quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sem matar é possível : Para uma nova ciência política global

Glenn D. Paige

Sem matar é possível : Para uma nova ciência política global
Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz

PRÓLOGO À EDIÇÃO GALEGO-PORTUGUESAA
por Joám Evans Pim

A estas alturas, ninguém deveria ser alheio à atual conjuntura global deódio, destruição, desmoralização e morte, na que a capacidade, já não só das 
grandes e médias potências, mas inclusive de grupos pequenos ou marginais, de aniquilar amplos segmentos da humanidade cresce de forma paralela ao desconhecimento por parte da maioria das pessoas que vivem no pla-neta do que é realmente a guerra, apenas experimentada através
de simulações virtuais criadas para o lazer ou das peças informativas noticiadas nomeios de comunicação de massas, e não como condição aberrante situada noexterior das margens da experiência normativa humana. Não é novidade dizer que o entorno no que se situam, por um lado a guerra, e por outro as sociedades civis pacíficas, são não só radicalmente distintos senão psicologicamente opostos. A guerra, na sua dimensão coletiva, e o matar, na sua dimensão individual, leva o indivíduo que toma parte destes fenômenos a uma alteração estrutural básica, pois da
premissa societária básica de proteção da vida, passa-se à sua aniquilação e ameaça constante (da própria e da dos outros). Estas mudanças profundas no ego afetam tanto aqueles soldados que se associam em unidades orgnizadas e legitimadas para a destruição de vidas humanas, nas que matar o inimigo se converte em objetivo teológico básico (o que alguns autores denominam “death principle”), como, em geral, a todos os que participam de um ato tão absurdo como o de negar a vida humana.


Por mais intenso que seja o adestramento prévio, o indivíduo dificilmente pode estar preparado para uma experiência transformadora (fora dos limites da vivência normal dos humanos), como o matar, sendo a imaginação apenas um reflexo pobre da cruel realidade. Não existe preparação cognitiva alguma, ainda que acompanhada por sofisticados métodos de simulação, que possa transbordar o sistema (através de uma combinação de mecanismos neurofisiológicos e psicossociais), da mesma forma que o matar, e a guerra, como sua plasmação, elevada aos extremos.


Na atual Risikogesellschaft, ou “sociedade do risco”, proposta por Ulrich Beck, vivemos um delirante processo de insenbilização frente ao significado da morte e ao respeito à vida. Este processo se inivia com as primeiras captações vivenciais na infância, canalizadas em medida pelos discursos fílmicos televisivos e se desenvolve durante o resto da vida, incluindo a formação primária, secundária, profissional ou universitária.


Durante todo este tempo, a transmissão de noções e conhecimentos que incidam na consagração da vida e na condena da letalidade reluz pela sua ausência, frente à implantação de novas disciplinas transversais de ‘educação sexual’ ou ‘educação de valores’ que, no fundo, continuam na linha de uniformização e modelamento do aperfeiçoado indivíduo-máquina. Em boa medida, isto se deve, como apontamos anteriormente, a que só aqueles que (re)entraram no mundo ‘normal’ através do que Laufer chama “portal of the most desolate circle of hell” [portal do círculo máis desolador do
inferno], isto é, o matar e a guerra, podem perceber a sua realidade e natureza fenomenológica. A maioria dos educadores, políticos, cientistas ou docentes universitários dificilmente poderiam, já não transmitirem, mas compreenderem, a importância de formar e educar pessoas nos valores da paz, pois as suas experiências emanam duma existência alheia a estes fenômenos. O volume que tem entre as mãos reveste especial relevância, uma vez que o seu autor, Glenn D. Paige, antes decentrar-se nas áreas da investigação e docência, presenciou os horrores da guerra destinado nos
campos de batalha da Coréia.


Nesta monografia, Paige apresenta um extenso leque de experiências nas que a transformação social foi possível proporcionando, além disso, alternativas científicas, institucionais, educativas, políticas, artísticas, mediáticas, comerciais e espirituais, entre outras, para que cada um de nós, individualmente, e todos, en conjunto, atuemos seguindo estes princípios na afirmação deste transcendental processo evolutivo que transforme positivamente o paradigma de aceptação da letalidade.


É um orgulho e uma honra imensa para o Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz poder apresentar ao leitor da Galiza e dos países lusófonos a primeira edição galego-portuguesa desta reveladora obra, publicada já en nove línguas, havendo outras dezessete traduções em curso. Isto porque desde o Instituto entendemos a paz não apenas como a ausência de conflitos, pois reque também un processo positivo, participativo e dinâmico no que seja factível promover o diálogo ntercivilizacional buscando soluções às controvèrsias com espírito de
entendimento, cooperação e compreensão mútuos. Tal e como a definem as Nações Unidas, a cultura da paz é un conjunto de valores, atitudes, jeitos de comportamento e de vida que recusam a violencia e prevêm os conflitos atuando sobre as suas raízes. Esperamos que este ensaio seja mais um contributo.

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