quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

20160127 Antígona (Prólogo do Millor Fernandes

Antígona

Millôr Fernandes (La Insignia. Brasil, 2005.


Antígona, de Sófocles
tradução do Millôr
Para esta tradução-adaptação de Antígona escrevi este



Prólogo


Ao cidadão grego
Na platéia
O que lhe importava
Ao sentar de novo para ouvir de novo
Não era a velha lenda:
Era a palavra nova do poeta.


Colocando o cidadão de hoje
Atento aí, à espera,
Em pé de igualdade com o ateniense
De faz tantos séculos
Lhe damos um resumo da espantosa história:
Creonte, rei de Tebas,
Vinga-se de Polinices, sobrinho e inimigo.
Antígona, irmã de Polinices,
Enfrenta o rei, é condenada à morte.
Hémon, filho do rei, noivo de Antígona,
Rompe com o pai.


E assim a historia avança,
Em luta fratricida,
Ódio mortal
Violência coletiva,
Tudo pago por fim, naturalmente,
Com a escravidão do povo,
Na derrota final.


Sabemos bem
Que ninguém aprendeu muito
Com esta história de Sófocles.
Os jornais de hoje mostram
Que os próprios gregos não aprenderam.
E, cansativamente, ela se repetiu
Nos 2.400 anos que passaram:
Ânsia de Brutos, Cruz de Cristo,
Bizâncio Prostituída, Heil Hitler!,
Lumumba esquartejado, Kenya de Kenyata,
Chê nas montanhas.


Há sempre duas faces na mesma moeda
Cara: um herói.
Coroa: um tirano.
Algo mudou, bem sei;
A ambição mudou de traje,
A guerra, de veículo,
O poder, de método.
O mundo girou muito
Mas o homem mudou pouco.


Porém repetir uma história
É nossa profissão, e nossa forma de luta.
Assim, vamos contar de novo
De maneira bem clara
E eis nossa razão:
Ainda não acreditamos que no final
O bem sempre triunfa.
Mas já começamos a crer, emocionados,
Que, no fim, o mal nem sempre vence.
O mais difícil da luta
É descobrir o lado em que lutar.

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Paulo Cesar Fernandes.

27/01/2016.

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