Encontro
Por que o verso não mais me escorre das mãos?
Tudo que toco rescende a sangue, tem o cheiro das lutas fraticidas.
Por que se esvai em mim a filosofia?
Elaboro idéias filosóficas, e só me expresso em palavras frias, como a lápide duma tumba, onde jazem os restos mortais do sonho, da herança humanista, da solidariedade...
Por que o presente se ausenta, abrindo lugar à insanidade plena a pautar as existências?
E eu digo NÃO aos sinais dos tempos dos apocalipticos.
Desfaço suas linhas retas em milhões de curvas, e saio fora do papel, e escrevo fora da linha...
e desço a calçada me esgueirando entre os carros,
absorvo a fumaça do diesel,
subo as escadas dos jardins da imaginação me embrenhando pela metrópole...
entre putas e putos, freiras e frades, homens de maletas e obrigações,
por todos eles passo incólume, carregando a loucura na dose certa.
E paro. Olho minhas mãos!
Destruo o asfalto com as unhas e cavo fundo,
mais fundo, até o sangue das mãos liberte um verso, outro verso, um a um todos os versos de todos os tempos imemoriais jorram como água cristalina,
dessedentando o mundo e humanizando o Homem.
Há choro e riso ao redor.
Ainda descontente, deixo a Avenida do verso na busca da Filosofia.
Ando. Ando muito.
Já cansado me sento.
Fito o mar com olhos perdidos no horizonte...
a tal ponto de não sentir ao meu lado uma senhora feita de palavras.
Trajes simples, fala mansa, olhar sereno e profundo.
Deixo-me estar extasiado, plenamente satisfeito.
Nada mais eu busco.
Paulo Cesar Fernandes
20 09 2004
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