadas 60 a 80; e chegamos aos Tempos Líquidos da Pós Modernidade. Mas ainda estamos em processo, pois nosso Rito de Passagem ainda não teve seu desfecho. 


Assim, não nos cabe a desesperança. Chegamos a patamares intelectuais importantes; já conseguimos ter uma visão de todo do mundo, uma visão holística. Muito embora não nos pareca,dada a 
violência ainda vigente. 


Vemos já, o alvorecer da Revolução dos Neurônios, onde a irracionalidade das nações não mais terá lugar. Os embates refluirão tendendo a zero. E terão espaço a Solidariedade e a Fraternidade proclamadas lá atrás, na Revolução Francesa. A Liberdade individual e coletiva nós já a conquistamos juridicamente, resta a busca individual de Libertação. Tarefa de cada um na Era do Indivíduo.


O nevoeiro pode estar espesso. Mas somos capazes, de através do diálogo, da vontade firme em todos os envoltos na melhora do mundo, criarmos as necessárias condições para a prevalência da Justiça e da Paz sobre a face da terra. Somos muitos mais que imaginamos, somos a maioria na verdade. Mas ainda não fizemos ouvir a nossa voz.


Esse dia vira! A irracionalidade tenderá a zero em um curto espaço de tempo. Nossas vozes serão ouvidas, somos a maioria.


Paulo Cesar Fernandes

30/05/2015

sexta-feira, 29 de maio de 2015

20150529 Pirão de Peixe

Mas afinal...

De onde nasce a música?
Da vida.

Assim foi com Luis Carlos Sá e Gutenberg Guarabira logo após a separação de Zé (José) Rodrix.

Saíram pelo Rio São Francisco em busca de alguma liberdade.

Novos ares inspiram.

===

Eu, que não me julgo tão bobo, peguei a dica e fui por essa estrada de água.

Uma chata de carga e de gente. Com bode, galinhas e gente bonita. Tudo misturado.

Dormindo em redes e comendo a comida da população local. Aprendi muito desse Brasil raras vezes visto nos Meios de Comunicação de Massas. Os MCM tem vergonha do Brasil. Ainda tem vergonha do povo brasileiro. Errados estão.

O mais rico que temos é a diversidade de expressões populares deste pais. Na fala, na cultura, no sentir e no agir. 

Quem sabe dos embrenhados do Brasil é Guimarães Rosa, todos os demais são papagaios. Eu inclusive. Rosa sabe o que faz quando descreve o Ser de cada um  dos seus personagens.

Somos todos brasileiros. Mas Rosa dedilha essa brasilidade como um concertista. Palavras exatas em tempos perfeitos. 

Me dói não o ter visto antes com tal atenção. Mas sempre é tempo de ler Rosa e de ver o Rio São Francisco de perto, chegar a Santos com a roupa barrenta e a alma encharcada de brasilidade. 

Vale a pena viver o Brasil! O Brasil popular!

Peguei o barco em Pirapora das Minas Gerais e dele desci em Juazeiro da Bahia. Muito aprendi. Cada por de sol que apenas ali desfrutei. O Rio-Mar é diferente da Minha Santos. Eu diferente estava na mesma medida.







LP de Sá e Guarabira
Nome: Pirão de Peixe com Pimenta







Sobradinho 
Sá e Guarabyra



O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o 

Sertão ia alagar

O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.

Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, Adeus ...

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Remanso






Fonte: http://www.brasilocal.com/bahia/juazeiro/remanso.html#t=media

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Casa Nova







Fonte: http://www.brasilocal.com/bahia/juazeiro/remanso.html#t=media

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Sento-Sé








Fonte: http://www.brasilocal.com/bahia/juazeiro/remanso.html#t=media

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Pilão Arcado







Fonte: http://www.ferias.tur.br/fotos/919/pilao-arcado-ba.html

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Sobradinho




Fonte: http://www.blogviniciusdesantana.com/sobradinhoba-celebra-

seus-25-anos-de-emancipacao-politica-veja-a-programacao/

quarta-feira, 27 de maio de 2015

20150527 Discurso inaugural do futuro

Discurso inaugural do futuro






O contexto intelectual

Outubro de 1818. A Europa está pacificada e a Santa Aliança impõe sua organização. A Alemanha, que foi profundamente convulsionada, reencontra sua ordem, seus sonhos, e a realidade. 


Na Prússia, a tradição, solidamente reinstalada, reintegra as "liberdades" com que teve de consentir no momento de perigo. Das margens do Neva à embocadura do Tejo, em toda parte, restaura-se. Hegel — que beira os cinqüenta anos —já está de posse de seu sistema Deixou Heidelberg, onde foi professor durante dois anos, e atinge a consagração.


Acaba de ser chamado a Berlim, para a cátedra de filosofia, a mais cobiçada da Alemanha. Pronuncia seu discurso inaugural:

===


Ao me apresentar hoje pela primeira vez nesta Universidade na qualidade de professor de filosofia função para a qual fui chamado pelo favor de S.M. o Rei, permitam-me dizer neste prólogo o quanto, no que me diz respeito, considero particularmente desejável e agradável dedicar-me a uma atividade acadêmica mais importante, exatamente neste momento e neste lugar. Quanto ao momento, parece terem se produzido circunstancias em favor das quais a filosofia pode de novo prometer despertar a atenção e a simpatia, e essa ciência, quase reduzida ao silêncio, pode ter esperanças de novamente elevar a voz. 


Na verdade, ha pouco tempo ainda, era, de um lado, a miséria da época que atribuía grande importância aos interesses mesquinhos da vida cotidiana e, de outra parte, eram os grandes interesses da
realidade, o interesse e as lutas para restabelecer antes de mais nada e salvar em sua totalidade a vida política do povo e do Estado, que se apoderavam de todas as faculdades do espírito, das forças de todas as classes, assim como dos meios exteriores, a tal ponto que a vida interior do espírito não podia ter um pouco de tranqüilidade. O espírito do universo, tão ocupado com a realidade, atraído para o exterior, via-se impedido de recolher-se ao interior e a si próprio, para devolver-se à sua pátria e nela usufruir de si mesmo. 


Hoje, quando essa torrente de realidade se partiu e a nação alemã salvou de maneira geral, sua nacionalidade, fundamento de toda vida verdadeiramente vivente, chegou também a hora do livre império do pensamento florescer no Estado, da maneira que lhe é própria, ao lado do governo do mundo real. E a pujança do espirito se fez valer nessa época, a tal ponto que só as idéias individuais, e o que lhes é conforme, são o que pode hoje, de maneira geral, se manter, e o que quer ter algum valor deve justificar-se diante da sabedoria e do pensamento. Foi especificamente este Estado que me acolheu que por sua preponderância intelectual se elevou à importância que lhe convém no mundo real e político, tornando-se igual em poder e independência a Estados que lhe teriam sido superiores por seus meios externos.


Neste Estado, a cultura e o florescimento das ciências são um elemento dos mais essenciais na vida do Estado. É preciso também que nesta Universidade a Universidade do centra o centro da cultura do espírito, de toda ciência e de toda verdade, a Filosofia, encontre seu espaço e seja por excelência um objeto de estudo. Não é apenas de uma maneira geral, a vida é espírito que constitui um 
elemento fundamental da existência deste Estado, porém mais precisamente, essa grande luta do povo unido a seu príncipe por sua independência, pela ruína de uma tirania estrangeira e bárbara e pela liberdade extraiu sua origem de mais alto, ou seja, da alma. 


Foi a força moral do espírito que, tendo sentido sua energia levantou sua bandeira e deu ao seu sentimento o valor de um poder
e força reais. Devemos considerar como um bem inestimável que nossa geração tenha vivido, agido e obtido resultados que têm esse sentimento, sentimento em que se concentra tudo que é direito, 
moral e religioso. — Numa ação profunda e universalmente abrangente desse gênero, o espírito eleva-se em si mesmo até sua dignidade própria; a trivialidade da vida e a banalidade dos interesses desaparecem, e a superficialidade da inteligência e das opiniões revela-se em sua nudez e se dissipa essa seriedade profunda que penetrou a alma é o verdadeiro terreno da filosofia. O que, por um lado, se opõe à filosofia, é a atitude do espírito que mergulha nos interesses e na necessidade cotidiana, e por outro, a vaidade das opiniões; a alma que sofre essa influência não tem lugar algum para a razão, que não busca o interesse particular. Essa frivolidade deve dissipar-se em seu nada, quando para o homem tornou-se uma necessidade esforçar-se pelo substancial, e quando se chegou ao ponto em que só esse elemento substancial pode se fazer valer. 


Ora, vimos nosso tempo concentrar-se nesse elemento, vimos formar-se a semente cujo desenvolvimento posterior, sob todos os pontos de vista, político, moral, religioso. cientifico, foi confiado a 
nossa época.


Nossa missão e nossa tarefa consiste em consagrar nossos esforços ao desenvolvimento filosófico desse fundamento substancial, atualmente rejuvenescido e fortificado.

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Segue Chatelet:

Sem dúvida, trata-se de um discurso solene. Hegel o compõe com os hábitos universitários. Nem por isso diz menos exatamente o que quer dizer em tais circunstâncias. E o que quer dizer, o que quer 
definir, é sua própria atitude — isto é, a atitude do teórico que elaborou o saber que permitiu à filosofia tomar-se Ciência — diante da "realidade dos fatos". Assim, indica não apenas que, 
segundo ele, ou seja, segundo o saber conseqüente, se estabelece entre a atividade teórica e a situação histórica uma relação necessária, mas também determina como compreende essa situação em seu conteúdo. É esse o ponto no qual devemos, no momento, nos deter. A situação de 1818, em Berlim, na Prússia, na Alemanha, mas também em toda a Europa (Europa que aos olhos de Hegel, numa demonstração que teremos de analisar, a Alemanha "simboliza"), é entendida como resultado. E o que rendia, após uma tensão dramática, é um apaziguamento. O apaziguamento, se lermos bem, estende-se a dois domínios, que aliás remetem um ao outro.


Num primeiro sentido, a "realidade" está agora acalmada: não apenas é legitimo devolver à trivialidade aqueles que se deixam levar pelos dramas e desvios da existência cotidiana, mas é justo 
reconduzir às suas proporções normais aqueles que, dedicados à salvação de seu povo ou do Estado, se consagraram às necessidades que, por serem heroicas, nem por isso eram menos particulares.


Em segundo lugar, e ao mesmo tempo, a opinião se apaziguou, e isso na medida em que não pôde deixar de manifestar a simplicidade de sua natureza profunda: quase não pode mais negar, agora que o curso do mundo se tornou sensato, que sua essência se diluiu por entre os cálculos do interesse pessoal e os caprichos da paixão subjetiva.


===

É digno de nota a grandeza de Hegel quando atribuí à filosofia e à sua época o condão de melhora da humanidade, "sob todos os pontos de vista, político, moral, religioso. cientifico".

Seu sistema seria assim como um todo completo. Não tenho capacidade de avaliar ou ter posição firmada. Apenas tenho prazer em me aproximar de homens de bem, como é o caso de Hegel. 

Digo sempre que precisamos fazer o Bem no mundo. Pois para fazer o Mal e para ter o Mal dentro de si já contamos com muita gente.


Paulo Cesar Fernandes

27/*05/2015

terça-feira, 26 de maio de 2015

20150526 São Paulo Outono-Inverno

São Paulo Outono-Inverno


E o outono vem trazendo o frio, manhoso como a gata da madame sobre o móvel, caminhando entre seus enfeites, sem quebrar nada.


Assim é o outono, não quebra a sequencia natural da vida, mas nos 
entrega a pouco e pouco um friozinho, um chamar para dentro de casa. Uma busca de aconchego. Chama uma manga comprida. Um chá em caneca grande.


Cumpre o seu destino. Ser o intermédio entre o verão e o inverno.


Abre para todos nós as portas da "Estética do Frio" tão bem descrita por Vitor Ramil. E na medida em que o tempo passa nos vemos mais e mais nesse novo tempo. 


Belo tempo das mulheres bem vestidas. Elegantes. A desfilar seus 
trajes pela Avenida Paulista. E no fim do dia, buscando os lugares 
especiais da Zona Sul da cidade, na região do Borba Gato. Uma casa de chás, produtos naturais, escondida no meio da voragem da cidade imensa. Um quintal preparado com mesas toscas e sem o menor frio. Perfeito para uma conversa a baixa voz.


Há locais onde tudo é perfeito; e o inverno apenas dá as pinceladas 
finais, ao grande quadro da beleza da Vida.


Paulo Cesar Fernandes

26/05/2015

domingo, 24 de maio de 2015

20150524 Foco da alma

Foco da alma


Primeira vez me ocorreu numa aula de Linguagem Arquitetônica. Me assustou demais. E só me dei conta ao voltar.


Estava de tal forma envolto na atividade, o meu corpo não era. Eu era a atividade em questão. Um desenho do Morro do São Bento na minha cidade de Santos.


Quando percebi ter passado grande hiato de tempo, sem nada sentir, e ter foco apenas no trabalho foi uma descoberta para mim. Braços, pernas, mãos, todos ausentes em que pese eu desenhasse.


Tenho certeza, muitos de nós termos passado por tal experiência. O nãoEu desaparece e somos todo EU. Desenvolvendo alguma atividade.


Depois daquela aula, muitas outras vezes me vi em semelhante situação; quando trabalhava na Prefeitura de Santo André, onde além do cargo de Gerência, tinha muitas atividades técnicas sob minha responsabilidade. Em muitas ocasiões o fenômeno se repetiu. O tempo simplesmente não existe. Somos totalmente a atividade na qual trabalhamos. Não fome. Não sede. Nada.


O EU, Ser, Espirito ou alma se contrai, faz sua energia toda se deslocar para o objeto em questão. Mecanicamente, sem a racionalidade no comando.


Muitas oportunidades, nas meditações de fim de dia, quando alguns livros me prendem atenção, assim me vejo. Sou todo abstração. Saio do corpo, e sou apenas a leitura em foco.


E são essas coisas, os elementos capazes de nos elevar até Forças da Natureza superiores a nós. Nos projetamos para o Bem. E uma capa protetora nos guarda de todo mal.


Estes momento nos fazem mais fortes diante das dificuldades da vida. Estejamos certos, das dificuldades não escapamos, mas se fortalecidos, elas se nos apresentam de uma dimensão insignificante.


Sem religião, sem instituições, sem nada a nos comandar. Criamos um clima mental favorável, e abrimos as portas da alma ao Bem. 


Todo o resto ocorre pela Lei de Afinidade. O Bem chama o Bem. Assim como o Mal chama o Mal.


Simples assim é a Vida real. Nós temos a capacidade de complicar todas as coisas.

Viver Bem é saber se projetar no universo da abstração, do conhecimento. Acredite. Para isso nascemos.


Paulo Cesar Fernandes

24/05/2015

sábado, 23 de maio de 2015

20150523 Insensatez

Insensatez



Como pode o pais do Professor Paulo Freire ter uma das piores taxas de analfabetismo do mundo. 

Ter uma educação humilhante. O título de Professor humilha.



Claro está, não há governo de crápulas interessado em ter um povo educado, inteligente e criticamente pensante. Que seria do coronelato tão presente ainda no Brasil?



Não é por pouco que o PMDB tem a força. É em função do coronelato dos diversos rincões do Brasil profundo. Quem conhece o Centro-Oeste; e o Nordeste bem sabe como a vida se estrutura: nos pequenos favores a cada ocasião, e depois a cobrança nos tempos de eleição. 


O caminhão pipa na terrinha do Ticão Zózimo. Uma dívida. 


A cesta básica na casa de Maria Frigéria, idosa cujo marido se foi. Outra dívida. 



E assim de um montão de nadas se amarra toda uma população. 


E ninguém teve coragem e interesse em desmontar tais esquemas.



Sonhei em 2003 numa Campanha Nacional de Alfabetização Popular. Algo parecido ao ocorrido em 1980 na minha querida Nicarágua Sandinista; quando jovens se embrenharam por todos os rincões do pais decrescendo quase a zero a taxa de analfabetismo. 



E de quebra tais jovens se punham a par das condições verdadeiras do pais podendo ajudar na sua modificação. E modificações se fizeram. Não me importa se hoje o sandinismo esqueceu de Augusto C. Sandino; de Carlos Fonseca ou dos sonhos históricos. 



Os alfabetizados seguem lendo. As famílias beneficiadas pela Reforma Agrária seguem produzindo para o pais. Quando um pais chega a um patamar civilizatório nada o faz regredir, pois uma população não mais abre mão das conquistas.



Perdemos muitos companheiros na pequena Nicarágua. A defesa da frente norte, fronteira com Honduras, era realizada por crianças de 12 a 15 anos. "A Revolução das Crianças" como chamou Caco Barcelos em seu livro.



Mas hoje meu foco é o Brasil, o Brasil que perdemos, fugiu de nossas mãos e está nas mãos incompetentes, inábeis e desonestas de gente sem o menos amor ao seu chão e ao seu povo. Amam a si mesmos, e a nada mais. 



Intencionalmente não educam. 




Educadores fazem dos cargos administrativos ou sindicais rota de fuga das suas funções pedagógicas. Isto porque: o Brasil despreza seus educadores. E os despreza para tudo seguir da mesma forma como sempre foi. 



Exploradores e Explorados na mesma situação.



Os governos Dilma e Lula odeiam o Professor Paulo Freire. Odeiam o Professor Anísio Teixeira. Odeiam o Professor Darcy Ribeiro.



Lula e Dilma odeiam o conhecimento, pois só entre ignorantes eles tem penetração.



Eu sou Paulo Cesar Fernandes um espírito ocupado e preocupado com o conhecimento desde meus mais remotos anos. E quero um Brasil liberto de todo tipo de pragas, principalmente a praga do autoritarismo petista.



Lutei, vivi, militei. Inclusive no PT.



Sigo lutando, vivendo e militando na construção de um pais capaz de nos dar orgulho de nele viver.



Não temo ninguém e nada. Minha vida, minha vitalidade ninguém vai tirar. Podem acabar com meu corpo, mas nunca acabarão comigo e com minhas ideias.



Eu e elas estamos muito além do que podem pensar os medíocres de plantão, nas instituições todas.



Nossa "Revolução dos Neurônios" sairá vencedora mais cedo ou mais tarde. Pois ela nasce da necessidade natural do progresso da humanidade.



Não adianta. Atrás de mim virão centenas de idealistas iguais ou piores que eu.



Somos o fermento que leveda o pão do conhecimento. O único capaz de alimentar a humanidade inteira.



Uma nova multiplicação dos peixes se urdirá no seio da nova sociedade planteada por mim, e por tantas outras pessoas cujo coração está voltado para a grandiosidade da Vida em todas as suas dimensões e em todas as suas expressões.



Pela educação, pelo conhecimento, e pela Vida em Abundância!



Saúde e Paz aos homens de boa vontade nesta  terra de males tantos.



Portal Fernandes

23/05/2015

20150523 Jabucando




|:Eu sou lá da Caneleira
  Vivo com a bola no pé
  De manhã, a tarde inteira
  Penso que sou o Pelé
  Sou dos clubes o primeiro
  Da paulista federação
  Carrego das veias
  O sangue dos meus avós.:| Refrão


Tenho história e bandeira
Vitórias de encher o gogó
Sou o Jabuca mais querido
Não brigo na rua
Gramado sou forte
Só penso na decisão


|:Eu sou lá da Caneleira
  Vivo com a bola no pé
  De manhã, a tarde inteira
  Penso que sou o Pelé
  Sou dos clubes o primeiro
  Da paulista federação
  Carrego das veias
  O sangue dos meus avós.:| Refrão


Paulo Cesar Fernandes

02/05/2015




Para ouvir:

http://www.4shared.com/music/op4n2iG5ce/Jabucando_02.html

sexta-feira, 22 de maio de 2015

20150522 Propriedade

Propriedade


As ideias não são minhas; não são tuas; são do mundo.

Estão por aí, no ar...

Somos apenas antenas transcodificadoras daquilo que já existe em outras dimensões. Ocultas à dimensão do nosso consciente. Consciente pessoal ou consciente coletivo.

No registro ancestral de vivências tantas do passado pessoal e do passado da História Universal.

Dimensões tantas desprezadas por boa parte da humanidade se bem pensarmos.

Não se julgue dono de nada.

Nada nos pertence ao fim e ao cabo.

Toda vaidade é vã; sem sentido.

O sentido da vida? Tu me perguntas?

Viver intensamente, e deixar viver, ora pois.

E todo o resto é ilusão, acredite.


Portal Fernandes

22/05/2015



N.B.: 

Escrito na avenida da praia, dentro do carro, a caminho do supermercado, numa parada junto à guia, com muito medo de ser assaltado. Paranóico? Pode ser. Mas, os que nunca o são, já não estão entre nós. 

Precavido por certo. 

Mas por que motivo parar ali? 

Pelo fato das ideias serem voláteis as sacanas. Temperamentais. 

Se não as atendemos em seu momento nos abandonam. Voam distantes de nós para não mais voltar. 

Aprendi. As registro ou as perco. Assim é. 



quinta-feira, 21 de maio de 2015

20150521 Alguém era comunista

Alguém era comunista


Qualcuno era comunista (Alguém era comunista
Giorgio Gaber e Sandro Luporini
Tradução: PC


Alguém era comunista pois nascera em Emília.
Alguém era comunista porque o avô, o tio, o papai...
    ... a mamma não.

Alguém era comunista pois via a Rússia como uma promessa, a China como uma poesia, o comunismo como o paraíso terrestre.

Alguém era comunista pois se sentia só.
Alguém era comunista porque havia tido uma educação católica demais.

Alguém era comunista porque o cinema o exigia, o teatro o exigia, a pintura o exigia, a literatura também... tudo o exigia.

Alguém era comunista porque lhe haviam dito.
Alguém era comunista porque... não   lhe   haviam   dito   tudo.

Alguém era comunista porque... antes... antes... antes... era fascista. 
Alguém era comunista porque havia percebido que a Rússia andava devagar, mas ia longe. (Risos...) longe 

Alguém era comunista porque Berlinguer era uma pessoa de valor.
Alguém era comunista porque Andreotti não era uma pessoa de valor.

Alguém era comunista porque era rico mas amava o povo.
Alguém era comunista porque bebia o vinho e se comovia nas festas populares.

Alguém era comunista porque era tão ateu que tinha necessidade de um outro Deus
Alguém era comunista porque era tão fascinado pelos operários que queria ser um deles.
Alguém era comunista porque não podia fazer mais ao operário.

Alguém era comunista porque queria o aumento do salário.

Alguém era comunista porque a revolução hoje não, amanhã talvez, mas depois de amanhã seguramente.

Alguém era comunista porque a burguesia, o proletariado, a luta de classes...

Alguém era comunista para fazer raiva a seu pai.
Alguém era comunista porque via apenas RAI TRE (TVs italianas de direita.

Alguém era comunista por moda, outro por princípio, outro por frustração.

Alguém era comunista porque queria estatizar tudo.
Alguém era comunista porque não conhecia os empregados das estatais, paraestatais e afins.

Alguém era comunista pois havia trocado o Materialismo Dialético pelo Evangelho segundo Lênin.

Alguém era comunista pois estava convicto de ter dentro de si a classe operária.
Alguém era comunista porque era mais comunista que o outro.
Alguém era comunista porque era o grande Partido Comunista.
Alguém era comunista apesar de ser o grande Partido Comunista.

Alguém era comunista porque não havia nada de melhor.

Alguém era comunista porque tínhamos o pior Partido Socialista da Europa.
Alguém era comunista pois um Estado pior que o nosso, só em Uganda.

Alguém era comunista pois não se agüentava mais depois de quarenta anos de governo Democrata Cristão, incapaz e mafioso.

Alguém era comunista porque Piazza Fontana, Brescia, a Estação de Bologna, o Italicus, Ustica, etc. Etc. Etc.

Alguém era comunista pois quem era contra era comunista

Alguém era comunista porque não suportava mais aquela coisa porca que teimávamos chamar democracia.

Alguém acreditava ser comunista, e talvez fosse qualquer outra coisa.

Alguém era comunista pois sonhava com uma liberdade diferente daquela americana. 
Alguém era comunista porque acreditava poder ser vivo e feliz por estar junto do outro.


Alguém era comunista pois tinha um impulso para alguma coisa de novo. Porque sentia a necessidade de uma moral diferente. Porque talvez fosse apenas uma força, uma vontade, um sonho, só um lançar-se, um desejo de mudar a coisa, de mudar a vida.

Sim, alguém era comunista porque, ao lado deste lançar-se, era como... mais que ele agora. Era como... duas pessoas em uma. De uma parte a vida quotidiana e de outra o senso de pertencer a uma raça que queria saciar a vontade de mudar verdadeiramente a vida.


Não. Nada muda. Talvez ainda agora muitos tenhamos aberto as azas sem ser capazes de voar...  como gaviões hipotéticos.

E agora? Ainda agora nos sentimos como se fossemos dois. 


De uma parte o homem enquadrado que atravessa esquálido a sobrevivência quotidiana


E de outra o gavião sem mesmo a intenção de vôo pois o sonho se retraiu.



===

O sarcasmo mordaz desses gênios merece reflexão.
Um texto escrito na ocasião da morte de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas.
Os autores ficaram com muita dúvida em tratar ou não do tema.
Deixaram passar bastante tempo para dar a conhecer esse texto.
Luporini conta que seria muito duro para o povo italiano lançar no momento em que foi escrito.



Paulo Cesar Fernandes

21/05/2015

20150517 Filete

Filete


E minha vida escorre fina qual filete d'água. Dia após dia. Tarefinha após tarefinha.

Se trabalho?

Pois claro. Toda atividade útil é trabalho, segundo minha forma de pensar.

Mas em nada eu tenho pressa. Leio livros a poucas doses por dia. Algumas páginas tão somente.

Mas muitos livros ao mesmo tempo. Registrando ou fichando o que de melhor neles vejo. Isto não é apenas ler, é algo mais. Dá a pensar, e isto é meu trabalho, pensar o lido. Elaborar.

É coisa de pouca serventia? Talvez o seja. Mas é no registro que aprendo e apreendo cada um dos conceitos. Dá trabalho aprender.

Que a morte me vem, lá isto é certo; pois para semente não vou ficar. Não a temo e nem a quero tão perto, há projetos a findar.

E assim sigo; em gotas de paciência, vendo o tempo a rolar. E boas marcas no caminho busco cada dia deixar.

Seja minha lembrança no futuro; mesmo de um intransigente; mas tendo sempre a Justiça e a Ética como lemas pela frente.

Bem trato do corpo. Sem álcool, tabaco e frituras. Caminho algo a cada dia, não talvez o quanto devia.

Na busca do reto caminho; bem perto dos cuidadores; que me chegaram um dia, matando toda a sede da paz que eu pedia.


Portal Fernandes

17/05/2015


20150421 Brasília

Brasília


Te vi. Menina.


Corriam os anos de 1974, e como eram estreitos os horizontes das liberdades para todos nós. Ditadura Militar sufocante.


Mas os horizontes sem fim dos teus espaços nos faziam esquecer de tudo aquilo. Oscar Niemeyer enchia nossos olhos de sonhos; mas o medo era meu mais fiel companheiro.


Num repente, uma lufada de vento me traz o sorriso de JK. Como foi bom!


Outros ventos te vieram tocar afinal.


Alijado de ti? Apenas o povo. Para quem és fria e distante.


Nestes teus 55 anos me rendo à tua beleza. Parabéns mulher!


Ventos éticos varram tuas esplanadas!


Paulo Cesar Fernandes

21/05/2015

20150425 Anoitecer na vida

Anoitecer na vida


Quando o dia chega de noite eu subo alguns degraus, vendo o mundo de modo diferente.

O coração não se atordoa com as mazelas do mundo. 

Certa "fé na vida" (Gonzaguinha) se envolve em minha alma trazendo um outro sentir; uma certa compreensão, ausente nas demais horas do dia.

Sim. Há uma magia nesse tempo do anoitecer. Certos dias me (a)parecem outras tantas companhias. Forças da Natureza a me acolher na sua paz.

Que posso então dizer?

Gracias amig@as!


Paulo Cesar Fernandes

21/05/2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

20150520 Amarelada foto

Amarelada foto


Vejo a foto antiga
Guardando um sabor de ausência
Pois todo vazio traz consigo
Uma dor não dizível.


Não há possível alegria
Sem ela partilhando passos
Mas a presença é angústia
Desenho torto a cada traço.


Olhos felizes, cabelos ao vento
Mas azedume forte dentro
E a distância uma vez mais
Foi o possível viver


Cada qual em seu lugar
Avança na paz e no saber.

Mas...
...na mão segue uma foto antiga.


Paulo Cesar Fernandes

20/05/2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

20150514 Acerca de Oriente (Gilberto Gil

Acerca de Oriente (Gilberto Gil

Oriente 
Gilberto Gil

Não deixe de ouvir com grande orquestra:

https://www.youtube.com/watch?v=Q4UFG-XL3iU


Se oriente, rapaz 
Pela constelação do Cruzeiro do Sul 

Teria essa constelação algo a ver com o momento ditatorial do Brasil?
A constelação que consta em nossa bandeira. Sarcasmo do poeta?


Se oriente, rapaz 
Pela constatação de que a aranha 
Vive do que tece 
Vê se não se esquece 
Pela simples razão de que tudo merece 
Consideração 


Só a aranha vive do  que tece? 
Ou todos nós vivemos do tecido dos nossos pensamentos e atos?
Quando nos pede consideração é para irmos mais fundo no dito acima.
Tiremos ilações mais profundas das palavras aparentemente soltas, mas amarrando sentidos mais densos.
Principalmente naqueles tempos difíceis de viver. 
O temor nas ruas como hoje, mas o tremor nas mãos conforme os livros que nos iam junto.
Diante do negror dos tempos que nos diz?



Considere, rapaz 
A possibilidade de ir pro Japão 
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão 
Pela curiosidade de ver 
Onde o sol se esconde 
Vê se compreende 
Pela simples razão de que tudo depende 
De determinação 


Pega de uma vez as rédeas da tua vida e faz tu a tua jornada.
Não permitas que outros determinem teus caminhos. És Livre.
Te permitas um grande voo sobre todas as coisas e sobre o próprio tempo.
Nada e ninguém te prenda. 




Determine, rapaz 
Onde vai ser seu curso de pós-graduação 
Se oriente, rapaz 
Pela rotação da Terra em torno do Sol 
Sorridente, rapaz 
Pela continuidade do sonho de Adão


Todos somos planetas girando ao redor de algum Sol.
Dentro da total liberdade que nos é inerente.
Temos uma órbita a cumprir.
Um tem a família como foco central.
Por ser livre é capaz de melhor amar os familiares.
Outro tem o trabalho.
Quando livres trabalhamos melhor, pois escolhemos o trabalho, e nele nos completamos.
Ainda um outro elege alguns sonhos para seu centro de preocupações.
Livre que foi na escolha, se sente feliz em vê-los realizados pouco a pouco.

Um Ser Humano sem oriente e sem norte apenas sobrevive, sem deixar marcas de sua passagem pelos caminhos de nosso  planeta.

Viver é muito mais. 
Minimiza as dificuldades.
Afinal viver traz a felicidade.


Eu o chamo de filósofo, me refiro ao Gilberto Gil, pois de muitas das suas canções podemos extrair lições de grandeza espiritual.


Paulo Cesar Fernandes

14/05/2015






segunda-feira, 11 de maio de 2015

20150426 A verdade de cada um

A verdade de cada um


A vida nas mãos. Tem o médico.



Mas não. O tilintar das moedas lhe exerceram fascínio irresistível, abandonou seu posto em Carinhanha, nas margens do Rio São Francisco. Era bem quisto pela população do local, gozava de prestígio em todos os locais; dos mais pobres aos mais ricos.

Partiu deixando para trás toda uma população. Para trás ficaram ainda os sonhos dos anos de faculdade e residência na UNIFESP ou Escola Paulista de Medicina; residência conquistada a duras penas,
através de noites seguidas sobre livros: Fisiologia Médica era seu tema principal; doenças tropicais; e outras tantas disciplinas. Precisava estar seguro no momento dos exames.

Pai famoso não tinha. Mas competência e garra não lhe faltavam.

Os mimos diversos da população não mais lhe bastavam. Ansiava por mais após cinco anos de entrega total àquele povo ribeirinho.

Seus colegas de turma, chegando a cargos importantes em Secretarias de Estado da Saúde o abalou nas convicções e sonhos. Estava em questão o idealismo do passado.

_ Eu preciso crescer. Carinhanha é local pequeno para mim, para meus conhecimentos todos. - Comentava sempre junto aos companheiros de trabalho da cidade ribeirinha.

_ Mas o povo te ama Igor. Vai largar isso tudo?

_ Não dá. Eu quero mais. Muito mais.

Ao chegar de volta a São Paulo retorna aos bancos da universidade, se especializando em cardiologia. Um casarão da Avenida Brasil, no Planalto Paulista era seu consultório. Antiga sede de um banco de renome. Seu nome se espalhou muito rápido na capital. Tratava os paulistanos com o mesmo carinho aprendido em Carinhanha.

Atendia das sete às vinte e uma, desmesurado no trabalho. Seus pacientes eram da elite paulistana, gente de projeção nas mais diversas áreas. Mas sua vida era um inferno total, se alimentava
sempre correndo. Sabor de alimento não mais sentia, mal mastigava e engolia. Cuidava com rigor da anamnese de cada paciente, mas procurava não deixar ninguém esperando. 

Uma tarde lhe desmarcou a consulta um paciente, pediu à moça não chamasse de imediato o próximo alegando necessitar um tempo para si.



Deitou na maca e seu corpo todo desacelerou. Um desmonte do corpo e da alma. Nesse hiato de tempo, reviu os fins de tarde nas quais gerenciava o ritmo do Rio São Francisco.




_ Hoje você está mais bravo meu menino? Estou de olho como toda tarde.

Desce dos seus devaneios e da maca. Pega um copo de água e vai à janela. O trânsito da cidade fervia. Foi a primeira vez que olhara a rua depois da visita com o corretor para o acerto do aluguel; bem dizendo após o início do trabalho. Nesse momento ouviu buzinas e palavrões pela primeira vez, desde que iniciara o processo de trabalho.

Vai ao armário onde estavam as fichas dos clientes. Se assusta com o número deles. Mas havia decidido.

_ Sei que é muita gente, mas eles hão de me entender. É uma retomada de vida. 

_ Que houve Doutor Igor?

_ Por favor minha filha, não marque novas consultas, nem para antigos pacientes. Diga que eu precisei me ausentar definitivamente da cidade.

_ O senhor está doente?

_ Não. Mas vou ficar a seguir no ritmo de agora. Vou me recolher a uma vida mais pacata. Por favor avise a imobiliária que em dois meses liberamos esta casa.

Rosinha olhava Doutor Igor sem entender nada.

_ Esse seu rosto parece um ponto de interrogação.

A moça sorri, balançando afirmativamente a cabeça.

_ Eu explico minha filha. Estes quatro para cinco anos de grande riqueza me empobreceram a vida. Não estou vivendo mais.

_ Que fará da sua vida Doutor?

_ Volto para Carinhanha. Remonto meu consultório agora com mais uma especialidade em mãos. 

_ Então estou despedida? - diz Rosa.

_ Fale com seu marido, se decidirem terão acolhida na cidade. Você segue comigo e ele dando suas aulas de música.

_ Mas assim tão de repente o Doutor decide?

_ Na verdade me orienta o coração, afinal sou cardiologista, e ele me diz da necessidade maior do momento: simplicidade e afeto. A cidade simples e Anamara a minha amiga de lá.

Igor sai para chamar o próximo paciente, mas já com uma calma nunca vista por Rosinha. Nessa hora Rosa percebe não ser uma coisa assim repentina. Essa orientação do coração tinha rabo de saia pelo meio.

Os dois meses seguintes foram de desaceleração.

Passado o tempo necessário uma grande faixa se estendia de lado a lado na frente da casa: A L U G A.

Não há como negar: os sonhos são sempre mais fortes que nós.


Paulo Cesar Fernandes

26/04/2015


Fotos de: http://www.ferias.tur.br/fotos/507/carinhanha-ba.html

domingo, 10 de maio de 2015

20150510 Do que brota em nós

Do que brota em nós

Carl Gustav Jung


Há um tudo e um nada no rigor dos tempos. 

A certeza e a dúvida se complementam no correr da vida. São elementos adicionais ou complementares mas compõe a jornada. 

Somos todos seres desejantes; esguios às mudanças, somos homens e mulheres em busca de algo, sem saber ao certo do que seja. Transitamos em círculos muitas vezes, pensando estar cumprindo uma meta. Meta metade meta de algo mais concreto. 

Mas tudo é verdadeiramente fugaz, não se pega o tempo e os momentos com as mãos. Mesmo a lembrança no correr dos anos vai esmaecendo, esfumaçando e a vamos perdendo do chamado consciente.

Renasce. Num repente. Brotando do inconsciente, pessoal ou coletivo. E não sabemos como nos brota tal coisa em tal momento. Se formos sábios deixamos apenas o fluir das coisas. Pois as coisas 

brotando se dizem a si mesmas. São autodizentes, como as personagens de um romance. Trazem em seu âmago todo um discurso sendo a nós dada a responsabilidade de decifração.

Não trazemos o inconsciente por vontade nossa. Não nos é dado esse poder. Ele se projeta quando lhe apraz, para nos dar notas de nós mesmos. 

E somos sempre surdos aos seus conselhos e chamados. A concretude, na material vida cotidiana, nos faz escravos do consciente apenas. Toda metafísica, toda metapsíquica é um engodo e deve ser reprovada; diz nosso Racional viver.

_ Esse sentimento nada tem a ver com a realidade. Devo estar sonhando acordado. Largar dessa besteira. O trabalho sana tudo. Onde eu estava na lógica desse programa da contabilidade? 


Assim fugimos, aos apelos do nascido no mais profundo de nós. Jogamos fora ainda, o trabalho de um Gustave Geley; de um Freud; de um Jung. Como se fossemos senhores da verdade. Uma verdade 
verdadeiramente inexistente.


Temos medo. Isso sim. Medo de nossa realidade, e usamos o trabalho poético e literário; o trabalho braçal; fazemos de tudo para calar, ou não ouvir o nascido das catacumbas do nosso passado 
remoto, ou mais recente. Quando, o mais sereno e belo, seria acolher e dar trato, a cada elemento emergente; buscar dele a significação. Isso sim teria uma função terapêutica; ajudaria na 
recomposição do nosso Ego; em geral fragmentado, por pancadas recebidas e desferidas em nossa sociedade de competição e ódio.

Um Ego restaurado nos predispõe ao amor. É a contraposição ao ódio vicejante em nosso mundo.

E para que eu estou na vida? E para que tu estás na vida?

Para amar. Desde o núcleo familial; amigas e amigos de rua e do bairro; ambiente da escola e do trabalho; país e mundo. Nessa progressão se desenvolve o aprendizado do amor.

E nessa disciplina não há mestre ou doutor. Somos todos aprendizes. Uns, mais sagazes, estão mais na frente; recalcitrantes, estamos mais na retaguarda, mas não fugimos a essa lei.

Viver? É aprender. E dentre todas as coisas, aprender a amar. 


Paulo Cesar Fernandes

10/05/2015