Conversava com uma amiga de São Paulo, e o todo da conversa me levou a lembrar duma música de Alceu Valença.
Uma conversa boa, uma conversa madura, de duas almas em processo de diálogo e de mútuo conhecimento.
Alceu Valença descreve com precisão a situação de muitos viventes.
Quantos não são os solitários, nestes tempos de intolerância e de relações fortuitas, e de fracas ligações. Na química deve haver uma denominação para as fracas ligações entre os elementos. Como não conheço química me calo.
Mas vivemos tempos de solidões. Solidões solitárias e solidões em companhia.
Por vezes o casal se forma de dois solitários sob o mesmo teto.
Sendo esta a mais penosa dentre todas as solidões, pois há a vida comum com suas obrigações, no entanto sem o aconchego, a parte boa da vida em comum. Uma parede de gelo separa cada uma das partes. Seria mais bela a separação.
Um solitário de cada lado. Talvez ambos felizes.
Da letra da música foram tiradas as duplicidades apenas.
O cerne da coisa aí está.
Vejamos as palavras do poeta:
Solidão
A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.
«««
Tomando apenas trechos da música.
A solidão é fera, a solidão devora.
»»» Verdadeiramente devora. Mas não é todo dia sua voracidade. Dias há, em que o tempo nos passa sem qualquer menção ao relógio. Bem ao contrário, quando nos apercebemos já é hora do almoço, logo após o lanche, e num salto estamos a recolher ao sono reconfortante.
E faz nossos relógios caminharem lentos
»»» Quando vazias estão as mãos o relógio é um algoz. Insiste em caminhar lento. Lembro de quando trabalhava, brincava que o local de trabalho tinha um campo magnético capaz de fazer andar mais lento o relógio, mas muito mais lento. Muito ao contrário nos ocorre quando a tarefa nos agrada. ZAZ... Já somos obrigados a ir embora.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.
»»» Que solitário não se deleitou com esses quatro elementos?
Da infância até a velhice, estes elementos tomam conta da vida do homem na terra.
Que homem não mostrou a lua à mulher amada?
Que poeta não curtiu a noite e a rua?
Onde nasce a inspiração senão na observação das coisas e das gentes ao nosso redor?
O poeta é a antena do mundo.
Eu já disse isto antes, e nunca é demais repetir.
»»» E se o solitário/solitária não for poeta?
»»» Pode não ser poeta, mas ninguém é destituido de sensibilidade. Falo de gente num padrão normal. Gente em seu juizo, sem alccol, drogas e tal.
Pessoas, normalmente se vinculam às coisas da natureza.
Desde seu cão até a luz do luar, entrando sorrateira pela janela do quarto, nas noites de verão.
Seja apenas um filete, ou um clarão de luz da lua, ilumina o quarto e a vida dos humanos.
E isto desde as mais remotas eras.
Quem nunca ouviu falar dos menestréis? Sim!
Menestréis como Alceu Valença que deu mote a este texto.
Paulo Cesar Fernandes
08 12 2012
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