quarta-feira, 28 de março de 2012

Idéias pautando a existência

Excluindo os sofistas, cujo objetivo com sua retórica era apenas convencer aos ouvintes. Os filósofos, desde os mais remotos tempos se pautaram na busca da verdade. Tolice pura.

Mesmo enganados, quanto ao foco de sua busca, acabaram trazendo ao mundo uma série de idéias, uma série de conceitos, capazes de contribuir com este mundo no que diz respeito à sua compreensão ou, mais especificamente, com relação aos fenômenos sobre os quais se debruçavam.

Embates se travaram cada qual defendendo sua "verdade", muitas vezes eivados da mais profunda ortodoxia.

Pensando bem, nos colocando distantes das lutas entre eles travadas, temos a possibilidade de vislumbrar as contribuições desses pensadores apenas como idéias.Não importa se concordamos ou se discordamos das mesmas. Vale ssaber de sua existência; e, de forma consciente nos afastarmos de toda ortodoxia, fonte de desavenças, incompreensões; injustiças; guerras; etc.

Somos, todos nós, quer queiramos ou não, usinas produtoras de idéias. Umas de utilidade inquestionável, outras já sem grande valor. Mas são idéias. Mesmo aquelas ligadas aos aspectos ordinários da existência.

Michel Foucault dizia com acerto que a verdade é o conceito autoritáriamente imposto por aquele que tem o poder. Lembremos que a história que aprendemos na escola nos é sempre apresentada a partir da perspectiva do vencedor. Reflita como seria a América Latina se o Paraguai tivesse ganho a Guerra, mas antes estude e compare o estágiio de desenvolvimento do Paraguai comparado aos demais países da região.

Voltemos à questão da verdade, após essa breve digressão.
Dessa forma, nos afastemos mais e mais da caminhada equivocada da busca da verdade, permitamos simplesmente o fluxo dos pensamentos nos debruçando sobre eles de forma consequente visando aprimorá-los, depurá-los dando-lhes um sentido de maior utilidade pessoal e social.

Imersos no mundo como estamos, tudo o que fazemos e tudo o que pensamos tem impacto em nosso redor. Ninguém se iluda acerca do desvinculo de seu pensar e de seu agir e o impacto que causam no mundo. Agimos segundo as concepções norteadoras de nossa existência. Se nos reinos inferiores temos a vida, no reino hominal temos a existência cujo pressuposto é a consciência de si e de todo o entorno.

Nesse sentido, as lutas em defesa de uma concepção de mundo como possibilidade única, são pura pequenez de alma. Mais vale a abertura para a multiplicidade de possibilidades. Pois assim é a vida.

A vida é plural.

Nossas idéias se contrapoe a outras idéias num processo dialético e enriquecedor para todas as partes que compartem o debate do tópico em foco. Saímos diferentes desse processo inevitavelmente.

Se partimos de uma idéia inicial, a repensamos chegando a um novo patamar, estamos num processo de evolução do pensamento. Talvez Hegel chamasse de Dialética da Razão, ou algo parecido.

Me parece válido nos tempos atuais caminharmos por vias não ortodoxas; pelas não verdades prontas; com o peito aberto ao acolhimento de novas formas de pensar. Não que essas novas formas venham a compor o nosso repertório mental, mas é bom estar sereno de não ter obstado nada de novo por medo, preconceito ou ortodoxia.

As idéias são os faróis do mundo na sua jornada de progresso.
Sem elas o homem estaria ainda nos primórdios da civilização. Ora surgem da pura reflexão; ora premidas por necessidades aos quais o homem se defronta. O arado; a canalização hidráulica, são alguns exemplos de utilidades que nasceram a partir de necessidades humanas. E a história da humanidade é a somatória de soluções encontradas pela engenhosidade do homem para facilitar a sua vida.

Se nossas idéias são a expressão do nosso Ser, nossos atos são a materialização de quem somos nós.
Pois ao fim e ao cabo: o homem se define por seus atos.

É premente que o mundo seja formado pela concordância entre o pensar e o agir.

Os Líquidos Tempos atuais eliminaram o pensar da existência humana. O pensamento cedeu lugar à instintividade, reduzindo o homem atual ao Homo-Irrationalis, onde a pulsão pelo consumo o domina e orienta. Se despoja de sua identidade como ser pensante e diferenciado dos demais aoseu redor para fazer parte dessa massa amorfa, que embora seja classificada por Zygmunt Bauman  como os "de dentro" da sociedade de consumo, são aqueles que optaram  por abdicar de sua identidade pessoal e sua racionalidade para se objetificar. Abdicando da liberdade, passo primeiro do caminho capaz de conduzir o homem na senda da felicidade.

A lógica da sociedade de consumo é manter o homem sempre insatisfeito; sempre aquém dos últimos gritos da moda; não possuidor dos últimos lançamentos tecnológicos. Dessa maneira, incompleto e infeliz, apto pois a lograr a completude através da compra do produto mais recente, num processo interminável e insano.

Essa é a lógica do mundo globalizado.

E apenas homens com idéias, e "idéias claras e distintas" como dizia Descartes, serão capazes de se ver livres das garras pegajosas do universo do consumo.

Paulo Cesar Fernandes

24/01/2012

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