terça-feira, 7 de julho de 2015

20150708 Oriente (Gilberto Gil






Vou tomar a liberdade de trabalhar algo dito pelo filósofo em sua Arte (no caso dele sempre em Caixa Alta). 

Pois a Filosofia e a Arte tem lá suas conexões. Pelo menos Mestres como Wassily Kandinsky e Hegel assim nos afirmam, e não sou capaz de os rebater.

Assim vamos:



Oriente
Gilberto Gil
   
Se oriente, rapaz 
Pela constelação do Cruzeiro do Sul 
Se oriente, rapaz 
Pela constatação de que a aranha 
Vive do que tece 
Vê se não se esquece 
Pela simples razão de que tudo merece 
Consideração 

Considere, rapaz 
A possibilidade de ir pro Japão 
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão 
Pela curiosidade de ver 
Onde o sol se esconde 
Vê se compreende 
Pela simples razão de que tudo depende 
De determinação 

Determine, rapaz 
Onde vai ser seu curso de pós-graduação 
Se oriente, rapaz 
Pela rotação da Terra em torno do Sol 
Sorridente, rapaz 
Pela continuidade do sonho de Adão

==

Pela constelação do Cruzeiro do Sul 


Em tempo de Ditadura militar era lá uma forma de cutucar a onça. Com leveza, com picardia, mas cutucava a onça.



Se oriente, rapaz 
Pela constatação de que a aranha 
Vive do que tece


A aranha vive do que tece. Da mesma forma que vivemos nós na rede de conexões pessoais estabelecidas. E ainda mais com tudo que tecemos através dos nossos pensamentos e nossos atos.

O pensar é a antecâmara do nosso agir.

Ora! As nuvens que sobrevoam nossas cabeças no dia a dia podem tornar cinzenta nossa vida e abalar o progresso de nossa existência.

Vida sendo o espaço, hiato entre o berço e o túmulo; e existência tendo um espectro mais amplo, abarcando nossas diversas passagens pela Terra ou outros planetas cabíveis de encarnação.

É inevitável, da tecitura do Bem, o mesmo voltará a nós na mesma e exata medida.



Pela simples razão de que tudo merece 
Consideração


Considerar tudo é uma ação simples, e tudo merece mesmo consideração; desde os Entes na terminologia de Heidegger; passando pelas disciplinas no âmbito do conhecimento, finalizando no mais importante: as almas que comungam nossa passagem pela face da Terra.

É na consideração do meu semelhante o meu exercício de amor, pregado por todas as religiões, por todos os filósofos desde a mais remota antiguidade. 

Somos feitos por um ato de amor, e para desenvolver nossa capacidade de amar cada vez mais amplamente. 

Num crescente: família; bairro; cidade; pais; no meu caso a cultura latino-americana; se espraiando pelo mundo como 
humanidade terrestre; e avançando na descoberta de múltiplos universos, amando toda a vida nesses universos presente.

Somos feitos pelo amor e para o amor. 

Fora disso é estar em desacordo com as Leis Naturais, ou qualquer divindade, a de sua convicção se assim lhe aprouver..



Considere, rapaz 
A possibilidade de ir pro Japão 
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão 
Pela curiosidade de ver 
Onde o sol se esconde 
Vê se compreende 
Pela simples razão de que tudo depende 
De determinação 


Uma determinação não estrangeira à nossa individualidade. Mas intrínseca a nós. Uma determinação autônoma e Livre de tudo e de todos. Isso é verdadeiramente determinação.

Se algo, exterior a nós acaba nos determinando seremos teleguiados. E nunca Espíritos Livres. E a Liberdade é a marca determinante do momento pós moderno na qual estamos mergulhados. Não tem como fugir, a Globalização nos ofertou a Liberdade para o Consumo, porém, junto a ela se desdobraram outras tantas liberdades. A liberdade de ruptura com todas as crenças fora da certeza em si mesmo, um imperativo do nosso tempo.

Uma força da individualidade capaz de ser usada tanto pelo lado cristalino da nossa psique, bem como pelo lado obscuro. Livres que somos, nos definimos segundo fundamentos éticos inerentes à nossa ipseidade..



Determine, rapaz 
Onde vai ser seu curso de pós-graduação 
Se oriente, rapaz 
Pela rotação da Terra em torno do Sol 
Sorridente, rapaz 
Pela continuidade do sonho de Adão


Qual o sonho de Adão quando colhe a maçã da Arvore do Conhecimento? 


Abrir horizontes que lhe trarão um custo segundo as advertências divinas. Mas a curiosidade é sempre maior, e nos leva a afrontar o perigo, quebrar regras, e mesmo dentro das mais opressoras situações avançamos em direção ao desconhecido dos nossos sonhos. 

Não cito nomes. Mas quantos mortos temos em nome do sonho das descobertas científicas; filosóficas e religiosas? Milhares.

Os milhares  intencionalmente esquecidos, para sermos sempre e cada vez mais, massa de manobra das diversas instituições mandantes no mundo.

O homem, ao se determinar chega ao ponto de ter consciência em si e consciência para si. Ciente de si, do mundo e dos processos históricos de toda a História da Humanidade refletidas em seu pequeno hiato de tempo, seu curto momento histórico. Abarca uma ampla visão do passado para pensar o presente, mas não na perspectiva de aprender com a história, propagada por certos historiadores. Em lugar disso o homem ciente apreende os tempos históricos. Mas vive seu momento.

A Determinação pela busca do Conhecimento já ceifou muitas vidas; mas, por outro lado, já transformou outras tantas trazendo elementos mais amplos de reflexão e de compreensão e acolhimento dos seus semelhantes. Mesmo os mais difíceis, aqueles cujos pensamentos e atos ferem seus mais caros ideais. 

Não adoto a tolerância como um valor positivo. Se eu tolero é por ter o outro menor que eu. 

Adoto a horizontalidade de todos os homens e todas as culturas. E os confrontos apenas ocorrem por ignorância mutua. Um grupo não conhece e nem quer conhecer os valores culturais do outro grupo. Dessa forma se estabelece uma barreira a priori. Inviabiliza a interculturalidade. Eu só amo o que conheço. E se me fecho em minha visão de mundo e nada permito além dela. Me torno um imbecil, por ter na minha visão a única racional, a única verdadeira, a única agradável a Deus ou aos espíritos superiores. E por aí vai.

O verdadeiro homem do nosso tempo alça voo. e se afasta da mesmiçe do presente, cruzando fronteiras e limitantes em si mesmo para se fazer útil a um futuro harmônico e necessário.

Afinal, somos todos nós Espíritos em Construção. Incompletos que, por força das necessidades internas lutam para se projetar fora do tempo e do espaço, quando estes são limitantes aos projetos maiores para toda a Humanidade.


===

Não tenha isso como verdade determinativa. Categórica. O ano próximo posso estar pensando diferente. Assim se faz a coisa.

Apenas como uma reflexão nascida do silêncio da madrugada e de um tempo de imaterialidade regado por um bom e velho Blues de Pappo Napolitano. Apenas isso.

Em tempo. Críticas e discordâncias são sempre agradáveis, me enriquecem. Pois grande parte das vezes são pertinentes. Se um coração bondoso a faz nesse sentido enobrecedor da crítica só posso ser grato.

Saúde e Paz a tod@as.

Paulo Cesar Fernandes.

08/07/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário