sexta-feira, 20 de setembro de 2013

20130920 Memórias

20130920 Memórias

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Roberto Carlos


Um dia a areia branca
Seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorar


Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante


As luzes e o colorido
Que você vê agora
Nas ruas por onde anda
Na casa onde mora
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente


Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante


Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso


Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante


***

Música feita por Roberto Carlos para Caetano Veloso, que estava muito mal durante seu tempo de exílio. Deve doer demais mesmo.

***

Ontem de tarde eu ouvia esta música cantada por Fernanda Takai, num CD onde ela canta coisas de Nara Leão. Ao longo da execução da música, me deu uma certa dor, pensar nos diversos irmãos e companheiros de nossa America Latina, impossibilitados hoje de estar em seu pais natal, junto de seus companheiros e companheiras.


Lutando as lutas de seus povos. Ajudando a construir novos paises e novas estruturas sociais.


Ditaduras e governos lacaios impossibilitam a esse pessoal uma vida com segurança em seus amados recantos.


De noite, ontem mesmo, como se houvesse uma coordenação entre os fatos de minha vida, ao zapear após o Jornal da TV Cultura me deparo com "Canções do Exílio: A labareda que lambeu tudo" um documentário focando o período de exílio de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jards Macalé e Jorge Mautner. O texto do documentário é de Genetton de Moraes Neto.


Embora seja um documentário de certa forma leve, me fez sentir mais aguda a dor da parte da tarde.

Ao pensar nenhum deles ser um militante de esquerda, apenas artistas críticos ao "stablishment".


Evidentemente eles tocavam em valores, questionavam o mundo de uma forma divertida através do Tropicalismo, uma releitura da antropofagia da "Semana de Arte Moderna" de 1922. Isto é: pegar a cultura que nos é imposta do exterior, mastigá-la e, sem digerir, vomitá-la em novas expressões
culturais.


É revolucionário? Sim. Foi. A ponto de diversos artistas dos países do Cone sul de nosso continente criarem o Novo Tropicalismo, declaradamente inspirado nos trabalhos de Gil e Caetano. Nós, não músicos, não imaginamos o quanto de interferência e conexões há entre os artistas do Brasil e dos demais países do continente.


Cálice


Gil conta que numa Semana Santa teve a ideia de fazer algo com relação a essa palavra. Ele e Chico Buarque combinaram e no Sábado de Aleluia, no apartamento do Chico em frente a Lagoa Rodrigo de Freitas fizeram a obra. Como a letra foi proibida cantaram apenas a música em sons estranhos ao que a plateia reagiu, mas percebeu o que ocorria naquele momento.

Cálice
Chico Buarque e Gilberto Gil
  

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta


Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa


Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade


Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (Cale-se!)

***

Gil explica trechos da música:

Como beber dessa bebida amarga - a bebida amarga era um litro de Fernet que Chico havia trazido enquanto compunham.

Ver emergir o monstro da lagoa - emergir um monstro qualquer da Lagoa Rodrigo de Freitas. Em tempos como aqueles os monstros estavam em cada esquina.

Gilberto Gil diz que inda hoje não se sente bem em cantar essa música.

http://www.youtube.com/watch?v=oXGDlMMOEWg

Chico e Milton cantando:

http://www.youtube.com/watch?v=26g1jQG-n4Y

Tempos, tempos. Tempos de triste memória.

Paulo Cesar Fernandes

20 09 2013

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