RAÇA
_ Me dizes branco.
_ Apesar dos densos lábios; deste meu nariz achatado; desta ginga no corpo natural desde menino, e desenvolto nos jogos de Capoeira.
_ Com furor nos olhos me dizes branco.
_ Mas nunca entrastes em minha comunidade morro acima. A maconha por ti consumida em Ipanema e no Leblon te é entregue via "special delivery" por motoqueiros com roupas de grife, iguais às tuas, e muito melhores que as de todos nós em nossa comunidade.
_ Agora sou branco.
_ Mas ao passar por teus burguesitos amigos me sacaneam chamando negro porco e coisas piores.
_ Então agora eu sou branco. Agora, juntos, na porta da mesma Universidade Federal, com mesma pontuação para mesma vaga me chamas de branco.
_ Mas a vida toda até aqui, eu fui o filho da empregada, o "tição inútil", não é assim que no teu bairro me chamavam? O cara que nunca pode estar no mesmo campinho de futebol que voces da
"classe boa"; o suor do meu trabalho diferia em muito de todos voces, sempre limpos e perfumados.
_ Sou branco é?
_ Quase vinte anos de dor para agora, no Portal da Universidade ouvir imbecilidades?
_ Vamos ao teste de DNA!
_ Lutei para caramba para chegar aqui, dessa vaga não abro mão.
_ EU ENTRO NESSA UNIVERSIDADE! ATÉ MAIS VER!
Paulo Cesar Fernandes
10/05/2018.