sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Bem. Obrigado.

Se me perguntam como estou. Respondo:

_ Bem, obrigado. Em paz!


Mas as pessoas não acreditam. Alguém pode estar bem num mundo tal qual o temos?

Grande parte das pessoas toma os outros por si. Cultivando estas necessidades pueris, desejando coisas e mais coisas. Os Entes que Heidegger sempre criticou, por terem os homens colocado os Entes no lugar do Ser.


Tanto religiosos de todas as ordens, como os ateus, elegeram um novo Deus: o Dinheiro. E uma nova ordem social se estruturou nas últimas décadas: A "Sociedade de Consumidores" (Zygmunt Bauman).


Diante dessa eleição individual, trazida pela liberdade da Modernidade e da PosModernidade, o homem se escravizou.


Apesar de contrasenso é uma realidade. Com Liberdade porém escravo.


O homem trabalha mais e mais para poder ter lazer, mas o seu total tempo é absorvido pelo trabalho. Isto, na busca de ter o adicional de dinheiro necessário ao lazer.


No tempo pretensamente destinado ao lazer, está sempre de prontidão para qualquer necessidade do projeto profissional a qual está vinculado. E finda a alocação num projeto, se ve obrigado a estar num outro projeto; pois se assim não o fizer de imediato, outro o fará, tomando seu lugar. E de projeto em projeto não se permite gaps, hiatos para seu deleite, seu prazer.


O tempo é dinheiro, mais que nunca na História da Humanidade.


Assim, o homem estabelece para si a Servidão Voluntária. Se faz servo do trabalho, pois o mercado profissional é concorrencial e feroz. Não admite enganos ou erros. Um "recurso" não disponível, passa a ser um recurso sem valor. Nos tempos correntes a disponibilidade ao trabalho é valor para todos os empresários.


Aquele que não for "pau para toda obra" é paulatinamente deslocado da relação dos "recursos" úteis ao universo empresarial.


A nossa sociedade promete a Felicidade, mas nunca a entrega.


Pois tal promessa está pautada no montante de consumo do indivíduo. E as pessoas acreditam nessa promessa. E se atiram a esse mister com todas as forças de seu talento. Por mais que eu, e tantos outros façam advertências, não encontramos eco na sociedade. Há uma hipnose generalizada.


Pobre homem da PosModernidade e da Globalização! A que ficou reduzido!


Um homem incapaz de atingir a felicidade, pois uma nova necessidade sempre se apresenta. Um novo produto; uma nova versão atualizada; um "algo mais" capaz de lhe dar um "não sei o que", num processo contínuo e eterno.


Estou fora! Nunca entrei nessa! Minha clara postura ideológica sempre me salvou do "canto da sereia" do capitalismo.


De minha parte, quando afirmo meu bem estar, é por me ter despojado de todas as ilusões da materialidade. Pauto minha vida em coisas importantes, e de grande valor para mim, tais como:
1) Minha família;
2) Filosofia, Sociologia; e conhecimento em geral;
3) Música.


Os itens 2 e 3 se alternam segundo o dia e a hora, mas o item 1 é imutável e intocável, nada tem maior valor. É sagrado no mais pleno desse termo.


Nada de material me interessa. Tenho além do pensado por mim, para esta etapa da existência. E não crio necessidades inúteis. Ainda quero me despojar mais e mais das coisas. Guardamos muita inutilidade em nossos lares, e mesmo dentro de nós.


Não é mesmo?


Franciscana quero minha vida em todos os sentidos. E uma vida na Espiritualidade, segundo a concebo. Alimentando o espírito com os elementos abstratos da Razão e da Afetividade. Itens encontrados no estudo um, e na busca de fazer o bem aos semelhantes o outro.


Para trás ficou apenas o pó da estrada. Aqui ou acolá uma lembrança que valha a pena. Das viagens. Das militâncias. De outros tempos, outras formas de pensar e sentir. Mas "o melhor lugar do mundo é aqui, e agora" como diz o poeta e filósofo Gilberto Passos Gil Moreira.


Nos 3 itens racionalmente definidos como "o meu foco" encontrei a Liberdade.

E a Liberdade é indutora da Criatividade.

O homem criativo se sente feliz.


Tenho para mim: na criação todos encontramos a Felicidade.


Nada mais doce que terminar um poema, um texto como este, um romance literário; ou ainda, com maior fôlego, um trabalho de maior envergadura intelectual, capaz de ocupar anos e anos de nossa atenção. Nos presenteando, ao final, com nova envergadura intelectual.


Jornada de poucos passos até a Felicidade. Entretanto de muitas coisas deixadas para trás. Muitas coisas reavaliadas em seu valor, ou desvalor.

Ruptura total com a preocupação com os valores monetários, com elementos de Poder: ilusões infantis.


Em pauta apenas preocupações de utilidade e prazer.
Utilidade pessoal, familiar e social. Sociedade local, hispanoamericana e mundial.   
E hedonismo trazendo sabor ao viver, admito.


Dessa forma: "Vou bem, obrigado!"


Paulo Cesar Fernandes

18  01  2013

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