sábado, 12 de dezembro de 2015

20151212 Dieter Duhm muito louco

10 pontos:
Para comunidades do futuro
Dieter Duhm


Cada comunidade do futuro é em princípio um biótopo de cura, senão não poderia funcionar e não conseguiria sobreviver na rede da vida no mundo. 


Um biótopo de cura é uma comunidade de seres humanos, animais e plantas que se complementam e apoiam mutuamente através da comunicação. Este facto confere-lhes uma elevada possibilidade de se desenvolverem e uma grande capacidade de sobrevivência. 


Em seguida, enumeram-se algumas características de comunidades do futuro que funcionem. Elas estão profundamente ligadas a uma visão muito precisa de um modo fundamentalmente diferente de convivência e de comunicação entre si. 


Quando falamos de convivência, falamos da convivência entre os seres humanos, da convivência dos seres humanos com a natureza e com os seus seres, da convivência dos seres humanos com o universo e com seus seres. 


Em todos os três níveis - social, ecológico e espiritual - ocorre uma transformação concreta e definitiva que nos torna capazes de sobreviver uma vez que esta transformação nos reintegra no grande todo.



1. "Só tribos irão sobreviver»


Esta frase do líder índio americano Vine Deloria talvez seja algo exagerada, mas contém uma verdade central: na maioria dos casos, as forças individuais de cada um não serão suficientes para possibilitar uma sobrevivência com sentido. 


Para tal, precisamos de uma nova forma de forças comunitárias e espirituais. Precisamos da ligação
energética com a comunidade, com a bioesfera e com o universo.



2. O eu comunitário


Em comunidades que funcionem surge um eu comunitário que reúne todas as forças do eu individual. O eu comunitário é um desenvolvimento maior na escala da evolução dos organismos. 


Ele é muito superior em força e inteligência ao eu individual e pode, com a sua energia espiritual, superar situações de fome, frio ou dor que seriam
demasiado difíceis para o organismo individual. 


O eu comunitário está em plena capacidade de funcionamento quando deixar de haver colisões desnecessárias entre os seus indivíduos e quando cada eu individual tiver despertado para a completa participação responsável no todo.



3. Individualidade


A força superior do eu comunitário não pode surgir se se homogeneizar o modo como os participantes de uma comunidade se relacionam. 


Os membros das comunidades futuras terão de superar completamente a sua tendência para o colectivismo e para a uniformidade, como é veiculado pelas várias correntes e media atuais. Este é o pré-requisito para que possam contribuir com responsabilidade própria na ideia de comunidade do futuro. 


força autêntica das comunidades depende da autêntica autonomia individual dos seus membros.


Consequentemente, as comunidades do futuro apoiam e cuidam de todos os processos internos que aperfeiçoam o processo da individualidade. 


Este princípio é importante e decisivo para o amor. 


Homem e mulher, mulher e homem, mulher e mulher, homem e homem só poderão encarar-se de um modo amoroso por muito tempo, se se
encontrarem como indivíduos responsáveis e não como segmentos de um partido, de uma igreja ou de uma ideologia. 


Eles devem poder perceber-se e amar-se em cada momento no seu trajeto conjunto, quando estiverem
livres da pressão colectiva de qualquer grupo. 


O Eros vive desta liberdade, pois aqui surge a intimidade na qual se pode confiar.



4. Transparência


A qualidade fundamental que caracteriza uma comunidade capaz de funcionar é a sua transparência:


transparência na criação de grupos, 

transparência nas relações amorosas, 

transparência nos processos de poder

e transparência nos processos de decisões. 


Sem transparência não há confiança, não há comunicação aberta e não há um eu comunitário. 


A comunidade do futuro desenvolve fóruns públicos para tornar transparente a vida em conjunto de todos os seus membros. 


Os próprios membros descobrem uma grande alegria em não ter de mentir mais.



5. Verdade


A verdade é necessária para a transparência. 


A verdade é o oposto da nossa forma de ser hoje, porque temos vindo a ser obrigados a mentir desde a mais tenra infância. 


Agora, compete a nós continuar a seguir este hábito ou reunirmos reforços para desenvolvermos um novo tipo de convivência. 


A mentira impede o desenvolvimento do amor e a criação de comunidades, bloqueia a transparência e dificulta a comunicação com os seres da natureza.


Um critério decisivo para avaliar a capacidade de alguém pertencer à comunidade é a sua capacidade e predisposição para a verdade. 


Mas isso só pode ser alcançado quando os motivos para a mentira tiverem sido superados. 


As comunidades do futuro desenvolverão um sistema de vida e de amor que não forçará mais ninguém
a mentir. 


Poder-se-á imaginar tal: uma comunicação livre, transparente, sem mentiras entre humanos? 


Amantes que não tem mais de esconder-se devido a falsas promessas de eterna fidelidade? 

Crianças que não ouvirão mais mentiras da boca dos seus pais? 

E seres humanos que também não mentirão mais aos animais? 


Sob estas condições não se poderá mentir tão facilmente a um peixe, com uma isca num anzol. 


Este conceito de verdade conduz-nos a um nível mais profundo, no qual está baseado a vida das novas comunidades. Onde surge verdade desenvolve-se confiança. E onde surge confiança, surge a cura entre todos os seres. 


A verdade está numa ligação tão íntima com as ideias de transparência, de ecologia, da não-violência e do amor livre que os pontos 4 a 8 criam uma unidade espiritual. 


As comunidades do futuro sobrevivem graças à sua capacidade de comunicação, e esta, está diretamente relacionada com o grau de verdade nas suas vidas. 


Onde a verdade se instalou completamente, surgem novas possibilidades de comunicação, quer sob a forma espiritual, quer sob a forma telepática.



6. Não- violência


Só podemos descobrir e aprofundar a vida se entrarmos num estado de não-violência diante de todas as criaturas deste mundo. 


Onde usamos violência, surgem sistemas de comunicação e informações errados. 


A violência que usamos contra outros seres volta sempre a nós sob a forma de medo. 


A violência cria um desfiladeiro na comunicação universal, um desfiladeiro no desenvolvimento humano e um desfiladeiro na biosfera. 


Nos novos sistemas de cultura, a violência não pode continuar a ser usada como fator de favorecimento na evolução, pois onde há violência há sempre medo e mentira, e um retrocesso em todo o sistema de vida. 


Saberíamos hoje muito mais acerca de animais, plantas e todos os seres da natureza, inclusive nós mesmos, se nunca tivéssemos usado de violência contra eles. 


As razões para a violência estão enraizadas no próprio ser humano, na permanente pressão para a mentira, nos potenciais de energia não vividos, num conceito errado de amor, de sexualidade e de
fidelidade. 


Portanto, a não violência não é uma fórmula moral, mas sim a palavra-chave para uma criação de uma
cultura diferente fundamental.



7. Amor livre


Amor livre significa "amor livre de medo e fingimento". 


A comunicação universal da comunidade do futuro é um contacto sem medo com todos os seres da criação. 


Neste novo sistema não faz mais sentido bloquear o poder do amor com qualquer tipo de proibições. 


Amor livre entre os sexos é, sobretudo, o princípio central de abertura e de verdade, seja esta mental, espiritual, sexual ou todos em conjunto. 


Amor livre é uma realidade na nossa existência,
quando a mentira, o medo e a humilhação forem eliminados das relações de amor. As comunidades do futuro sem amor livre seriam uma contradição em si e, como tal, não seriam capazes de sobreviver.



8. Biótopo e co-criaturas


Todos os seres são diferentes formas de vida ou diferentes "estados de agregação" do grande espírito universal.


Daí que todos os seres vivem em permanente comunicação espiritual entre si. Vamos aprender a comunicar com plantas e animais do mesmo modo como fazemos com os nossos irmãos, porque aqueles estão animados com a mesma energia espiritual, tal como nós. 


Alguns deles são ainda como embriões ou crianças da criação e querem desenvolver- se segundo uma entelequia que guia todos os seres ao mesmo objetivo. 


Nós como seres humanos temos a possibilidade de reconhecer tudo isto e de ajudar as co-criaturas no seu desenvolvimento. 


Por sua vez, elas irão também ajudar-nos, pois tudo na criação é recíproco. 


As ervas medicinais aparecerão nos lugares onde
são necessárias, se aprendermos a comunicar ao seu nível. 


Os animais vêm e vão, se aprendermos a comunicar
ao seu nível. 


Os Bishnoi na Índia, os Aborígenes na Austrália, algumas tribos indígenas e provavelmente também
algumas na África dão-nos uma ideia do que significa comunicar com seres no seu nível. 


As comunidades do futuro irão reencontrar e aplicar estes conceitos da consciência arcaica a um novo nível.



9. Auto-suficiência


Os sistemas existentes da civilização ocidental globais estão baseados nos sistemas de conquista do colonialismo e imperialismo. 


Estão intrinsecamente impregnados de violência, de mentira e de medo e, por isso não possuem as
capacidades de comunicação que são necessárias para a sobrevivência. 


Portanto, as comunidades do futuro tem de alcançar um alto nível de autarquia em todas as áreas, que as torna independentes dos sistemas existentes de
abastecimento. 


Auto-suficiência completa tem de ser alcançada nas áreas do abastecimento de água, na alimentação, na energia e na medicina. 


Em ligação com o mandamento da autarquia surge uma pergunta interessante: quão grandes terão de ser as comunidades do futuro para que se possa realizar a autarquia? 

resposta naturalmente só pode resultar da experiência, mas veremos que não podem ser demasiado pequenas. 


Se queremos atingir a autarquia em comunidades pequenas (abaixo de 100 pessoas), provavelmente catapultarnosemos de volta à idade da pedra. 


Mas as comunidades do futuro tem de reunir em si um elevado grau de variedade cultural, tecnológica, espiritual e biológica, para poder desenvolver a complexidade necessária para uma criação global de cultura.



10. Criação global de cultura


Quando as comunidades do futuro estiverem em ressonância com o corpo vital da Terra, elas terão um impacto global. 


Isto não é uma esperança fiel, mas sim uma lei científica, pois o corpo vital da Terra é, juntamente com a biosfera, um organismo uniforme, e se ele recebe pela cultura não-violenta do biótopo da cura uma informação nova, então esta tem efeito em todos os seus órgãos. 


Se o sistema vital das comunidades vindouras for compatível com o sistema vital da biosfera e da criação, então basta um impulso, numericamente pequeno para mudar o total.


O primeiro biótopo de cura é um cristal da cultura global, que logo vai provocar parecidas cristalizações
semelhantes em todo o mundo. 


Esperamos nas próximas três décadas o surgimento de fundações parecidas no sudoeste dos EUA; na América do Sul, na África, na Austrália e em outras regiões da Terra. 


A criação de culturas da nova época vai resultar de uma rede de centros planetários deste tipo.



Dieter Duhm


===

Bem. Pode parecer muito louco. Mas talvez nam seja tanto assim.

Vinha trazendo um trecho do livro "O coração do homem" de Erich  Fromm para partilhar, mas não achei o livro em PDF e dei de encontro com este texto.

Ambas as leituras são produtivas na medida da produção de reflexões em cada um de nós.

Deixo-vos pensar!


Paulo Cesar Fernandes.

12/12/2015.

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