domingo, 2 de fevereiro de 2014

20140201 Contemporâneos

Contemporâneos


O homem contemporâneo vive.


Mas vive apartado de si mesmo. De sua essência mais profunda. Sequer pensa em nada disso.


Teme esse olhar muito mais que o deteriorar de sua imagem ao espelho, no processo inexorável do envelhecimento.


Este se pensa atualizado e informado mas não le nada. Quando muito o jornal diário, de onde destaca o caderno de esportes, e vez
por outra de economia.


Literatura?


Isso é coisa para os tempos de escola quando foi obrigado a ler para passar sem exame. Sim, leu "Iracema" e "Don Casmurro".

_ Uma chatice! - segundo ele.


Não! O homem contemporâneo tem os olhos na liberdade econômica. Sim. Comprar, consumir. Viver para lá e para cá em viagens de negócios, embora se sinta um intruso em todos os lugares. É um homem sem lugar, um estrangeiro onde quer que vá.


Questionar? A economia ou o mundo? Para que, ainda mais com sua vida corrida.


Diz ser horrivel a vida como vive. Qual o que, não conhece outra. E nunca pensou conhecer outra coisa. Nunca pensou.


"Homo labor" ganhou de apelido na roda de amigos. Dá de ombros e pede mais uma dose dupla de uisque doze anos. Na chegada
do copo se diverte ao ver o sumo descendo por entre os cubos de gelo do copo, brinca com os cubos com os dedos com uma
face sem expressividade. Fora de tudo. Olhar de nada.


Assenta o gelo rolando o copo nas mãos e dá uma bela talagada.


Mas a face segue sempre imutável...


Mansão, belo carro, mulher de destaque nas colunas sociais, bebidas sempre caras e exóticas. Restaurantes, apenas os de grandes chefs.


O homem contemporâneo não gosta do simples, do banal, do comum. Precisa sempre de coisas para se sentir gente...

... embora isso nunca tenha acontecido, sempre se sentiu coisa tão somente.



Somos todos, absolutamente todos, em algum aspecto, contemporâneos como esse homem.


Paulo Cesar Fernandes

01 02 2014

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