sexta-feira, 18 de abril de 2014

20140418 Velocidade

Velocidade

Será a velocidade um bem para a humanidade?


Como se deu isto?


Para vencer as distâncias, inicialmente o homem se valia de suas pernas, tomando um certo tempo. O advento do cavalo lhe pripiciou um tempo menor na execução dessa mesma jornada. E assim se moveu por séculos.


Com a Revolução Industrial, e a chegada das máquinas a vapor, a inteligência humana foi talhando esse tempo, sempre objetivando "ganhar tempo".


Nessa ótica, vários processos evolutivos ocorreram, nos deixando como herança: automóveis; navios; aviões a motor; aviões a jato; foguetes; trens de alta velocidade; etc. Hoje nos movimentamos com facilidade entre todos os continentes, e mesmo nos destinando a satélites e planetas outros.


O avanço da tecnologia nos abriu horizontes. Em qualquer capital do mundo, se voce tirar uma foto de uma região central da cidade, vai registrar pelo menos dois falando a um celular, smartphone ou similar. Somos verdadeiramente uma aldeia, como os Juripis, os Nhambiquaras, e outros.. Mas uma aldeia densamente vigiada,
onde o Grande Irmão de "1984", o livro ficcional de George Orwell, já apontava como realidade. De elevadores até a porta de entrada de um prédio, as câmeras de segurança tem presença obrigatória.


Temos uma sociedade veloz, violentamente veloz. E violenta. Orwell não previu tal violência.


Onde estar seguro no Brasil, no México ou em Miami?


Dentro da própria casa na cidade ou no campo? No seu sítio em Camanducaia, sentado ao pé do fogão a lenha?


Se estabeleceu no mundo o acesso aos bens de consumo, o que é perfeitamente justo. Mas logo após isto se estabeleceu a premencia, a velocidade na aquisição de tais facilidades da atualidade. Ter todos esses bens é um imperativo. Consumir! Consumir! Consumir!


Ou voce é um contumaz consumidor, ou voce está fora da "Sociedade dos Consumidores", expressão cunhada por Zygmunt Bauman em suas obras.


Não foi tratada por Orwell ou Bauman a velocidade de aquisição como um impositivo social. Somos obrigados a pensar no consumo como o natural da existência, para isso aí estão os Mass Mídia. Em 30 minutos de TV somos assolados por mensagens imperativas, nos fazendo crer que a felicidade é o novo shampoo; aquele novo carro, pois o teu filho tem vergonha do seu atual carro; e assim vamos massacrados.


Somos violentados pela "Sociedade dos Consumidores". É imperativo ter o bem e logo. Afinal todo mundo tem. Que mal há nisso?


Não há mais tempo de espera, de acúmulo de capital para acesso ao bem. O homem quer o bem já, e ponto final. Ou se mete numa dívida sem pensar ou assalta e compra, mas o bem está em sua mão.


Não quero voltar no tempo, mas rever a forma de nos relacionarmos com os Entes, com as coisas, e coisas são coisas nada mais que isso.


O homem é Ser. Racional. Dono e senhor de seu pensar e de seu agir. Eu te conclamo como pai à racionalidade de fazer a educação de teus filhos de forma a gerar um Ser, e não um autômato teleguiado. Até as leis nos mandam assim fazer, vejamos:


Código Civil Brasileiro.

Seção II Do Exercício do Poder Familiar

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I - dirigir-lhes a criação e educação;
II - tê-los em sua companhia e guarda;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.


Proponho aos homens de bom senso retroagir na velocidade dos tempos atuais, retomar um tanto de sua naturalidade; isto, de sua natureza como ser humano transpondo isso aos seus filhos.


Faça um experimento: ponha-te nú/nua em teu quarto, vendo-te despojado/a de todas as convenções e valores a  ti impostos pelas diferentes instâncias sociais.


Somos todos primatas.


Tomar essa consciência nos levará a andar mais devagar, e reestruturar nossos valores. Abandonar a velocidade imposta a nós de fora e contra nós.


A felicidade, o bom viver, pode estar no admirar o canto de uma pássaro, no caminho feito a pé, até a padaria; pode estar no cão que te reconhece e abana o rabo quando passas e falas com ele; no minuto de prosa com o vizinho; no sorriso ao ceder o lugar para a senhora com suas dez sacolas entrando no ônibus; e tantas
outras coisas pequenas e simples como a observação da natureza.


Tal como está posta para nós a velocidade, ela se constitui num mal. Mas será um bem, quando a usarmos em nosso favor, em favor de nossa plenitude.


Afinal, cada um de nós é um Ser com o direito de ser feliz.


Paulo Cesar Fernandes

18 04 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário