domingo, 29 de março de 2015

20150325 Após a morte

Após a morte

Se um sonho ou uma premonição não me importa.
Apenas um diálogo possível.


EU_ Eu não quero voltar para a Terra.

P_ Mas você já está aqui a tempos, surge uma oportunidade e se nega?

EU_ Me arruma outro planeta, a Terra não!

P_ Seu lugar é lá mesmo, não tem outro planeta.

EU_ Então eu não vou. Eu fico!

P_ Mas tive um trabalho imenso contigo, lembra? Após a juventude vieram os embates da vida, e as
deceppções fizeram um farrapo daquele em quem eu depositava tantas esperanças.

EU_ Lembra quais foram as fontes das minhas decepções. Por favor me lembra. - com intencionalidade clara.

P_ Para que isso agora?

EU_ Apenas relaciona dois ou três itens. Te alta coragem? Vamos!

P_ Pois bem: o partido político; relações afetivas e o movimento espírita.

EU_ Em todos os itens apostei todas as minhas fichas e minha sinceridade. Desculpe, mas eu quebrei a cara. Revendo item a item: Partido, o PT. Deixou de lado o socialismo e a ética no mesmo momento. Passou a priorizar os submissos, os desqualificados, os sem coluna vertebral. O espaço se abriu por completo para os oportunistas e os puxa sacos de todas as vertentes. Os idealistas foram apagados, e não falo de mim, foram muitos os companheiros sem voz dentro do partido. "Vence na vida quem diz SIM." Assim preconizou Chico Buarque. Com toda veracidade. Muitos foram apagados.

P_ Mas não mataram ninguém. Sua volta não se deu por meio da ação deles.

EU_ Não se mata apenas com tiros como ocorreu a Celso Daniel. Podemos matar retirando todo o espaço de expressão de ideias, tal como ocorreu comigo no Centro Espírita. Me mataram. Doce morte capaz a me levar a outras formulações teóricas. Afinal somos todos sujeitos a mortes e renascimentos. Vamos adiante?

P_ Sim, as questões afetivas.

EU_ Em todas elas a minha irracionalidade, irrascibilidade diante dos defeitos. Minha culpa, minha máxima culpa em todas elas. Meu romantismo prejudicou em muito, nunca via a racionalidade concreta das femeas, todas com demandas contretas e materiais claras. E eu nas nuvens, sempre nas nuvens Culpa toda minha.

P_ Então admite ter errado?

EU_ Nessa área? Muito, e totalmente. Era algo surdo. Me jogava de cabeça e nem sempre tinha água na piscina do amor. (Rindo muito)

P_ Bom saber admitir os erros.

EU_ É que a cada perda amorosa era muito facil superar, uma nova paixão cobria o espaço e tudo
voltava a ter sentido. Barba feita, um belo banho e tudo se inicia novamente. Nada como uma nova ilusão para apagar a anterior. (Risos)

P_ Eu lembro de cada noite de dor e dúvida. Afinal estive sempre ao teu lado.

EU_ E eu sempre desatento. Pode completar...

P_ Desatento mas nem sempre fora do meu acesso. Só nas fases...

EU_ De total desequilíbrio. Eu sei. Mas mãos se ofertaram e não perdi a oportunidade. Mãos amigas da UNESP onde trabalhava. Gratidão. Mesmo aqui, fora da vida corpórea.

P_ Intuídas foram por alguns dos nossos. Necessitávamos de você de volta.


EU_ Me queriam para que?

P_ Palestras, cursos, essas coisas.

EU_ Eu tentei, mas o Centro Espírita fechou as portas para mim. Preconceituosos. Ou temerosos das minhas palavras e ideais. E quanto mais fechavam oportunidades mais grosseiro eu fui. Errei ainda aqui.

P_ Eu vi tua dor.

EU_ Mais revolta que dor. Pura tolice minha. Falta de visão de longa distância. E foi muito difícil me libertar da dependência afetiva ao grupo. Mas o tempo, o sábio tempo.

P_ Revolta longa?

EU_ Uns seis anos tentando voltar. Apresentando projetos e nem resposta... É, foi, passou...

P_ E lembra como saiu disso?

EU_ Através de um novo caminho. Cortando laços como velho movimento espírita e criando um jeito pessoal de atuar no espiritismo. Um novo momento espírita.

P_ Foi o tempo do nosso reencontro. Eu e outros mais nos unimos a esse seu novo momento.

EU_ Cada tarde um novo abraço, bem o sei. Mas voltando ao meu retorno à Terra. Não seria temerário diante de minha fraqueza?

P_ Voces são todos muito engraçados. Todos mesmo. Quando em vida temem a morte. Ao chegar no lado de cá, todos fazem empenho em ficar por aqui mais tempo.

EU_ Então somos todos conservadores, reacionários?

P_ Conservadores é melhor. Pois odeiam mudanças.

EU_ Eu? Conservador? Bah! Não cabe! Sou ainda um revolucionário.

P_ Até certo ponto apenas Paulo, até certo ponto. Repense e reveja seus conceitos.

EU_ OK! Mas voltar para a Terra está fora de cogitações. Nem pensar!

Meu interlocutor sorriu, deu de ombros e foi embora. Pelo menos por ora.

Paulo Cesar Fernandes

25/02/2015

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