segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

20140121 Falas

Falas


Sento Sé.
Beira Rio São Francisco.
Apesar de receber imagens das redes nacionais tem a sua fala regional preservada.
Uma fala herdada dos ancestrais.



São Paulo, bairro da Moóca, perto do Juventus. Rua Cassandóca, Rua dos Trilhos...
O português mesclado do italiano: "Ô meu cê num vê?"
Só se for dali. Da comunidade parlante, comunidade linguística e barrial.
Um sabore de ancestralidade.



São Gonçalo, comunidade ceramista do Estado de Mato Grosso.
Um português amiscigenado com muitas expressões trazidas do guarani fazem um amálgama do "ch" ou do "xi" com uma

sonoridade já ouvida na ancestralidade dos antropólogos e etnólogos do passado. Algo muito caro a Darcy Ribeiro.
O sorriso e o linguajar das etnias dos povos originários. Uma fala valiosa.




Minha Santos, com suas tribos surfistas, trazem todo um linguajar mesclado de americanismos, mas que na boca de nossas
meninas e meninos ganham uma dimensão muito, mas muito santisssta. Aqui se mescla a ancestralidade Ibérica e Itálica com a Invasão Cultura dos EEUU. Mas é outra língua, cheia de beleza e maneirismos específicos. Belíssimos.


Depois de assistir o filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" com Leonardo Vilar protagonista, partindo do conto de João
Guimarães Rosa, me dei conta da força dos inúmeros brasis imersos en cada recanto de nosso território. A riqueza das falas
dos personagens tem toda uma valoração existencial, não nossa fala atual, mas a vigorante nos dois séculos últimos no brasilzão
bem adentro do litoral, o Brasil Profundo como dizem alguns adeptos do Professor Guimarães Rosa.


Homem aberto a todas as religiões e todos os cultos, capaz de abarcar esse amálgama de credos que nada mais é que o
retrato mais fiel das crenças e crendiçes de nossa raça. Cadinho de etnias no imenso calderão.


Temos centenas de falas, mas queiramos ou não é o sertão, Sertão Profundo, ele habita dentro de cada um de nós brasileiros.


Tomando Jung, diria sermos fruto do "inconsciente coletivo" de nossa brasilidade, para nossa sorte.


E devemos isso aos escritores regionalistas, mas sobretudo a João Guimarães Rosa, homem culto e de mente ampla, capaz de deixar uma obra de grande profundidade. Profundidade psicológica de cada personagem, e ademais, desveladora das profundezas do Brasil não mostrado pelos Meios de Comunicação de Massa de matriz internacional, a maioria enfim.


É no papel, no livro, mais que qualquer outro meio o envolvimento entre o escritor e o leitor. Somos reféns de suas palavras e
de força de suas expressões tão brasileiras.


Para escrever em brasileiro não é possível fazê-lo sem passar pelas obras do Professor Guimarães Rosa.


Uma vez mais me sinto devedor. E busco ser aluno fiel.

Sim. Grato, muito grato.


Paulo Cesar Fernandes

21  01  2014


P.S.: Navegar nas margens do Rio São Francisco é sentir um outro Brasil a bataer em nossa sensibilidade. Rosa sabia muito mais disso, e usava sem cerimônia.

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