sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Santos: variação sobre um mesmo tema
Que define a beleza de uma cidade?
Voltava ontem do dentista, com a boca toda torta, como sempre que tomamos anestesia. E essa pergunta se estabeleceu.
Parei para tomar café no Cine Roxy e parece que a boca não abocanhava direito a xícara. Tive vontade de rir da situação. Mas seria algo estranho achar graça no fato de tomar café. No tempo de cardume, da juventude, era comum um rir do outro. Por tremer a mão, deixar cair café da xícara, tudo era motivo de "risas" como dizia minha avó. Tempos de pouca responsabilidade e de muita curtição.
Mesmo sob a Ditadura Militar.
Mas o café acabou, e segui caminhando lento, pela Av. Ana Costa, esta em profunda transformação.
Sua dinâmica me lembra a do bairro de Moema, em São Paulo, quando para lá me mudei. As casas do bairro foram sumindo a olhos vistos; e, em seu lugar deparamos com o nascimento de grandes emprendimentos imobiliários: 4 quartos, duas suites, tudo do mais alto padrão. Meu prédio desaparecia diante da grandiosidade ao seu redor.
Algo que mais tarde veio a ocorrer na pacata Vila Madalena.
A Vila Madalena dos artistas e dos estudantes e funcionários da USP (Universidade de São Paulo). O bairro nasceu em função da USP, foi pensado para isso. A Vila Madalena.
Deixou de ser pacata e se tornou Point de tudo. O espaço dos verdadeiros artistas e poetas foi tomado de assalto, e hoje não mais sei por onde se "esconde" essa categoria tão especial de pessoas.
Mas a Ana Costa está assim, em ebulição. E nela eu caminhava devagar, admirando o movimento, e permitindo a emersão das memórias do já visto naquelas quadras/quarteirões.
A beleza está presente nos dois momentos. Era bela no passado, com casas e prédios baixos; e bela está agora com essa revolução estética em curso.
Mas... Que faz bela uma cidade?
Casas, edifícios, pontos comerciais? Não! Não mesmo! O que embeleza sua cidade são as pessoas que nela habitam. E algumas pessoas, em seu modo de ser, são o toque de plasticidade capaz de embelezar qualquer cidade.
Tomemos a Avenida Paulista. A mais bela do mundo.
Seus prédios são belos? Sim, o são. E muito belos.
Mas a fauna humana nela presente a define como a mais bela do mundo. Durante a semana, a massa humana com seu arsenal de aparelhinhos e preocupações, um andar agitado, como a acompanhar o correr dos pensamentos. Um Dois Um Dois como uma marcha militar para grande maioria das pessoas. É a dinâmica de seu ganhapão.
Mas, dentro disso tudo, uma moça muito bem vestida, passeia serena com seu cãozinho pela calçada em frente ao Parque Trianon, chamando a atenção de todos. A calma e a beleza param a avenida.
Logo adiante, uma idosa, a passos já mais lentos, se posta numa banca de revistas, e fica admirando as novidades, e conversando com o revisteiro, naquela proximidade tão brasileira. E quando se despede ainda ouve:
_Vá com Deus! - do revisteiro, uma forma carinhosa de dizer eu te quero bem.
Santos. Por ser uma cidade de praia, dá ao caiçara de verdade, uma maneira mais lenta de viver. E isso se reflete nas ruas. Já foi mais evidente tal característica, mas ainda vemos pessoas serenas no seu caminhar. Tais pessoas esperam o sinal de pedestre ficar verde para atravessar. Um jeito santista de viver.
Essa massa de pessoas que tem chegado à cidade, aqui vem com o intuito de uma vida mais tranquila; mas carrega consigo a intranquilidade. Assim encontramos a ansiedade em grande parte delas, principalmente se fazemos o trajeto no sentido Gonzaga - Bairros. Santos não será capaz de mudá-las. Elas farão um esforço interno de busca da serenidade, se quiserem atingir o objetivo traçado na mudança para o litoral santista.
Muitos atravessam com o bonequinho vermelho. Em, muito me lembram minha cadela Laika, que era ansiosa. Quando tinhamos tempo de espera para a abertura do sinal, ela ficava como que marchando com as duas patas dianteiras. Se estivesse solta atravessaria tal qual fazem essas pessoas às quais me referia.
Fazem da pressa seu modus vivendi. Mas minha cidade não é apenas a Ana Costa.
Os bairros carregam em si o "jeito santista de viver". Quem percorrer a Rua Carvalho de Mendonça, mesmo em seus pontos mais comerciais, há de ver uma maneira pacata de
caminhar.
Ninguém precisa "tirar o pai da forca".
Corpos mais malemolentes se fazem presentes nos bairros. Os bairros. No meu modo de ver. São a essência da cidade. Onde pode imperar a cortesia. A proximidade nas relações.
Tenho frequentado a Loja de Conveniência de um posto de gasolina perto de casa. Um café puro ao meio da manhã. Hoje. Feito o pedido a uma das meninas, uma outra se apressou em trazer o vidro de canela em pó para aromatizar o café, habito muito meu, e bem conhecido dela.
As pequenas atitudes, demonstram não apenas a vontade de bem servir dessa menina, mas a atenção aos detalhes, muito mais fácil de ser encontrada na proximidade de relação oferecida pelos bairros. Finalizando...
Quer no Gonzaga, quer nos bairros, Santos é a cidade que habita meu coração.
Paulo Cesar Fernandes
28/09/2012
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