sábado, 10 de novembro de 2012

20040920 - Encontro

Encontro


Por que o verso não mais me escorre das mãos?


Tudo que toco rescende a sangue, tem o cheiro das lutas fraticidas.


Por que se esvai em mim a filosofia?


Elaboro idéias filosóficas, e só me expresso em palavras frias, como a lápide duma tumba, onde jazem os restos mortais do sonho, da herança humanista, da solidariedade...


Por que o presente se ausenta, abrindo lugar à insanidade plena a pautar as existências?


E eu digo NÃO aos sinais dos tempos dos apocalipticos.


Desfaço suas linhas retas em milhões de curvas, e saio fora do papel, e escrevo fora da linha...


e desço a calçada me esgueirando entre os carros,


absorvo a fumaça do diesel,


subo as escadas dos jardins da imaginação me embrenhando pela metrópole...


entre putas e putos, freiras e frades, homens de maletas e obrigações,


por todos eles passo incólume, carregando a loucura na dose certa.



E paro. Olho minhas mãos!


Destruo o asfalto com as unhas e cavo fundo,
mais fundo, até o sangue das mãos liberte um verso, outro verso, um a um todos os versos de todos os tempos imemoriais jorram como água cristalina,


dessedentando o mundo e humanizando o Homem.


Há choro e riso ao redor.


Ainda descontente, deixo a Avenida do verso na busca da Filosofia.


Ando. Ando muito.


Já cansado me sento.


Fito o mar com olhos perdidos no horizonte...


a tal ponto de não sentir ao meu lado uma senhora feita de palavras.


Trajes simples, fala mansa, olhar sereno e profundo.


Deixo-me estar extasiado, plenamente satisfeito.

Nada mais eu busco.



Paulo Cesar Fernandes

20  09  2004

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