domingo, 15 de março de 2015

20150315 Oprimidos sim, e ainda

Oprimidos sim, e ainda.


Paulo Freire nos falava da "Pedagogia do Oprimido".


Augusto Boal nos falava do "Teatro do Oprimido".


E a palavra oprimido, opressão desapareceu dos discursos. Mesmo dos discursos de sindicalistas, políticos, atores sociais, etc. Como num passe de mágica.


Mas que aconteceu? Já demos conta de por um fim à opressão? Vencemos?


Infelizmente não. Longe, muito longe disso estamos; e, creio eu, cada vez mais distante, na medida em que desapareceu do discurso das pessoas a questão da opressão.


Mas, nas conduções do Brasil, as mulheres ainda sofrem constrangimento. Afinal, é um tipo de opressão ou não, esse tipo de atitude masculina?


"A mulher é o negro do mundo." disse John Lennon faz muitos anos; e, ainda hoje, segue sendo o principal foco de opressão da atualidade: nos lares; nos locais de trabalho; nas ruas; onde quer
venha a transitar.


Acabou a opressão? Não.


Como se dá esta nos tempos correntes? Esses nossos Tempos Líquidos (Bauman) de tanta fluidez e tanto mascaramento das realidades.


Exatamente no mascaramento. Um manto de normalidade recobre a sociedade, dando a todos os fatos uma tonalidade mais azul, fazendo com que "aquele pequeno ato" não seja visto como opressivo, mas como uma atitude isolada de uma pessoa em desequilíbrio.


A doença de toda uma sociedade. Doença grave e histórica é trazida ao âmbito da individualidade (Renaut). Com isso temos a impressão do desaparecimento dos eventos vergonhosos.


Mas, nas fábricas, o valor da hora trabalhada segue sendo tão injusta como antes. E a greve, embora seja feita, tem no senso comum um aroma de secular atividade. Coisa do passado. Indigna do nosso tempo.


É possível que a Polícia Militar com sua Cavalaria não adentre mais as fábricas em caso de uma greve. Mas segue sendo usada em casos de reintegração de posse, e fazendo barbaridades. Ou isto
não é uma opressão? Uma forma brutal de lidar com as populações nos diversos paises da América Latina e do mundo.


O mascaramento acima dito trabalha exatamente a linguagem. Estabelece novos termos. Oculta definitivamente alguns. E assim se forma na sociedade um pensar diferente. Sutil. Onde todo
ordenamento parece correto. A ordem burguesa se estabelece como a realidade, a única realidade possível desses nossos tempos.


É a primazia da linguagem nos iludindo a todos. A todos. Mesmo os portadores de uma visão popular da vida acabam se deixando levar por essa onda trazida pela PósModernidade. Nada mudou
concretamente na "Sociedade de Consumidores" (Bauman) e passamos a ter vergonha de usar os termos corretamente, para cada uma das várias situações.


A porra da Luta de Classes não acabou. As discrepâncias regionais não acabaram no Brasil e nem no mundo.


Não tem essa de Fim da História inventada por um tal de Fukuyama muito bem pago pelo Governo dos EEUU para dizer imbecilidades. Caiu o Muro de Berlim apenas, e isso não foi o Fim da História. A Alemanha Oriental sofre nas mãos da Alemanha Ocidental. É oprimida, apesar dos esforços pela reconstrução e equalização de toda a Alemanha unificada.


Salvo Slavoj Zizek, todos os teóricos da PósModernidade tem um discurso cuja linguagem suaviza o mundo atual e suas mazelas, como se não houvesse outra possibilidade além daquela a nós apresentada.


Zygmunt Bauman, mesmo sendo quem melhor descreve a atualidade, não deixa de dar um certo tom de normalidade a tudo o que hoje se apresenta. Repito, como se não houvesse outra alternativa.


Retomando Freire e Boal devo dizer: a opressão não acabou. Vivemos sob o manto do ocultamento através da linguagem. E precisamos criar novas formas de dizer, e bem dizer dessa opressão, e outras tantas mazelas herdadas dos Tempos Sólidos, ocultadas pelo novo linguajar, mas socialmente presentes infelicitando milhares de homens e mulheres ao longo de todo o mundo.


Paulo Cesar Fernandes

15/03/2015


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