sábado, 22 de março de 2014

20140322 Infância

Infância


Como pode um homem esquecer de sua infância?


Como pode esquecer, os pequenos espaços de terra onde jogava fubeca, ou bolas de gude, como o queiram; como pode esquecer das celas de pião, dos rachas no pião do outro?


Como esquecer do Seu Costa, o comerciante que na esquina da Luis de Faria e da Rua Bahia nos vendia essas maravilhas todas?


Não. Nossa cidade é muito mais que um ponto no mapa. Entranha dentro de nossa alma, se apega com todas as forças, trazendo emoções capazes de nos colocar água aos olhos.


Do jogo de taco que não pode parar. Nem chamado materno, nem banho, nada era importante. As duplas se formavam e o campeonato estava dado. O tempo voava mais que as mais belas tacadas, onde a bola ia longe, nos permitindo 10 a 12 pontos. Numa partida de 30 isso era significativo.


_ Cortou!

_ Cortou nada! E foram 10 nessa tacada.


E o pessoal, sempre mais de 6, sentado no muro do 67 na Pasteur fazia o trabalho de juiz.


Como pode um homem esquecer de sua infância?


Das chuvas de verão, onde na correnteza das águas tudo servia de barco, para chegar ao bueiro da esquina. Era caixa de fósforos; palito de sorteve; graveto; etc.


Cada qual escolhia o seu, mas não valia empurrar ou tocar no barco depois de solto; depois do JÁ da largada era de quem tivesse escolhido melhor. Talvez o mais leve, penso hoje.


Das corridas do vigia da Sorocabana, onde se roubava para nossas químicas cacos de enxofre; carvão. E algumas frutas como é de praxe.


Dos jogos contra a Paraguai ou a Manuel Vitorino. A Paraguai era páreo duro pois tinha o Nenê (Pasteur; Santos F. C.; um time do México). Mas a gente tinha o Mazinho que batia uma bola e o Duda da Luis de Faria que davam uma equilibrada.


Nos sábados de tarde tinha um Jazz que saia do 73 com piano, baixo e bateria. Piano do Flávio, baixo do Luis e bateria do Grijó. Enquanto isso o futebol corria solto e sonoro no asfalto.


Da iluminação precária de noite, com lâmpadas incandescentes de 200W. É claro que a bola do taco só no dia seguinte.


Dos violões do José Roberto e do Cabeto nas músicas do Milton Nascimento e Chico Buarque. Afinal viviamos a época dos Festivais da Record.


Como pode um homem esquecer de sua infância?


A infância e a nossa cidade, no meu caso a Cidade de Santos, são as coisas mais fortes transportadas por nossa alma.


Sempre saltam, a nos convocar, espaços da cidade ou eventos da infância,  nos fazendo mais humanos.


Paulo Cesar Fernandes

22 03 2014

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