domingo, 3 de maio de 2015

20150504 Palco

Palco


O palco é profundo
Quem dele vive como ator bem o sabe.
São muitas vidas entre o berço e o túmulo.
São representações de representações.
Onde as atenções caem todas sobre o dito, e o dito no certo momento, na certa entonação, e com os exatos movimentos.
Um erro, pequeno seja, tudo poe a perder.



O palco é tirano.
Não nos dá tempo de pensar, enquanto atuamos.
E ao dizer a palavra, dizemos do mais profundo do coração.
Fora disso é coisa fria, sem sensibilidade, soando à mais vergonhosa falsidade.


O palco é do público.
Este se veste e se prepara para receber o melhor do ator.
O bom público, por dias se prepara, conhecendo o autor da peça.
Trajetória dos atores, montagens anteriores.
Ai... As críticas. Da atual montagem e das anteriores.
Um público municiado é um horror. A tudo vê.
Mas este é o público verdadeiro do teatro.
Pois sente no palco a Cultura.


O palco é mesmo Cultura.
Escrevo em caixa alta pois assim deve ser.
Se incultos montarem Shakespeare, matam o teatro e sua história.
Apenas a maturidade do ator permite montar determinadas peças.
Um Luigi Pirandello. 
Quem o monta sem o sorvê-lo em pequenos goles?
Compreendendo seu tempo, e suas nuances todas.


O palco é para poucos.
E tem de ser de madeira o piso.
Na temperatura daquele piso desabrocha o verdadeiro ator.
Não há calor e nem frio, há uma função a desempenhar.
Qual faquir o faz o ator verdadeiro.
Transportado para outras dimensões, por todas as circunstâncias possíveis impostas pelo personagem.
O ator de verdade cumpre seu mister.


O palco é brutal.
É lugar para poucos.
A madeira fria é mordaz.
Expulsa quem não presta.
Mas quem fica brilha, enquanto o olhar sustenta, a mais sincera emoção.
Até fechar o ciclo, com a inevitável morte.



É quando a madeira do palco.
Destila suas lágrimas.
Pois raros são verdadeiros.
Na arte de interpretar.



Paulo Cesar Fernandes

04/05/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário