sexta-feira, 20 de março de 2015

20150320 Duas variantes

Duas variantes



1 - As cores na vida


Num chão de tintas multicolores fui fazendo meus caminhos. As marcas de meus pés pequenos hoje são as mesmas da infância e juventude.


Nunca dei grandes passos, nunca deixei grandes pés no chão do tempo.


Pequenos avanços a cada etapa. Em cada etapa um tema distinto dominando minha alma. Assim segui na vida.


Eivado de emoções e por elas me deixando levar. "Ouve teu
coração." me disse Udi numa manhã.
Assim o fiz, optando pela mais pura solidão. Se não a renego é por acolhe-la. Me cabe a solidão.
E o espaço próprio ao meu viver. Dividir o espaço não cabe nos planos racionais.


Mas como Razão e Emoção são lados opostos de uma única moeda, nada pode ser a tal ponto peremptório.


Das cores das tintas no chão vejo eu a vida em multicoloridos aspectos. Pois nada é fatal e final. Tudo depende de um fato conexo. Da situação. Do substrato mais sutil da emoção.


Viver é emocionar-se.


Fartar-se de sonhos e matar a ilusão. Pois de concreto apenas a morte. Morre o corpo e não eu. Muito chão hei de pisar novamente com pés pequenos, pés infantis. E nisso aposto tudo. Tenho
certeza. E não crença sem lastro no real. A real presença do corpo, aos meus pés, para observação. Meu corpo e eu, e eu fora dele. Mais leve me achava.


A ambulância me disse: "Volta!". E aqui estou na escrita, em nova fase da vida, plena de espiritualidade.



Solidão?
Não doi nem fere. Junto a mim uma legião: atores; atrizes; músicos e pensadores. Não pode estar só quem se nutre de tanta gente.




Minhas cores de hoje são as palavras. Busco-as mais doces.
Se a vida é dura lá fora, dentro de minhas obras a quero leve, e com caminhos de mansidão.


Se o ódio e a guerra imperam na terra. Um texto meu, pode ter o poder de levar ao mundo uma outra cor; mais azul, mais suave, mais sutil, mais sensual.


O pecado da libido não é. Não existe. Somos todos sensoriais. Sensíveis e vivos estamos. Assim, hoje carrego as cores nas minhas mãos; traduzindo sempre, os anseios do coração.


Paulo Cesar Fernandes

18/03/2015



 
2 - Só!  Só isso.


Um homem. Uma casa.
Um homem e uma casa.
De fora visto parece estranho.
Um tanto solitário.
Ganha novo contexto entretanto
Se a casa é a minha casa
E o homem sou eu idoso
Idoso e capaz ainda.




Independente até certo ponto.
Na casa me resguardo.
E dela faço um LAR.
Muito mais dum conglomerado de tijolos.
LAR é algo sensível e calmo. Aconchego.




Só? Não é possível.
Companheiros tantos.
Vivos ou mortos na língua banal.
Corpóreos ou incorpóreos prefiro os chamar
Dada sua real situação.




Um homem e uma casa compondo um LAR.
Um LAR de tijolos, uma cadela e um ser pensante.
Corpóreo e alimentado por outros tantos incorpóreos.
De diversas eras, diferentes instantes culturais da humanidade.




Quem é só afinal?
Eu ou os escravos dos aparelhinhos.
Sempre ansiosos por novidades, pela resposta que não chega.
Onde a solidão se estabeleceu afinal?



Eu sou o aparelho, o aparat de todas as coisas.
Das ideias e das dúvidas. Dos passos firmes e dos dias incertos.
Que certeza há na vida atual?
Uma vez mais é a morte e seu reencontro com todas as coisas, lutas e gentes de todos os passados
momentos. Presentes na mente ou encobertos pelo Rio Lates, o rio do esquecimento segundo a
filosofia de Platão.



Tudo é um complexo composto de vitalidade neste intervalo berço e tumulo.
Restrita vitalidade nas restrições impostas pelo corpo.
Sem ele, talvez cheguemos a mais profundo acesso ao inconsciente, sempre mais ativo em todos os
momentos da existência: corporal ou incorpórea. A psicologia trata da alma ou espírito, em todas as suas situações; no equilíbrio e na perda deste.



Estar num LAR é, sem dúvidas, um caminho para o bem estar.


Assim, um homem, um LAR e uma cadela são apenas facetas  temporais para o acúmulo de experiências novas; novos saberes; novas formas de sentir e novas maneiras de enfrentar as possíveis agruras e as amplas benesses de uma certa maturidade.



Feliz idoso desfrutando de um LAR.

Se digo ser a vida plena de dádivas, entre elas é de demarcar com clareza o papel da família, como um dos ingredientes mais saborosos.


Paulo Cesar Fernandes

18/03/2015

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