segunda-feira, 2 de outubro de 2017

20171001 Desafio

20171001 Desafio


_ Sou pequeno. Diminuto na verdade. Um verdadeiro nada.

_ ...

_ Por cima de mim passa a água; passam pés descalços; passam pés calçados.

_ ...

_ Sou o nada que a água maltrata, fazendo de mim gato e sapato.

_ ...

_ Até o dia em que me vejo finalmente seco. Mas outro tormento tem início nesse preciso momento. É o vento agora o algoz. Algoz atroz. Pois se vale de meu diminuto tamanho e falta de força para me impor sua soberana vontade. E lá vou eu empurrado para o vão da calçada; numa outra lufada me faz mudar de lugar; assim vai, brincando comigo e minha pequenez. Mudando meu lugar de forma tirana.

_ ...

_ Sou mesmo um nada!

_ ...

_ Ninguém me nota; ninguém me valoriza; vivo de déu em déu. Ninguém deposita sua atenção em mim, nem busca saber do meu modo de servir. Nem tu. Sim, tu na leitura deste texto. Pusestes algum dia teu olhar e toda tua atenção no ínfimo grão de areia desta tua Cidade de Santos?

_ ...

_ Eu bem sabia! Vês? Não existo enquanto unidade ou individualidade. Estou fadado a ser um nada, componente de um todo maior: castelo de areia; monte de areia ou dunas; parte da praia; um nada dissolto na coletividade.

_ Mas... Que queres te diga eu? - lhe disse.

_ Não me faças rir. Pensa tu. Que és? São muito maiores os vetores a comandar tua vida. Muito maiores, mais fortes e inumeráveis. O que és afinal? Pensa. 

Um silêncio dolorido me tomou. E o grão prosseguiu:

_ Por acaso te achas diferente de mim? És um iludido!


Paulo Cesar Fernandes.

01/10/2017.

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