sábado, 20 de outubro de 2012

Minha cidade, meu chão

No dia em que eu vim-me embora
Caetano Veloso


No dia em que eu vim-me embora
Minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui
E eu nem olhava pra trás



No dia que eu vim-me embora
Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha vó já quase morta



Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua
E até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho
Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo
Nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada
Fedia, cheirava mal



Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital…


«««««


Nas pequenas cidades do nordeste brasileiro, onde todos se conhecem, se amam e se odeiam, sentimentos contrastantes constantes da vida de cada um.

Neste cadinho de sonhos, ilusões e desencantos cabe ao jovem o ato. Buscar vida nova e mais fértil, num recanto mais longe, na capital do estado ou no Sul tão falado. Chega o tempo de se aprumar.

É de lei que se faça, a viagem tão sonhada por uma vida vivida, mais digna, mais variada.
Mas todo sonho tem custo. A dor da saudade corroe, desanima, maltrata.
Pois sou sempre estrangeiro, qualquer lugar que eu vá.

Nada do meu aconchego, de saber nome e destino daquele que vai mais ali.
Rostos, rostos, mais rostos....
E eu neste meio de mundo, de asfalto feito e carros, querendo me destruir. De asfalto feito e carros querendo me destruir.


Ando sem eira nem beira
Lugares que desconheço
Pessoas que desconfio
Entre pedra e mais pedra
Da calçada e dos prédios



Desanimo!
E quero de volta a sandália
areia rolando nos dedos
beira-rio e folgazão
ca filha do Zé Tião
tão arisca como bela
seu vestido na janela
lembro inda a emoção



_ Corro e pego voce!
_ Pega não, pega nada



Assim corria a tarde
Entre desafio e arremedo
Até o sol ir calando
E seu cabelo em meu rosto
E meu ombro seu apoio
Nosso jeito de se gostar



_ Sai fora capiau!!!
_ Ichh! O farol...

São seis direções as que tenho
Se numa delas me pego
Me fixo, fico firme
Faço casa e faço nome
Prá Rosinha comigo morar



Me assalta um medo agora
Quem mais não está na hora
E pos o corpo prá fora
Corre risco se demora
De ter outro em seu lugar



E mais penso
E mais me apresso
Neste outro universo
Logo trabalho encontrar



E tudo enfrento erguido
De leitura sou servido
Sorte não há de faltar.



Já trabalho
e feito um burro
até o dia anoitar

meu recanto chegar.
Por volta das nove banho
E o radio toca falar
Moído, o corpo adormece

Assim o tempo passa
O sonho de Rosa arrefece
Nova mulher aparece
Femea de bom paladar
E fácil se faz familia
Na caminhada certa
De mais familia buscar.



O tempo de pouco em pouco
Desfaz a lembrança
Da cidade da infância
Com São Francisco a banhar.



Paulo Cesar Fernandes

20  10  2012

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