sábado, 19 de abril de 2014

20140419 Bela conclusão de Myers

 

Fredrich W. H. Myers

 
A Personalidade Humana

 
 
 


Sobrevivência e manifestações paranormais

 
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Esboço provisório de uma síntese religiosa

 

Tenho motivos para esperar que não estejamos longe de uma síntese religiosa que, apesar de seu caráter provisório e rudimentar, acabará estando mais relacionada com as necessidades racionais do homem do que qualquer das que a precederam. Esta síntese não pode ser obtida nem graças ao mero domínio de uma das religiões existentes, nem pelo processo de sincretismo ou de ecletismo. A condição prévia, necessária à sua existência, consiste na real aquisição, quer com o auxílio das descobertas, quer em consequência de revelações de novos conhecimentos, utilizados de modo que todas as principais formas de pensamento religioso possam, através de uma expansão e um desenvolvimento harmonioso, formar simples elementos constitutivos de um todo mais compreensível. E acredito que, até o presente, adquirimos conhecimentos suficientes para me permitirem submeter aos leitores as consequências religiosas que, a meu ver, deles decorrem.

 

 

Por isso o nosso conceito de religião deve ser ao mesmo tempo profundo e claro, conforme a definição que demos e que é a de uma resposta normal e sadia do espírito humano a tudo que conhecemos da lei cósmica, isto é, a todos os fenômenos conhecidos do universo, considerados como um todo inteligível. Porém, a resposta subjetiva da maioria dos homens a tudo o que os rodeia cai, com frequência, sob o nível do verdadeiro pensamento religioso: espraia-se em desejos, aprisiona-se nos ressentimentos ou se deforma pelos medos supersticiosos. Não é, pois, desses homens que falo, senão daqueles a quem o grande espetáculo inspirou uma vaga tendência à fonte de todas as coisas, em direção às quais o conhecimento gerou a meditação e os desejos elevados. Queria ver a ciência, depurada pela filosofia, transformar-se em seguida pela religião numa chama abrasadora; porque, na minha opinião, nunca seríamos demasiadamente religiosos. Desejo que o universo que nos circunda e nos atravessa, sua energia, sua vida, seu amor, ilumine em nós, na medida que nos submetamos a ele, o que atribuímos à alma universal ao dizer: “Deus é amor”, “Deus é a luz”. A energia inesgotável da benevolência onisciente que reside na alma universal deve transformar-se em nós numa adoração e numa colaboração entusiástica, numa obediência ardente ao que nossos melhores esforços nos permitem distinguir como o princípio regulador, em nós e fora de nós.

 

 

Mas, se tivermos da religião um ideal tão alto, elevando-a por sobre a cega obediência e o medo interesseiro, até o ponto de tornar a submissão a ela inteiramente voluntária, e de limitar suas exigências a respostas essencialmente espirituais, temos o direito de nos perguntar se é justo e razoável ser religioso, considerar com uma devoção tão completa um universo aparentemente incompleto e irresponsável em um princípio regulador que tantos ignoram ou colocam em dúvida.

 

 

O pessimista é da opinião de que os seres sensíveis são um erro no sistema das coisas. O egoísta age concorde com a máxima de que o universo carece de significação moral e que cada um por si “é a única lei indiscutível”. Atrevo-me a pensar que da resposta ao pessimista e ao egoísta se depreende o ideal de nossos novos conhecimentos. Persiste, é certo, uma dificuldade mais sutil, que as almas generosas sentem instintivamente. “O mundo, dizem essas pessoas, é uma residência imperfeita e nosso dever é fazer o possível para melhorá-la. Mas o que é que nos impele a sentir (e a fração mínima de nossa felicidade pessoal justifica um sentimento semelhante) um entusiasmo religioso por um universo no qual um único ser esteja condenado pela sua sensibilidade às dores inevitáveis?

 
 

A resposta a esses escrúpulos morais não pode, em grande parte, ser ditada pela fé. Se, com efeito, soubéssemos que nada existe além da vida terrestre, ou (o que é pior) que esta vida só supôs infindáveis sofrimentos a uma só alma, seria, de nossa parte, uma fraude moral atribuir o poder e a bondade à primeira causa, pessoal ou impessoal, de semelhante destino. Mas se acreditássemos na existência de uma vida infinita, com infinitas possibilidades de aprimoramento humano e de justificação divina, então parece exato afirmar que o universo é (de um modo que nos escapa) ou perfeitamente bom, ou em vias de sê-lo, pois pode transformar-se, em parte, graças ao ardor de nossa fé e de nossa esperança.

 

 

Nada mais faço do que mencionar estas dificuldades do início; e não insistirei sobre elas. Falo aos homens decididos, em virtude de seu instinto ou de sua razão, a serem religiosos, a aproximarem-se com uma veneração devota a um Poder e a um Amor infinitos. Nosso desejo é, simplesmente, encontrar o meio menos indigno de pensar em coisas que, necessariamente, estão além de nosso pensamento finito.

 

 

Podemos dividir as melhores emoções religiosas em três variedades, três correntes que correm paralelamente e cada qual surge, em minha opinião, de alguma fonte oculta na realidade das coisas.

 

 

Colocarei, em primeiro lugar, o sentimento obscuro dos livres-pensadores, pertencentes a diferentes épocas e a diferentes países e que designarei para evitar qualquer definição discutível, com o nome de religião dos antigos sábios. Sob esta denominação (ainda que Lao-Tsé não seja, talvez, mais do que um nome) ele nos foi apresentado num escorço sumário do grande sábio e poeta de nossa época; e as expressões como religião natural, panteísmo, platonismo, misticismo, nada mais fazem do que exprimir ou intensificar os diversos aspectos do conceito primordial que forma a base do sentimento em causa.

 

 

É o conceito da coexistência e da interpenetração de um mundo real ou espiritual e de um mundo material ou fenomenológico, crença nascida em muitos espíritos como conseqüência de experiências ao mesmo tempo mais decisivas e mais coerentes de quantas eles já tivessem conhecido. Repito: mais decisivas porque supõem o aparecimento e a atividade de um sentido que é “o último e mais amplo” de uma capacidade que permite abraçar, não direi a Deus (pois qual é a faculdade finita que pode abraçar o infinito?), mas, ao menos, alguns indícios vagos e fragmentários de um verdadeiro mundo de vida e amor. E mais coerente também por uma razão que, até estes últimos anos, parecera um paradoxo. Porque a colaboração mútua desses signos e mensagens não depende somente da sua própria concordância fundamental, até um certo ponto, mas também da inevitável divergência além desse ponto, quando passam do domínio das coisas sentidas ao das coisas imaginadas, da região da experiência real à da fé dogmática.

 

 

A religião dos sábios antigos é de uma antigüidade desconhecida, o mesmo acontecendo com as diferentes religiões orientais, que nos tempos históricos alcançaram seu ápice na religião de Buda. Para o budismo, todos os universos que se interpenetram formam outros tantos graus pelos quais o homem segue seu caminho ascendente, até ver-se livre de toda ilusão e desaparecer inefavelmente no todo impessoal. Mas a doutrina de Buda perdeu todo o contato com a realidade e não se fundamenta em fatos observáveis que se possam reproduzir.

 

 

O cristianismo, a mais jovem de todas as grandes religiões, repousa, incontestavelmente, sobre uma base formada por fatos observados. Esses fatos, tal como nos transmitiu a tradição, tendem seguramente a provar o caráter sobre-humano do fundador do cristianismo e seu triunfo sobre a morte, e ao mesmo tempo a existência e a influência de um mundo espiritual que é a verdadeira pátria do homem. Todos reconhecem que essas idéias se encontram na origem da fé. Mas desde os primórdios o cristianismo foi elaborado em códigos morais e rituais adaptados à civilização ocidental e crêem alguns que adquiriu, como regra de vida, o que perdeu como simplicidade espiritual.

 

 

Do ponto de vista do sábio antigo, as profundas igualdades de todos esses sistemas religiosos apagam suas oposições formais. Mas, advirto, não é da soldagem desses sistemas, nem do amálgama das melhores partes de cada uma das sínteses existentes que nascerá a nova síntese que prevejo. Nascerá do próprio renascimento de nossos conhecimentos e nesses conhecimentos novos cada uma das grandes formas do pensamento religioso encontrará seu desenvolvimento indispensável, diria mesmo quase predestinado. Desde seus albores nossa raça deparou-se com um caminho proibido; e, atualmente, as primeiras lições de sua primeira infância lhe revelam que grande parte do que acreditara instintivamente tem sua origem, sua raiz, na própria realidade.

 

 

Resumirei a conclusão religiosa que se depreende da observação e da experiência, antes que nossas descobertas possam ser citadas diante do tribunal da ciência, para nele receber sua definitiva consagração.

 

 

Digo conclusão religiosa porque suponho que as observações e as experiências sobre as quais me apoio sejam conhecidas; essas observações, experiências e deduções levaram diversos pesquisadores, eu entre eles, a acreditar na intercomunicação direta ou telepática, não só entre os espíritos encarnados, mas também entre os espíritos encarnados de um lado e os desencarnados de outro. Uma semelhante descoberta abre, igualmente, as portas à revelação. Graças à descoberta e à revelação, certas opiniões foram provisoriamente formuladas, no que concerne ao destino das almas livres dos corpos. Primeiramente e antes de tudo, acredito que estejamos autorizados a considerar seu estado como o de uma evolução infinita na sabedoria e no amor. Seus amores terrestres persistem e, acima de tudo aqueles amores superiores que procuram se manifestar na adoração e no culto. Não me parece seja possível tirar de seu estado argumentos para favorecer qualquer das existentes teologias. Onde se encontram, as almas parecem bem menos resignadas do que nós mortais acreditamos. Todavia, das alturas da posição privilegiada que ocupam no universo enxergam o que é bom. Não quero com isto dizer que saibam o que se relaciona ao fim ou a explicação do mal. Mas acham que o mal não é uma coisa tão terrível, mas que se apodera de nós e nos escraviza. O mal não se encontra encarnado em nenhuma autoridade poderosa; é, antes, um estado de loucura isolada, do qual os espíritos superiores tentam livrar as almas desnaturadas. Não há necessidade, para isso, da purificação pelo fogo; o autoconhecimento é o único castigo e a única recompensa do homem. Neste mundo, o amor é, realmente, a condição da conservação pessoal; a comunhão com os santos não é só o encanto da vida, mas a segurança da eternidade. Mas a lei da telepatia nos mostra que essa comunhão já se produz, de tempo em tempo, neste mundo. Sempre o amor das almas responde às nossas invocações. Sempre o amor, associado às nossas lembranças, o amor que é por si uma prece, ampara e reconforta essas almas libertas no seu caminho ascendente. Isto nada tem de assombroso, porque somos, com relação a elas, como companheiros de jornada, envoltos na bruma; “nem a morte, nem a vida, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer criatura são capazes de nos distanciar do fogo central do universo, nem de ocultar, sequer por um momento, a inconcebível unidade das almas”.

 

 

Qual é o sistema que nos forneceu uma confirmação tão profunda da própria essência da revelação cristã? Jesus Cristo gerou “a vida e a imortalidade”. Por sua aparição, após a morte corporal, provou a imortalidade do espírito. Por seu caráter e seus ensinamentos, provou a paternidade de Deus. Tudo o que sua mensagem continha de dados demonstráveis estão aqui demonstrados; todas as suas promessas de coisas indemonstráveis estão aqui renovadas.

 

 

Aventurar-me-ei a uma opinião e a predizer que, graças aos novos dados que possuímos, todos os homens ponderados acreditarão antes de um século na ressurreição de Cristo, enquanto que sem esses dados ninguém acreditaria nela antes de transcorrido esse século. As razões que ditam minha predição são suficientemente claras. Nossa convicção sempre crescente da continuidade e da uniformidade da lei cósmica nos impõe progressivamente esta conclusão de que a singularidade de um incidente constitui exatamente sua inevitável refutação. Nosso século científico é penetrado, cada vez mais, pela verdade de que as relações entre o mundo material e o mundo espiritual não podem ser de caráter meramente moral ou emocional; que devem ser a expressão de um grande fato fundamental do universo que supõe a ação de leis tão permanentes, tão idênticas de uma época a outra, como nossas leis conhecidas, no que diz respeito à energia e ao movimento. E no que se refere a esta afirmação central, a vida da alma que se manifesta após a morte corporal é evidente que poderá cada vez menos apoiar-se apenas na tradição e deve, cada vez mais, buscar sua confirmação na experiência e nos estudos modernos. Suponhamos, por exemplo, que colecionamos algumas dessas histórias e que elas não resistiram a uma análise crítica, atribuindo-se todos os fenômenos nelas relatados a alucinações ou a erros nas descrições; podemos esperar que os homens ponderados admitam que esse fenômeno maravilhoso, que sempre se reduz a nada quando submetido à análise num ambiente inglês moderno, seja digno de fé, desde que se afirme que se produziu num país oriental, numa época distante e supersticiosa? Se os resultados das “investigações psíquicas” tivessem sido essencialmente negativos, os dados (não digo a emoção) do cristianismo não teriam recebido um irreparável golpe?

 

 

De acordo com minha opinião pessoal, nossas investigações deram resultados muito diferentes, grandemente positivos. Demonstramos que entre um grande número de fatos que se podem atribuir ao erro, à mentira, à fraude e à ilusão, existem manifestações indiscutíveis que nos vêm de além-túmulo. A afirmação capital do cristianismo recebe, dessa forma, uma concludente confirmação. Se nossos próprios amigos, homens como nós, podem às vezes vir para falar-nos de amor e de esperança, um espírito mais forte pode-se servir das leis eternas com maior intensidade. Nada nos impede de reconhecer que ainda que sejamos “filhos do Todo-poderoso”, Cristo tenha podido aproximar-se mais que nós, por um caminho que não podemos conceber ao que está infinitamente distante.

 

 

Isto dá ensejo a uma veneração ainda maior, por parte do homem. A afirmação difusa e imperfeita da revelação e da ressurreição está confirmada, nos nossos dias, por novas descobertas e revelações; pela descoberta da telepatia, que nos diz serem possíveis comunicações diretas quer entre espíritos encarnados, quer entre espíritos desencarnados; pelas revelações contidas nas mensagens que se originam dos espíritos desencarnados e que mostram, de maneira direta, o que a filosofia só suspeitou: a existência de um mundo espiritual e a influência que exerce sobre nós.

 

 

Nossos recentes conhecimentos confirmam, dessa forma, as antigas correntes do pensamento, de um lado corroborando o relato da aparição de Cristo após a morte e nos fazendo ver, de outro, a possibilidade de uma encarnação benfazeja de almas que, antes de sua encarnação, eram superiores à do homem. Isto relativo ao passado. E, no que diz respeito ao futuro, confirmam o conceito budista de uma infinita evolução espiritual, à qual se submete todo o cosmos. Ao mesmo tempo, revestindo-se de um caráter de realidade cada vez mais pronunciado, o fato de nossa comunicação com os espíritos libertos nos proporciona um sustentáculo imediato e nos deixa entrever a perspectiva de um desenvolvimento infinito, que consistirá num acréscimo da santidade, numa interpenetração cada vez mais íntima, dos mundos e das almas, numa evolução da energia e da vida na tríplice concepção da sabedoria, do amor e da alegria. Este processo, que se realiza de uma maneira diversa para cada alma em particular, é em si mesmo contínuo e cósmico, porque a vida que nasce da energia primitiva diviniza-se para se converter na alegria suprema.

 

 

=== 
Que texto forte e belo.
 

Somo a todos os conhecimentos citados pelo final do livro de Myers, os conhecimentos e relações com os antepassados levadas a cabo pelos nossos Povos Originários, do Brasil e de toda América Espanhola.

 

Em sua ancestralidade, há acúmulo de conhecimentos hoje investigados pela ciência oficial com vistas à cura de diversas doenças.

 

Chamo o dia de hoje de Dia dos Povos Originários.

 

Não é Dia do Índio, pois não estamos nas Índias. Ajustemos nosso vocabulário.

 

Possamos nós, valorar suas terras demarcando-as, visando uma trajetória de paz e respeito às vidas de seus líderes, e de todas as suas comunidades.

 

Estou seguro que muito aprenderemos com essas civilizações ancestrais. Conclamo a todos a um respeito visceral a esses povos. Irmãos que somos em processo de evolução intelectual e ético.

  

Paulo Cesar Fernandes

 
19  04  2014

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