sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Geléia Geral. Repensada.

Geléia Geral
Torquato Neto
 

Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

«««

Repensando o momento

Torquato faz um vitral da época.
Uma época em estilhaços.
Estilhaços, tiros e balaços...
Como hoje vida ou morte vale igual.



Corte e recorte do vidro, no pedaço que caiu na rua
Prega palavra inocente com sentido de figo maduro
Pasquim!   Retrato de uma época


Razão demais prá não ser, não pensar e não agir
Tumbadora de tumba, de som não sonado, de corpo arrastado
De avião lançado ao mar, assim fica esquecido
Afirmação cultural brasileira e um LP de Sinatra
Contradição estravagante



Vagante silêncio nos becos, nas ruas
"Só doi quando penso"
Era lema da turma.


Gonzaga triste ou desbunde
Não tinha solução
Fecham os caminhos
Não há mais ilusão
Luta armada...
Alienação...



Marapé morro maconha
Risos tontos e aporrinhação.
Quem tá sóbrio?
Quem tá são?
Quem tem medo?
Quem tem não?



Estadão apoia no início
E se ferra na contramão
Contramão da História
Contramão da Democracia
Contramão do sonho

Só sonhava quem fumava
Assim também não


Na calçada da madrugada
Nasce o verso Salvação
Traz luz à noite mais densa
Define de uma vez:
Londres ou Aqui?

Aqui venceu Aqui fiquei.

Uma Santos em frangalhos
Milicos nos cargos
Nas salas de aula
Nos corredores da escola
Nos pesadelos da noite



Nas ruas de Sampa
Camburões e meganhas



O silêncio qual hoje
Nada se sabe do vizinho
PERIGO!
Veste a roupa e vem comigo
"Acorda amor" do Chico.



Ditadura Nunca Mais!
Autoritarismo no seu ..
Anarquia Agora e Sempre.



Poder não é prá conquistar!
Porém prá destruir!
Todo Poder.
No chão.
Pisoteado pelo povo.
De uma vez por todas
O povo no poder!



Paulo Cesar Fernandes

18  01  2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário