Diálogo sobre familia
Depois de longos anos dois amigos de escola se reencontram.
A_ Que faço da Liberdade, tu me perguntas?
B_ Eu vivo-a.
A_ Mas que fazes do tempo, o tempo todo?
B_ Eu o uso, e uso bem. Pode estar certo. E tu?
A_ Eu trabalho! Ganho dinheiro. - estufando o peito, vitorioso.
B_ E te satisfaz?
A_ Como assim, eu trabalho, já te disse.
B_ E te satisfaz, isto te basta?
A_ Bom... Nunca pensei nisso.
B_ Por que não pensastes?
A_ Ai... eu não sei... Eu trabalho muito, chego apenas a casa para
comer algo e dormir....
(Pausa)
A_ Há que levantar cedo, na oficina iniciamos por volta das 7h.
B_ És operário?
A_ Que operário nada. Sou dono de uma oficina, oficina grande. Atendemos de caminhões a carros de madame. E sou bem quisto no mercado, muita gente importante procura meus seviços. Profissional é profissional!
B_ E me digas. Quando descansas?
A_ Descanso. Algum domingo eu descanso. Vou ao futebol com o pessoal da oficina vizinha.
B_ E tens filhos?
A_ Sim. Uma menina de 3 anos. E dois varões. Um de 12 ou 13 anos e outro fez quinze semana passada. Festa grande lhe dei.
B_ Eu não tenho filhos. Me entristeço com isso. Mas não perderia a oportunidade de estar com eles. Seriam meus grandes companheiros.
A_ Mas os meus não, eles tem lá a sua vida, não me querem. Sempre foram coisa da mãe. ela é quem cuida deles.
B_ Compreendo. Tú és o provedor.
A_ Sim o provedor. Nada lhes falta.
B_ Tua mulher é a mãe e o pai dos teus filhos.
A_ O pai sou eu, já te disse.
B_ Não Armando. Pai é o que está junto. Sabe tudo de seus filhos. Idade, altura, esporte que pratica, musica que ouve. O pai, Armando, junto com os filhos aprende coisas. E aprende deles outras tantas. Rosamaria nunca te pediu ajuda?
A_ Mas a minha vida é uma loucura, como poderia ajudar?
B_ Dividindo teu tempo entre o trabalho e tua familia. Se é que amas tua familia.
A_ Muito, Beto, amo muito!
B_ Assim, pensa no que te digo. E até outra hora.
Armango sai de cena de cabeça baixa.
Quando se despedem Beto se volta ao público confessando:
B_ Algumas vezes tenho visto pela tarde, Rosamaria pelas ruas do Gonzaga. Bem vestida. Perfumada. Insinuante. A imagem viva de quem busca uma aventura amorosa. A filha, menina de pouca idade, não seria impedimento para isso. Mas quem pode condenar uma mulher, nunca amada e nunca valorizada?
Paulo Cesar Fernandes
02 02 2013
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