terça-feira, 21 de julho de 2015

20150721 Corações congelados

Corações congelados


Banho é importante.
Não me banho.
Pentear é importante?
Não me penteio.
Lar é importante?
Vivo nas ruas.
Sobriedade é importante?
Vivo na Lua, no mundo da lua.
Pensar é importante?
Dis...penso.
Consumir é importante?
Não posso, nada tenho.


Vivo à margem.
A la orilla de todo.
Sou fora da lei e da ordem.
Não por própria decisão.
Mas um empurrão.
Assim me fez o mundo.
Descer de tudo possível.
Sou nada e sou ninguém.
Passam por mim, mas não me vem.
Invisível na cidade.
Na sociedade.
Só esperam a minha morte.
E serei um corpo livre
Para estudo da burguesia


O estudo que não me deram
O estudo que me negaram
O saber sempre buscado
Nas portas sempre fechadas.
Oportunidades?
Não me venha o riso.
Teu discurso é belo.
Mas podre por dentro.
Ineficaz para mim
Que tudo tentei e cá estou
Frangalho de gente solto nas ruas
Causando temor aos passantes
A ter em mim um assaltante.
Ora bolas, vai-te
Nada sou para ti.
O desprezo do teu olhar
Deixa tudo bem claro.
Quem és e quem sou?
Mundos separados:
Frio muro da injustiça.


Paulo Cesar Fernandes

21/07/2015


P.S.: Que será viver nas ruas num dia frio de inverno?

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