domingo, 13 de maio de 2018

20180513 Raça

 
RAÇA
 
 

_ Me dizes branco.


_ Apesar dos densos lábios; deste meu nariz achatado; desta ginga no corpo natural desde menino, e desenvolto nos jogos de Capoeira.


_ Com furor nos olhos me dizes branco.


_ Mas nunca entrastes em minha comunidade morro acima. A maconha por ti consumida em Ipanema e no Leblon te é entregue via "special delivery" por motoqueiros com roupas de grife, iguais às tuas, e muito melhores que as de todos nós em nossa comunidade.


_ Agora sou branco.


_ Mas ao passar por teus burguesitos amigos me sacaneam chamando negro porco e coisas piores.


_ Então agora eu sou branco. Agora, juntos, na porta da mesma Universidade Federal, com mesma pontuação para mesma vaga me chamas de branco.


_ Mas a vida toda até aqui, eu fui o filho da empregada, o "tição inútil", não é assim que no teu bairro me chamavam? O cara que nunca pode estar no mesmo campinho de futebol que voces da
"classe boa"; o suor do meu trabalho diferia em muito de todos voces, sempre limpos e perfumados.


_ Sou branco é?


_ Quase vinte anos de dor para agora, no Portal da Universidade ouvir imbecilidades?


_ Vamos ao teste de DNA!


_ Lutei para caramba para chegar aqui, dessa vaga não abro mão.


_ EU ENTRO NESSA UNIVERSIDADE! ATÉ MAIS VER!




Paulo Cesar Fernandes

10/05/2018.

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