segunda-feira, 9 de abril de 2012

O mundo em que vivemos

O mundo em que vivemos
Qual o maior inimigo do espiritualismo em qualquer das formas que este se apresente?
Sem sombra de dúvidas é o materialismo.
Como se expressa na atualidade o materialismo? Através do ateísmo? Através na firme convicção que nada existe além da matéria? Que a metafísica é uma ilusão?
Não. Nada disso. Muito ao contrário, se expressa na falta de reflexão sobre a existência para a maioria da humanidade.
As velhas perguntas: quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? E principalmente: para que estou na vida? Qual o real sentido da minha vida?
Questões fora de cogitação. O foco é o consumo.
As pessoas trabalham para comprar seus objetos de desejo. Se desfazem deles em muito pouco tempo pois já estão “fora de moda”. Trabalham mais para comprar o “último grito da moda”. Compram e seguem insatisfeitas.
Mas afinal que tempo é esse?
Um fragmento de texto nos ajuda a perceber em que mundo estamos mergulhados. Vamos a ele:


A possibilidade de povoar o mundo com gente mais afetuosa e induzir as pessoas a terem mais afeto não figura nos panoramas pintados pela utopia consumista. As utopias privatizadas dos caubóis e cowgirls da era consumista mostram, em vez disso, um "espaço livre" (livre para mim, é claro) amplamente estendido; um tipo de espaço vazio do qual o consumidor líquido-moderno, inclinado a performances-solo, e apenas a elas, sempre precisa de mais e nunca tem o bastante. O espaço de que os consumidores líquido-modernos necessitam e que são aconselhados de todos os lados a obter lutando, e a defender com unhas e dentes, só pode ser conquistado expulsando outros seres humanos - em particular os tipos de indivíduos que se preocupam e/ou podem precisar da preocupação dos outros.
O mercado de consumo tomou da burocracia sólido-moderna a tarefa da adiaforização [não essencialidade], de extrair o veneno do "ser para" da carga impulsionadora do "ser com". É exatamente como Emmanuel Levinas vislumbrou ao refletir que, em vez de ser um dispositivo destinado a tornar acessível o convívio humano pacífico e amigável a egoístas natos (como sugeriu Hobbes), a "sociedade" pode ser um estratagema para tornar acessível a seres humanos endemicamente morais uma vida autocentrada,
auto-referencial e egoísta, embora cortando, neutralizando ou silenciando aquela assustadora "responsabilidade pelo Outro" que nasce cada vez que a face desse Outro aparece; uma responsabilidade de fato inseparável do convívio humano.

Zygmunt Bauman
“Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.
Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2008
Págs.: 68-69


Dessa forma o homem deixa de se voltar ao outro sendo “homem lobo do homem” como disse Hobbes; deixando ainda de ser o homem que "segue com o outro homem" em perfeita solidariedade, como previsto na utopia socialista.
O homem da sociedade atual é voltado para si mesmo unicamente. Em alguns casos, voltado para seu núcleo familiar: esposa e filhos. Isto se conseguiu manter uma relação estável. O que cada dia se torna mais raro, uma vez que as relações do nosso tempo são como ligações de rede de computadores, isto é, de fácil desconexão. Perdem o “link” com muita facilidade.
Não faço aqui critica nenhuma, até porque este é um fato facilmente constatável. Basta olhar as pessoas ao nosso  redor e verificar quantas tem casamentos de longa duração.
Os solitários são consumidores mais vorazes que aqueles cujas responsabilidades são maiores.


Paulo Cesar Fernandes
09/04/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário