segunda-feira, 24 de junho de 2013

19960531 Classe


Classe Especial.


O vento assobia mexendo as folhagens das árvores da Rua Carvalho de Mendonça, e eu, numa noite qualquer, me prego às gotas d'água, pendentes que estão num cabo de força que cruza minha janela.

A chuva forte não assusta, carrega em seu seio a beleza do novo, a atmosfera renovada, o chão limpo, o alívio do ambiente descarregado, relaxado como o corpo solto na cama, arfando de emoção, após um ato sexual pleno de amor.

E a chuva vem, fria e fina ou forte e voluntariosa.

Tal qual a vida com seus momentos.

Momentos de silêncio, angústia, desamor, e momentos onde o próprio silêncio é elemento a nos proporcionar maior sabor.

Chuvas, tempestades, calmarias...

Quem não se viu ante tais situações?

Mas, quantos refletiram sobre o processo? Por que tudo isso ? Qual a destinação ?

Alguns o fazem e acabam sendo taxativos: a vida é um mar de sofrimentos, apenas vêm a dor.

Outros há, que nem sequer refletem, passam pela vida incólumes, tem momentos de dificuldades e até dor mesmo, mas se esgueiram por entre fantasias, quem sabe até, para não se dar ao trabalho de pensar. E vivem, e seguem, e morrem, quase como nasceram: vazios.

Mas, há uma classe especial, que olha a vida com esperança. Não sorri da dor pois esta lhe dói como a todos os outros, mas reflete, e se coloca ao lado dela, sabendo-a amiga. Companheira sim a lhe ensinar novos caminhos, ajudando-o a abandonar velhos projetos, ousando o novo, e o novo configurado na eleição do fazer, o fazer sempre renovado, baseado numa meta clara. Tal meta pode ser moral, financeira, intelectual, não importa. Verdadeiramente importante é que esta esteja lá, presente, por inteiro, preenchendo todo o espaço.

Por tais pessoas passarão chuvas, tempestades e calmarias, elas perceberão, mas não se deixarão abalar, seguindo sua trajetória.

Pois, acima de tudo, têm mais o que fazer.

 

Paulo Cesar Fernandes

31/05/96

Nenhum comentário:

Postar um comentário