sexta-feira, 3 de maio de 2013
20130503 Sinceridade
Mais vale uma crítica sincera, a milhares de falsos elogios.
(Paulo Cesar Fernandes - 03 05 2013
Por que digo isso? Eu conto.
Andava eu pela faixa dos vinte e alguns anos, e uma amiga/namorada pintora, me viu os versos e gostou. Acho que sim. E me disse que poderia fazer chegar a Nelida Piñon, uma pessoa do ramo. Esta poderia fazer uma análise legal do meu "trabalho literário". Hic!
Topei! Escolhi uns doze exemplares e entreguei à amiga.
Tempo passou e me vem ela com a nota: Nelida estava em Ribeirão Pires, já tinha visto meu trabalho e seria fácil, no sábado ir ter com ela. Assim foi feito.
Dispenso aqui a narrativa das formalidades, dos cuidados para dizer as coisas.
Em resumo meu trabalho era "ideológico demais, e não tinha universalidade. A poesia precisa ser universal. Abarcar todo o público."
Foi um murro no peito. Respirei fundo e tive forças de dizer:
_ Tomar Neruda como modelo?
_ Sim. Mas existem outros.
Não lembro se ela me deu alguma receita ou não. Faz muito tempo. Eu estava estonteado. Sei que a questão da universalidade da arte me marcou.
Passou o impacto. Reli Neruda. E nele via a presença da ideologia também, mas de forma sutil e quase transcendente.
Realmente, falar em "Mariquinha tecelã, levanta às cinco da manhã, ..." é bater pesado, eu sabia e sigo sabendo. Mas é condizente com a agrura da vida da personagem.
Sei que a linguagem pode ser usada de outras tantas maneiras. Mas a força impactante se esvanece.
E antes de 1977 essa tinha de ser a linguagem. Ditadura Militar. Camburão contra a gente no fim do show da Gal e do Gil. No TUCA da PUC-SP. Rua Monte Alegre. A vida era rude para todos nós. O poeta reflete a realidade.
Mas verdadeiramente não era uma poesia da universalidade. Era militante.
Hoje é diferente. Consigo ver a delicadeza do caminhar de uma mulher, e disso me nascer um poema. Esse sim universal. Transcendente até, talvez. É o caso da mulher da Rua Amazonas, cujo corpo solto me transpôs a outra dimensão. Universalidade aí pode nascer.
É bonito lembrar, como uma crítica sincera, pela força da sinceridade, pode se perpetuar no tempo.
Servindo como luzeiro na trajetória de um ser que comete suas escrituras. Ora transcendentes, ora militantes.
Paulo Cesar Fernandes
03 05 2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário