Classe Especial.
O
vento assobia mexendo as folhagens das árvores da Rua Carvalho de Mendonça, e
eu, numa noite qualquer, me prego às gotas d'água, pendentes que estão num cabo
de força que cruza minha janela.
A
chuva forte não assusta, carrega em seu seio a beleza do novo, a atmosfera
renovada, o chão limpo, o alívio do ambiente descarregado, relaxado como o
corpo solto na cama, arfando de emoção, após um ato sexual pleno de amor.
E a
chuva vem, fria e fina ou forte e voluntariosa.
Tal
qual a vida com seus momentos.
Momentos
de silêncio, angústia, desamor, e momentos onde o próprio silêncio é elemento a
nos proporcionar maior sabor.
Chuvas,
tempestades, calmarias...
Quem
não se viu ante tais situações?
Mas,
quantos refletiram sobre o processo? Por que tudo isso ? Qual a destinação ?
Alguns
o fazem e acabam sendo taxativos: a vida é um mar de sofrimentos, apenas vêm a
dor.
Outros
há, que nem sequer refletem, passam pela vida incólumes, tem momentos de
dificuldades e até dor mesmo, mas se esgueiram por entre fantasias, quem sabe
até, para não se dar ao trabalho de pensar. E vivem, e seguem, e morrem, quase
como nasceram: vazios.
Mas,
há uma classe especial, que olha a vida com esperança. Não sorri da dor pois
esta lhe dói como a todos os outros, mas reflete, e se coloca ao lado dela,
sabendo-a amiga. Companheira sim a lhe ensinar novos caminhos, ajudando-o a
abandonar velhos projetos, ousando o novo, e o novo configurado na eleição do
fazer, o fazer sempre renovado, baseado numa meta clara. Tal meta pode ser
moral, financeira, intelectual, não importa. Verdadeiramente importante é que
esta esteja lá, presente, por inteiro, preenchendo todo o espaço.
Por
tais pessoas passarão chuvas, tempestades e calmarias, elas perceberão, mas não
se deixarão abalar, seguindo sua trajetória.
Pois,
acima de tudo, têm mais o que fazer.
Paulo
Cesar Fernandes
31/05/96
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