domingo, 27 de julho de 2014

20140727 Passagens PósCatólicas


Passagens PósCatólicas


Não podemos viver como réus, e não somos réus nesta vida. Somos sim protagonistas de construções presentes e pretéritas. Libertos já, dessas coisas asquerosas que as instituições nos fazem crer: pecado ou culpa.

Ponto final a tudo isso. Construções não condizentes com o tempo de liberdades construído a duras penas por gerações. Conservadores de todos os matizes sempre tentaram colocar empecilhos ao Carro da História. Inútil. Ele segue semovente a despeito de tudo e de todos.

O Movimento Espírita conta com diversos pastores de almas, encarnados e desencarnados a ditar regras, através das suas obras. Aplacam a dor de alguns; mas por outro lado, dada a ferocidade de suas certezas, trazem desequilíbrio e o peso da culpa a outros tantos.

Servem ou desservem à causa da Libertação do Espírito?

Cada qual busque sua resposta. Não a darei eu.

És capaz de um pensar autônomo e liberto? Espero que sim.

Não sou pastor, padre ou espírito guia. Sou apenas um homem que escreve.

Mesmo Allan Kardec em algumas passagens tem uma postura postulante do pecado, apesar do não uso da palavra, faz muito empenho em descrever os sofrimentos após a morte, dos espíritos cuja vida não foi exemplar. Isto pode não ser um inferno descrito por Dante, mas em muito se aproxima.

Para minha alegria homens como Jací Régis já falaram da forte presença Judaico-Cristã em nossas hostes, e no seio da literatura espírita. Não é de admirar assim, a aceitação intensa do espiritismo dentre os companheiros vindos da Igreja Católica. O pecado apenas mudou de nome e de configuração. Mas as penas futuras seguem apavorando os espíritos e os espíritas.

Essas pessoas apenas mudaram de Igreja.

Ao pensar o espiritismo partindo de outra ótica. Mais condizente com os tempos líquidos, tempos tecnológicos, e tempos laicos; tais formas de pensar, mesmo que postas por Kardec em suas obras, se tornam inaceitáveis. Aprisionam o espírito através do medo do futuro. Das “sombras do umbral” após a passagem para a imaterialidade.

No senso comum do Movimento Espírita temos a “Lei de Causa e Efeito”. Uma aberração lógica. Tal lei, se perfeitamente admissível no âmbito da física com a Terceira Lei de Newton; no concernente ao espírito e sua ética é completamente equivocada. Em que pese seu uso indiscriminado entre consagrados oradores e escritores espíritas do porte de Hermínio C. Miranda.

Prefiro me valer do pensamento do argentino Humberto Mariotti para a análise de tal conceito:

4) A Dialética Palingenésica do Kardecismo

 
O método kardecista baseia-se na dialética palingenésica do progresso e da evolução, enquanto o antigo espiritualismo se funda numa concepção fatalista, no que respeita à lei de causalidade ou de causas e efeitos. A dialética de Hegel é o grande instrumento com que se pode conhecer o fenômeno palingenésico, a que está sujeito o Ser em sua ascendente evolução. Além disso, é por meio da dialética que se poderá transformar a ideia de reencarnação, que nos vem do Oriente, em renascimento ou palingenesia dinâmica, para a civilização do Ocidente. Sem o método dialético e kardecista, a reencarnação continuará sendo um exotismo oriental, sem ligação nem entrosamento com o processo histórico. (pag. 68)
 
O espiritismo determina um novo destino para o Ser encarnado, não obstante a gravitação moral que a lei de causalidade exerça sobre o indivíduo. Por ser o cristianismo novamente revelado, lutará constantemente contra um mundo imperfeito e a rigidez mecânica da lei de causas e efeitos. Além disso, ao despertar no homem uma nova consciência sobre o bem e o mal, dará ao espírito um novo direito: o de libertar-se desses carmas cegos e inconscientes, pois todo destino inferior poderá ser modificado, quando o Ser reconheça sua natureza palingenésica. (pag. 106)

In “Humberto Mariotti . O Homem e a Sociedade numa Nova Civilização . PENSE”


Meus grifos no texto de Mariotti visam focar o quanto libertador é o espiritismo a partir da tomada de consciência do Ser. Não mais um espírito pecador e com coisas do passado a expiar, mas um Ser liberto e consciente de sua progressiva jornada no sentido de sua completude.

Somos seres incompletos, e apenas no processo palingenésico teremos oportunidades de revisão e reordenamento de nossos pensamentos e atos. Colocando-nos em patamares superiores de compreensão das leis Naturais.

Nada mais de “passado delituoso” a nos atormentar. Mesmo as deficiências físicas perdem o peso de algo passado e tem sua fonte na genética do presente. Deixam para trás as explicações metafísicas para pautar apenas em explicações científicas. E por vezes nas condições materiais e culturais de toda uma sociedade.

O CatoEspiritismo brasileiro muito tem a ver com as obras de Emmanuel e André Luis.

É difícil fazer tal afirmação, pois sei da força dada por essas obras ao soerguimento de muitas almas em desespero, abatidas pela dor da perda de entes queridos, e outras tantas situações na qual tal literatura tem o condão de trazer um lenitivo. Mas não podemos ser cegos ao impacto negativo de forjar o pensamento partindo dos romances de André Luis. Tomar aquilo como realidade totalizante. Isso é o problema de tal literatura. Se tomado um romance, como caso elucidativo apenas, é perfeitamente admissível. Mas fazer disso verdade irrefutável é distorção de compreensão de tudo relativo às Leis Naturais.

Leis muito mais flexíveis que nosso maniqueísta modo de pensar. Sim, é mais fácil pensar o mundo partindo de “esqueminhas” prontos e acabados. E viver dentro dessas armaduras medievais.

Mas nossos tempos não são mais os tempos medievais. Rasgam nosso cérebro através da neurociência, descobrindo segredos jamais imaginados pelos espíritos comunicantes de Kardec. Uma nova possibilidade se abre ao organismo físico e por consequência à expressão do espírito a esse organismo vinculado.

Vivemos uma fase de transição. E em toda fase de transição a ortodoxia é a pior companheira. Permitamos ao tempo e à ciência nos revelem mais e mais de nós mesmos. Nesse ínterim vivamos da melhor forma possível, fazendo bom uso do tempo e de toda liberdade trazida pela “Era do indivíduo”, tal como nos propõe Alain Renaut em sua obra assim intitulada.

Liberdade, responsabilidade e Vida em plenitude.

 

Paulo Cesar Fernandes

27 07 2014

 

 

 

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