A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular (Salmo 118)
Quando um cientista realiza uma descoberta inovadora, ou propõe alguma nova teoria que contradiga as idéias dominantes, imediatamente é contestado por parte da comunidade científica e defendido por outros. É bom e necessário que isso aconteça, já que novos experimentos e os debates que acarretam são indispensáveis para a validação ou refutação do que está sendo proposto.
O monge agostiniano Gregor Mendel (1822-84) realizou uma série de experimentos sobre caracteres hereditários da ervilha e apresentou os resultados, enunciando três leis da herança, na sociedade científica de sua cidade (Brno, na atual República Checa), e os publicou em 1866. Esses experimentos são considerados, hoje, os mais importantes e inovadores na área da biologia do século XIX.
Pela primeira vez, dava-se uma explicação satisfatória para a herança de caracteres individuais e, também, pela primeira vez, usava-se a estatística na avaliação de experimentos científicos. Contrariamente ao que costuma ocorrer, ninguém contestou, aprovou ou discutiu o que estava sendo apresentado. Nem se tentou repetir os experimentos. O trabalho foi totalmente ignorado durante 34 anos.
É tradição afirmar que os trabalhos de um obscuro monge, de uma cidade do interior da Morávia, não foram lidos. Somente no ano de 1900, as leis da herança foram redescobertas, de forma simultânea, por três cientistas de três diferentes países: Hugo de Vries, da Holanda, Carl Correns, da Alemanha e Erich Tschermak von Seysseneg, da Áustria.
Os experimentos de Mendel passaram mesmo despercebidos? Houve realmente uma tripla descoberta simultânea em três países diferentes?
A publicação de Mendel não passou despercebida, porque ele mesmo encarregou-se da difusão, remetendo mais de 40 cópias dela a instituições e pesquisadores diversos.
Enviou uma cópia ao maior botânico do seu tempo, Karl von Nägeli, professor de Botânica na Universidade de Munique. Escreveu-lhe dez cartas e enviou-lhe amostras de sementes para que ele repetisse o experimento.
Nägeli não se interessou, apenas escreveu a Mendel para dizer que ‘seu trabalho parecia muito empírico’ e recomendou a ele que trabalhasse com outra planta, o Hieracium.
Mendel não ficou abalado pela rejeição de um trabalho que sabia ser muito importante, seu comentário foi: meu tempo virá (Meine Zeit wird kommen).
A publicação de Mendel foi citada 14 vezes ao longo desses 34 anos. Em 1869, o botânico alemão Hermann Hoffmann publicou um livro de Botânica. Na parte em que se refere a hibridações, citou o trabalho publicado por Mendel.
Em 1879, a publicação de Mendel figurava no registro da Royal Society de Londres, e ele foi citado na nona edição da Enciclopédia Britânica (1889), no verbete ‘hibridação’.
Em 1881, Wilhelm Focke publicou um livro de botânica sobre cruzamentos, Die Pflanzenmischlinge. Essa referência levou os pesquisadores Correns, de Vries e Tschermak ao trabalho original.
Na biblioteca de Charles Darwin, achou-se um exemplar da publicação original de Mendel. O único cientista que, com certeza, teria valorizado seu trabalho, nunca o leu. As folhas não tinham sido cortadas.
Em 26 de março de 1900, o botânico holandês Hugo de Vries publicou um trabalho em francês, ‘Lei de Segregação dos Híbridos’. O artigo trata da segregação de fatores hereditários de cruzamentos de diversas espécies vegetais, mas não mencionou Mendel.
Em 24 de abril de 1900, o botânico alemão Carl Correns, da Universidade de Tübingen, publicou um artigo intitulado ‘Lei de Mendel sobre a descendência de híbridos’ apresentando resultados de cruzamentos com ervilha, em que obtém resultados similares aos de Mendel, e citou o trabalho que publicou Hugo de Vries.
Correns ressaltou que o mérito era do monge-cientista, que já tinha chegado a essas conclusões na pesquisa de fatores hereditários. Correns aceitou as palavras ‘dominante’ e ‘recessivo’ usadas por Mendel para caracterizar a expressão de seus ‘fatores hereditários’ (genes) e mencionou, que ‘por uma rara casualidade’ Hugo de Vries usara as mesmas palavras,
Em maio do mesmo ano, depois da publicação de Correns, Hugo de Vries publicou, em alemão, o mesmo trabalho que apresentou na França, e desta vez citou Mendel. Hugo de Vries conhecia o trabalho de Mendel antes da primeira publicação, porque usou os termos ‘dominante’ e ‘recessivo’, Por que não citou a fonte na primeira publicação ?
Como Hugo de Vries citou somente a Mendel, depois de publicado o trabalho de Correns, não pode ser chamado de redescobridor. Erich Tschermak publicou seu trabalho com uma referência a Mendel, em junho do mesmo ano, depois de ter lido a publicação de Correns. Portanto, somente confirmou a validade das leis da herança.
O único redescobridor do trabalho de Mendel foi Carl Correns, que soube avaliar a sua importância, denominou-a ‘Lei de Mendel’ dizendo que era um dos melhores trabalhos publicados sobre hibridações. Mais que uma redescoberta das leis da herança, foi a descoberta de um grande cientista por Correns.
O trabalho de Mendel era conhecido, mas sua importância não fora valorizada, a sua originalidade não fora reconhecida, nem os seus novos métodos foram discutidos. O trabalho foi depreciado pelos pesquisadores.
Segundo uma antiga lenda rabínica, entre as pedras cortadas para construir o Templo de Salomão havia uma muito grande, que os construtores não sabiam onde colocar e terminaram rejeitando-a.
Na hora de pôr os fundamentos do ângulo do templo, não achavam nada apropriado, até que lembraram dela. A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular do templo. As leis de Mendel foram a base de uma nova Ciência: a Genética. ««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««« |
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