quinta-feira, 3 de julho de 2014

20140703 Proibido proibir

“vocês não estão entendendo nada”
Caetano Veloso



Um ano depois do impacto causado pelas guitarras nas canções “Alegria, alegria” (Caetano) e “Domingo no parque” (Gil), apresentadas no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, Caetano Veloso e Gilberto Gil voltaram a surpreender o público no III FIC, Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo.


Caetano, acompanhado pelos Mutantes, defendeu “É proibido proibir” e Gilberto Gil, com os Beat Boys, “Questão de Ordem”.


A apresentação de “É proibido proibir” acabou se transformando num happening acaloradíssimo naquela noite de domingo, 15 de setembro de 1968.


Na final paulista do FIC, realizada no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, a música de Caetano foi recebida com furiosa vaia pelo público que lotava o auditório.


Caetano Veloso
É Proibido Proibir


A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
Estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim...


E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo:
É! -- proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...


Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças, livros, sim...


E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo:
É! -- proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...


(falado)
Caí no areal na hora adversa que Deus concede aos seus
para o intervalo em que esteja a alma imersa em sonhos
que são Deus.
Que importa o areal, a morte, a desventura,
se com Deus me guardei
É o que me sonhei, que eterno dura
É esse que regressarei.

Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estátuas, as estantes
As vidraças, louças, livros, sim...



E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...



Os Mutantes mal começaram a tocar a introdução da música e a platéia já atirava ovos, tomates e pedaços de madeira contra o palco.


O provocativo Caetano apareceu vestido com roupas de plástico brilhante e colares exóticos. Entrou em cena rebolando, fazendo uma dança erótica que simulava os movimentos de uma relação sexual. Escandalizada, a platéia deu as costas para o palco. A resposta dos Mutantes foi imediata: sem parar de tocar, viraram as costas para o público.


Gil foi atingido na perna por um pedaço de madeira, mas não se rendeu. Em tom de deboche, mordeu um dos tomates jogados ao chão e devolveu o resto à irada platéia.


Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se podia ouvir, tamanho era o barulho dentro do teatro.


Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?


Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado!


São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!


Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada.


Hoje não tem Fernando Pessoa.


Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu!


Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender.


Mas que juventude é essa?

Que juventude é essa?

Vocês jamais conterão ninguém.

Vocês são iguais sabem a quem?

São iguais sabem a quem?

Tem som no microfone?

Vocês são iguais sabem a quem?

Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores!


Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada.

E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker!

Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês.


O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira.


O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana.


Mas eu e Gil já abrimos o caminho.


O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso!


Eu quero dizer ao júri: me desclassifique.

Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso.

Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil.


Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos.


Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não.


Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu?


Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês?


Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!


Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo?


E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente.


Deus está solto! Fora do tom, sem melodia.


Como é júri? Não acertaram?


Qualificaram a melodia de Gilberto Gil?

Ficaram por fora.

Gil fundiu a cuca de vocês, hein?


É assim que eu quero ver.

Chega!

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O lema das paredes do "Paris 68" foi trazido para o Brasil no rítulo dessa música.


Paris fervia nas agitações de rua e na tomada da Sorbonne pelos estudantes.


General De Gaulle desmoralizado.


Nessa época o maior jornalista do Brasil, Mino Carta comandava a Veja. Era uma Veja que via e denunciava.


"Chegaremos a isto?" mostrou a capa da Veja nº 1 ou 2 onde o General de plantão aparecia no Congresso Nacional sentado só.
Edição recolhida horas após sua distribuição nas bancas. A capa se referia ao fechamento do Congresso Nacional.


Até o AI-5 todos os Meios de Comunicação de Massas do Brasil apoiavam o Golpe Militar. Pois sempre estiveram e estão a serviço do Governo dos Estados Unidos.


Quando a Ditadura começou a censurar mais fortemente o Jornal Estado de São Paulo este se rebelou. A Folha nada. Sempre foi o que é hoje: um jornaleco.


Não se pode ler a História do Brasil fora do contexto mundial e especialmente Latinoamericano. Todos os paises do Cone Sul estavam sob Botas Ditatoriais, obedecendo aos seus verdadeiros mandatários à época os EEUU. Hoje quatro paises se libertaram de tal jugo, o que lhes custa caro.


Mas toda liberdade tem um preço.


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Caetano hoje.

Caetano responde às manipulações da Rede Globo.


https://www.youtube.com/watch?v=TyrSIRRGWUE


Sempre batendo de frente.

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Paulo Cesar Fernandes

03 07 2014

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