quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ferreira Gullar - Poema sujo e cristalino












Poema sujo e cristalino


No exílio
Gullar é pensamento
E nasce o Poema Sujo
Cristalino e profundo...


Lâmina de corte certo
Dilacerando peitos libertários
Ante a ira e fúria do "Poder Central"


Surge como gorgeio final
Da ave maranhense
José Ribamar Ferreira
Sendo na distante terra
Passo inicial de retorno


Brasil: seu lar
Seu seio: Rio de Janeiro
Palco de lutas tantas


Vida embalada em poesia
Palavra sensata nas crises
Cabelos brancos rebeldes
Caindo na magra face
Da história ativa de vida.


Ativista...
Comunista...
Perseguido...
Torturado...


Hoje um sorriso franco.
Ponteia a palavra, a frase, o olhar...
Sereno e calmo...
Tem sabor de dever cumprido.


Paulo Cesar Fernandes
12/02/2002

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Um homem de raça : Ferreira Gullar

Ferreira como tantos outros Ferreiras da Terra, e mais ainda és um José Ribamar, como tantos maranhenses e nordestinos recebem José Ribamar por nome.

Comum homem do povo, que tem na pena, na escritura a forma de revelar e realçar a realidade aguda de seu povo. Ao mesmo tempo em que espalha texto no papel chegando ao destroçar do poema linear e quadrado dando-lhe graciosamente a espacialidade.

Estancas ante a sinuca de bico trazida pelo questionamento profundo do que seja a função poética.

A eterna busca do novo no burilar do texto, ou por vezes permitir a este o jorrar, na forma de grito último diante da provável morte. Tal qual ocorreu ao Poema Sujo, numa semana escrito sintetizando toda uma vida; os azulejos portugueses da tua São Luis do Maranhão; os aromas de frutos e as coxas de mulher nas mornas tardes retratadas.

Resgate de um resgate das sensações todas, voltando e querendo seu espaço no papel, e este, rescendendo em cada página, mais e mais brasilidade, apavorado estavas de a ter perdido pelas peripécias a ti impostas pela vida.

Tu a almejar a leitura dos poetas de tua preferência, e a vida a traçar rumos, aos quais seguistes por puro instinto de sobrevivência.

Esse mesmo instinto capaz de te impor um trabalho num jornal qualquer, para que não te fosse mais cedo ceifada a vida; e com isso a possibilidade de ler mais e escrever mais e sempre melhor.

Quem de menino te mira, como mirava Darcy entre os índios nas páginas do periódico "O Cruzeiro"; também te admira na simplicidade destas letras, eivadas de rebeldia. Pois toda injustiça engendra ira e rebeldia.

Deixei calar a ira.

E por rebelde fiz enaltecerte a obra, e tua pessoa a qual em atos nos ensina, e de mão beijada oferta algo de interessante:

Entrevista de TV registra tua narrativa de discussão com a companheira e, a certa altura afirmas:
_ Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz!

Abrir mão das mesquinhas ocorrências da vida de relação. Optar pela felicidade, para também fazer feliz à outra parte é atitude de alma grande.

Me diga voce, leitor inteligente. Há algo mais prazeroso que a harmonia em casa? Leveza maior encontras?

Traz mais da tua infância, quando junto a tres inseparáveis amigos só faziam traquinagens na São Luis do Maranhão de outrora.

José Ribamar, és mais um Zé, como bem diz Zé Celso Martinez Correa. Um Zé.

Apenas isso, um Zé poeta.

Que foi ao limite da poesia e depois voltou. Sem medo de reprovações voltou.

E entre poema e outro enveredavas pela crítica literária, e textos diversos pois cultura não te faltou nunca.

Isso irava a ditadura militar que nada entendia de teus escritos, como não entende teus escritos a burra burguesia atual.

Pérolas merecem tratamento especial, aos porcos a lavagem a qual se habituaram desde sempre. 

PauloCesar Fernandes

15/02/2012

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