Ticket please!
Eu vou pegar esse trem. Eu preciso pegar esse trem.
Sei. Adiante as fronteiras estarão fechadas para mim, todas as portas estarão fechadas para mim.
Este é um mundo branco e racista. E, mais de tudo, a cor de minha pele determina.
Dos meus antepassados trago essa marca de nascença, da qual muito me orgulho. Mas, apesar disso me tem trazido dor e mais dor; por não ser como eles, exatamente como eles querem as pessoas ao redor deles.
Meus avós pendurados em árvores, neste país racista nos obrigaram a fugir do sul, no rumo das terras de Chicago onde havia trabalho e segurança.
Sobrevivemos.
Mas agora. Uma vez mais me fazem inútil. Substituído por máquinas vindas pela modernização. Não mais emprego em Detroit (Michigan); e Chicago já não é a Meca de mais nada.
Assim preciso pegar esse trem. Mesmo sabendo: fronteiras estarão fechadas, e as portas não mais se abrem para mim e para minha geração. Tempo passou, e somos velhas peças a guardar tão somente lembranças.
Lembranças não nos alimentam os corpos.
_ Um ticket por favor. Para qualquer lugar. Já não caibo neste moderno tempo, neste moderno mundo.
Paulo Cesar Fernandes.
03/03/2016.
Nota:
Texto nascido com muita dor, ouvindo "Soul ballads" de David Clayton-Thomas.
Nesse texto se somam a dor dos negros dos EEUU, e a dor dos refugiados diversos, sem lugar na Europa Branca e Racista.
Por um mundo fraterno e acolhedor!
Merecemos isso, negros ou não.
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