sexta-feira, 25 de setembro de 2015

20150925 Zeca Afonso Cantigas do Maio 1971

Zeca Afonso
Cantigas do Maio
1971



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Cantigas do Maio é um álbum do músico José Afonso, editado e lançado no Natal de 1971.
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Este álbum é apontado como marco e ponto alto na carreira do artista, músico, cantor e poeta José Afonso. Trata-se de um álbum inovador a vários níveis dentro da carreira do seu autor. Tal deve-se, em parte, também encenação musical inovadora de José Mário Branco, produtor do disco. À viola e guitarra tradicionais, José Mário associou trompete, flauta, acordeão, piano e diversas formas de percussão, que revelam definitivamente a grandeza do poeta-cantor José Afonso.
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Contexto
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O aparecimento deste álbum coincide com a revelação ou confirmação de novos cantores como Manuel Freire, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, Sérgio Godinho, Luís Cília, Fausto, Vitorino, Júlio Pereira e Janita Salomé. Este grupo heterogéneo e diferenciado comungava de um mesmo propósito: José Afonso como alargamento das expressões de música popular portuguesa.
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01 Senhor Arcanjo (03.55
02 Cantigas do Maio (05.56 
03 Milho Verde (02.23
04 Cantar Alentejano (05.43 
05 Grândola, Vila Morena (03.37 
06 Maio Maduro Maio (03.24
07 Mulher da Erva (02.52 
08 Ronda das Mafarricas (02.57 
09 Coro da Primavera (05:10 
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Duração total: 35:02
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01 Senhor Arcanjo (03.55

Senhor arcanjo 
Vamos jantar 
Caem os anjos 
Num alguidar 

Hibernam tíbias 
Suspiram rãs 
Comem orquídeas 
Nas barbacãs 

Entra na porta 
Menina-faia 
Prova uma torta 
Desta papaia 

Palita os dentes 
Põe-te a cavar 
Dormem videntes 
No Ultramar 

Que bela fita 
Que bem não está 
A prima Bia 
De tafetá 

E vai o lente 
Come um repolho 
Parte-se um pente 
Fura-se um olho 

A pacotilha 
Tem mais amor 
À gargantilha 
Do regedor 

Põe a gravata 
Menino bem 
Que essa cantata 
Não soa bem 

Senhor arcanjo 
Vamos jantar 
Caem os anjos 
Num alguidar 

E as quatro filhas 
Do marajá 
Vão de patilhas 
Beber o chá


02 Cantigas do Maio (05.56 

Eu fui ver a minha amada 
Lá p'rós baixos dum jardim 
Dei-lhe uma rosa encarnada 
Para se lembrar de mim 

Eu fui ver o meu benzinho 
Lá p'rós lados dum passal 
Dei-lhe o meu lenço de linho 
Que é do mais fino bragal 

Eu fui ver uma donzela 
Numa barquinha a dormir 
Dei-lhe uma colcha de seda 
Para nela se cobrir 

Eu fui ver uma solteira 
Numa salinha a fiar 
Dei-lhe uma rosa vermelha 
Para de mim se encantar 

Eu fui ver a minha amada 
Lá nos campos eu fui ver 
Dei-lhe uma rosa encarnada 
Para de mim se prender 

Verdes prados, verdes campos 
Onde está minha paixão 
As andorinhas não param 
Umas voltam outras não 

Refrão: 
Minha mãe quando eu morrer 
Ai chore por quem muito amargou 
Para então dizer ao mundo 
Ai Deus mo deu 
Ai Deus mo levou


03 Milho Verde (02.23

Milho verde, milho verde
Milho verde maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa

Milho verde, milho verde
Milho verde miudinho
À sombra do milho verde
Namorei um rapazinho

Milho verde, milho verde
Milho verde folha larga
À sombra do milho verde
Namorei uma casada

Mondadeiras do meu milho
Mondai o meu milho bem
Não olhais para o caminho
Que a merenda já lá vem


04 Cantar Alentejano (05.43 

Chamava-se Catarina 
O Alentejo a viu nascer 
Serranas viram-na em vida 
Baleizão a viu morrer 

Ceifeiras na manhã fria 
Flores na campa lhe vão pôr 
Ficou vermelha a campina 
Do sangue que então brotou 

Acalma o furor campina 
Que o teu pranto não findou 
Quem viu morrer Catarina 
Não perdoa a quem matou 

Aquela pomba tão branca 
Todos a querem p´ra si 
Ó Alentejo queimado 
Ninguém se lembra de ti 

Aquela andorinha negra 
Bate as asas p´ra voar 
Ó Alentejo esquecido 
Inda um dia hás-de cantar


05 Grândola, Vila Morena (03.37 

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade


06 Maio Maduro Maio (03.24

Maio maduro Maio, quem te pintou? 
Quem te quebrou o encanto, nunca te amou. 
Raiava o sol já no Sul. 
E uma falua vinha lá de Istambul. 

Sempre depois da sesta chamando as flores. 
Era o dia da festa Maio de amores. 
Era o dia de cantar. 
E uma falua andava ao longe a varar. 

Maio com meu amigo quem dera já. 
Sempre no mês do trigo se cantará. 
Qu'importa a fúria do mar. 
Que a voz não te esmoreça vamos lutar. 

Numa rua comprida El-rei pastor. 
Vende o soro da vida que mata a dor. 
Anda ver, Maio nasceu. 
Que a voz não te esmoreça a turba rompeu.


07 Mulher da Erva (02.52 

Velha da terra morena
Pensa que e já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia
Saia rota
Subindo a estrada
Inda a noite
Rompendo vem
A mulher
Pega na braçada
De erva fresca
Supremo bem
Canta a rola
Numa ramada
Pela estrada
Vai a mulher
Meu senhor
Nesta caminhada
Nem m'alembra
Do amanhecer
Há quem viva
Sem dar por nada
Há quem morra
Sem tal saber
Velha ardida
Velha queimada
Vende a fruta
Se queres comer

A noitinha
A mulher alcança
Quem lhe compra
Do seu manjar
Para dar
A cabrinha mansa
Erva fresca
Da cor do mar
Na calçada
Uma mancha negra
Cobriu tudo
E ali ficou
Anda, velha
Da saia preta
Flor que ao vento
No chao tombou
No Inverno
Terás fartura
Da erva fora
Supremo bem
Canta rola
Tua amargura
Manha moça
.. nunca mais vem


08 Ronda das Mafarricas (02.57 

Estavam todas juntas
Quatrocentas bruxas
À espera À espera
À espera da lua cheia 

Estavam todas juntas
Veio um chibo velho
Dançar no adro
Alguém morreu 

Arlindo coveiro
Com a tua marreca
Leva-me primeiro
Para a cova aberta 

Arlindo Arlindo
Bailador das fadas
Vai ao pé coxinho
Cava-me a morada 

Arlindo coveiro
Cava-me a morada
Fecha-me o jazigo
Quero campa rasa 

Arlindo Arlindo
Bailador das fadas
Vai ao pé coxinho
Cava-me a morada


09 Coro da Primavera (05:10 

Cobre-te canalha 
Na mortalha 
Hoje o rei vai nu 

Os velhos tiranos 
De há mil anos 
Morrem como tu 

Abre uma trincheira 
Companheira 
Deita-te no chão 

Sempre à tua frente 
Viste gente 
Doutra condição 

Ergue-te ó Sol de Verão 
Somos nós os teus cantores 
Da matinal canção 
Ouvem-se já os rumores 
Ouvem-se já os clamores 
Ouvem-se já os tambores 

Livra-te do medo 
Que bem cedo 
Há-de o Sol queimar 

E tu camarada 
Põe-te em guarda 
Que te vão matar 

Venham lavradeiras 
Mondadeiras 
Deste campo em flor 

Venham enlaçdas 
De mãos dadas 
Semear o amor 

Ergue-te ó Sol de Verão 
Somos nós os teus cantores 
Da matinal canção 
Ouvem-se já os rumores 
Ouvem-se já os clamores 
Ouvem-se já os tambores 

Venha a maré cheia 
Duma ideia 
P´ra nos empurrar 

Só um pensamento 
No momento 
P´ra nos despertar 

Eia mais um braço 
E outro braço 
Nos conduz irmão 

Sempre a nossa fome 
Nos consome 
Dá-me a tua mão 

Ergue-te ó Sol de Verão 
Somos nós os teus cantores 
Da matinal canção 
Ouvem-se já os rumores 
Ouvem-se já os clamores 
Ouvem-se já os tambores


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