É uma alegria quando o barco aporta em Juazeiro na Bahia, depois de alguns dias de viagem.
Alegria da terra firme, e alegria de ver Petrolina, do outro lado do rio.
Duas pérolas beira-rio tão bem cantadas por Alceu Valença:
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Petrolina Juazeiro
Na margem do São Francisco, nasceu a beleza
E a natureza ela conservou
Jesus abençoou com sua mão divina
Pra não morrer de saudade, vou voltar pra Petrolina
Do outro lado do rio tem uma cidade
Que em minha mocidade eu visitava todo dia
Atravessava a ponte ai que alegria
Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia
Hoje eu me lembro que nos tempos de criança
Esquisito era a carranca e o apito do trem
Mas achava lindo quando a ponte levantava
E o vapor passava num gostoso vai e vem
Petrolina , Juazeiro, Juazeiro, Petrolina
Todas duas eu acho uma coisa linda
Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina
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Sei lá por que motivo, primeira vez que ouvi essa música desanquei de emoção.
Emoção forte, a ver com ter conhecido ambas as cidades, mas
emoção mesmo da beleza da poética de Alceu.
Soube ele fazer emergir sua juventude, juventude de muitos e muitos brasileiros, que vivem pé numa, pé noutra dessas cidades.
Irmãs siamesas.
Amantes sem pudor, desavergonhadamente se despem uma para a outra, na maior sensibilidade e carinho.
Mas ocorre vez em quando me vejo assim, meio paulista e meio nordestino, e falo e escrevo diferente, algo simples, mas complexo, a complexidade toda da diversidade nordestina; uma diversidade capaz de ser um todo coerente no coração de seu povo.
E essa tamanha riqueza cultural...
Mesmo o não nascido por lá, se for verdadeiro brasileiro, tem a necessidade de sentir e ver e ouvir a música a fala, a musicalidade dessa mesma fala, bela e identificadora de algo, de sua raiz, de um outro modo de viver e de sentir. Um sentir forte, é a nordestinidade perto e dentro de si.
Sentir o Rio São Francisco, a correr dentro das próprias vias; e perder os olhos em lembranças a esse rio vinculadas; lembranças marcantes de uma época da infância, e outras tantas marcantes para toda uma vida. Não há brasileiro, navegante dessas águas, não tenha delas fortes marcas.
A beleza do Rio São Francisco se apossa do coração do homem brasileiro. Passa a ser parte integrante desse coração.
Tão belo é o sol nascente como o sol poente. O mesmo encanto em dois momentos distintos.
Nordestinamente, nos vem no vento, o som das feiras das pequenas cidades, onde se apregoam mercadorias e versos.
Poetas de cordel fazem seus livretos, ganham seu pão da poesia.
Todo fato é mote. Nada lhes foge aos olhos. O mundo se lhes apresenta por meio de versos.
Embrenho meu pensamento sertão adentro. Rasgando matas. Gibão e cavalo de boa coragem, dois companheiros fiéis, de vida e viração. Sem um cavalo de fibra, nada vale a coragem do sertanejo.
Homem e cavalo são uma unidade indivisível, por entre galhadas e espinhos, confiam um no outro como amantes fossem, não há traição possível; há por toda uma vida um cuidar de ambas as partes, pois o bom vaqueiro bem atende as percepções de sua montaria.
Pouco ve o homem em comparação ao seu animal. Dos perigos e dos caminhos mais sabe o animal.
Curote d'água sempre a postos, aos dois serve na mesma medida.
Nas paragens dos sertões, vaqueiro e montaria são as duas partes de uma mesma vida.
Com propriedade disse um dia Euclides da Cunha:
_ "O sertanejo é antes de tudo um forte."
Paulo Cesar Fernandes - Portal Fernandes
28 12 2012
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