quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Refugiados: os verdadeiros Sem Terra

Angústia,

desolação,

falta de perspectiva,

fome,

doenças...

e um não-lugar sobre a face da terra.

Homens, mulheres e crianças, como eu,  e como voce, estão agora, exatamente agora, passando por esse tipo de coisa. Não são criminosos. Bandidos. Ou qualquer outra coisa de ruim que lhes possamos imputar.

São apenas os indesejáveis da Terra trazidos à tona pela maldita Globalização, pela Sociedade de Consumidores propugnada por Bauman; pelo Imperio como preferem chamar Toni Negri e Richard Hardt. Saiba mais:


Bauman, Z  Amor líquido: sobre a fragilidade dos laçoshumanos
Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2004

Pag. 76

Os campos de refugiados ou as pessoas em busca de asilo são artífices de uma instalação temporária que o bloqueio das saídas torna permanente.

Os internos dos campos de refugiados ou as pessoas em busca de asilo não podem voltar "ao lugar de onde vieram", já que os países de origem não os querem de volta, suas formas de subsistência foram destruídas e seus lares, pilhados, demolidos ou roubados. Mas também não existe um caminho à frente — nenhum governo teria satisfação em ver o influxo de milhões de sem-teto, e qualquer um faria o possível para evitar que os recém-chegados se estabelecessem.

Quanto à sua nova localização "permanentemente temporária, os refugiados "estão nela, mas não são dela". Não pertencem verdadeiramente ao país em cujo território foi montada sua cabana ou tenda portátil. São separados do restante dele por uma cortina de suspeitas e ressentimentos que é invisível, mas ao mesmo tempo espessa e impenetrável. Estão suspensos num vácuo espacial em que o tempo foi interrompido. Não se estabeleceram nem estão em movimento. Não são sedentários nem nômades.

Pag. 78-79

Tendo abandonado, voluntariamente ou à força, seu ambiente antigo e familiar, os refugiados tendem a ser despidos das identidades definidas, sustentadas e reproduzidas por aquele meio.

Socialmente, são como "zumbis": suas antigas identidades sobrevivem principalmente como
fantasmas, assombrando as noites dos campos de modo ainda mais doloroso por serem totalmente invisíveis à luz do dia. Mesmo as mais confortáveis, prestigiosas e invejáveis dentre as velhas identidades tornam-se desvantajosas —dificultam a busca por novas identidades mais adequadas ao novo meio, impedem que se seja obrigado a enfrentar as novas realidades e retardam o reconhecimento da permanência dessa nova condição.

Para todos os fins práticos, os refugiados foram consignados àquele estágio intermediário, "nem
um nem outro", da passagem em três etapas de Van Gennep e Victor Turner — mas sem que essa consignação tenha sido reconhecida pelo que é, sem um tempo de duração determinado, sobretudo sem a consciência de que a opção de retorno à condição anterior não existe mais, e sem uma indicação da natureza dos ambientes que podem aparecer pela frente. Relembremos que, no esquema de "passagem" tripartido, o desnudamento que privou os portadores dos antigos papéis dos atributos sociais e símbolos culturais do status que um dia tiveram (a produção social, com a anuência do poder, do "corpo nu", como diria Giorgio Agamben ) não era senão um estágio preliminar necessário para recobrir os "socialmente nus" com a parafernália de seu novo papel social. A nudez social (freqüentemente também corpórea) era apenas um breve intermezzo a separar os dois movimentos, dramaticamente distintos, da ópera da vida — assinalando a separação entre os dois meios, sucessivamente assumidos, de direitos e obrigações sociais. É diferente, contudo, no caso dos refugiados. Embora sua condição comporte todos os traços (e conseqüências) da nudez social característica do estágio de passagem intermediário, transitório (falta de definição social e de direitos e deveres codificados), ela não é um "estágio" intermediário ou transitório que leve a algum "estado estacionário" específico e socialmente definido. Na difícil situação dos refugiados, a condição designada como "intermediação personificada" se estende indefinidamente (uma verdade que o destino dramático dos campos de refugiados palestinos trouxe recentemente, de modo violento, à atenção do público). O "estado estacionário" passível de emergir só pode ser um efeito colateral não-planejado e indesejado do desenvolvimento suspenso ou interrompido — de tentativas fluidas, reconhecidamente temporárias e experimentais, de sociação [sociation] congelando-se imperceptivelmente em estruturas rígidas, não mais negociáveis, que prendem os internos com mais firmeza do que guardas armados e arame farpado.
 

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Me perdoem tratar disso. Mas preciso compartir a dor com alguém. trazer mais um à consciência. Quem dera fosse lido por milhões e milhões e que dentre eles se postasse alguem capaz de deter esse  extermínio planejado para os deserdados da terra.

Porra nenhuma de Reino dos Céus.

Que num AGORA urgente, esses  seres humanos tenham um  AQUI para viver, e viver dignamente.

Abaixo G8, G20, G....

E esses canalhas que criam e alimentam esses não-lugares, compostos de não-pessoas, ainda tem a ousadia de falar mal de Hitler.

Perto deles Hitler era um seminarista!

Enquanto esses governos fazem a "higienização", as empresas de seus países compram imensos territórios dos países periféricos, ou arrendam por um século junto a governos corruptos e lacaios; para especulação, e caso as terras das grandes nações se tornarem inférteis já terão novos lugares onde plantar. Segundo informações de Slavoj Zizek um dos grandes intelectuais da atualidade.

Paulo Cesar Fernandes

08/08/2012

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